“Machosfera”: como ‘Hitler da Bahia’ expõe rede de ódio contra mulheres

Data 25/04/2025 15:19:04 | Tóopico: Regionais


O soldado do Exército Luis Alexandre de Oliveira Lessa, que se autodenominava “Hitler da Bahia”. Foto: Reprodução

Mensagens enviadas por Luis Alexandre de Oliveira Lessa, um militar que se identificava como Hitler da Bahia em um grupo no Telegram dedicado a ataques a meninas, indicam como atua a rede de ódio conhecida como “machosfera” ou “manosfera”, voltada contra as mulheres. Com informações do UOL.

“Estava com saudades disso aqui. Mostrar para essas ‘ninfetinhas’ quem continua mandando”, escreveu Hitler da Bahia em uma das mensagens. Ele era o responsável por liderar um grupo de adolescentes no Telegram, onde se praticava estupro virtual e se incentivavam a automutilação, a pedofilia e a violência gratuita.

Em destaque, mensagem enviada por Lessa, segundo o MP-SP
Mensagem enviada por Lessa dedicado a ataques a meninas no Telegram. Foto: Reprodução

Lessa foi preso em novembro de 2024, em Salvador, suspeito de comandar a célula virtual “Panela Country”. As chamadas “panelas” são grupos fechados formados por jovens em redes como Telegram e Discord. Seus membros, conhecidos como “paneleiros”, compartilham conteúdos misóginos e incentivam práticas violentas.

A “machosfera”

A “machosfera” reúne diferentes tipos de grupos com um objetivo em comum: disseminar o machismo. Segundo o Ministério Público de São Paulo, nesses espaços o ódio contra mulheres é tratado como diversão. A misoginia pode desencadear ataques mais radicais, como o estupro virtual e o incentivo à automutilação.

A pesquisadora Bruna Camilo, doutoranda em sociologia na PUC-MG, explica que, no Brasil, embora existam perfis variados, o traço comum é a misoginia. Entre 2021 e 2023, ela monitorou cinco desses grupos no Telegram. Um dos perfis mais recorrentes é o dos incels — celibatários involuntários que culpam as mulheres por sua frustração amorosa.

Eles distorcem a teoria do Princípio de Pareto, usada originalmente para descrever a concentração de renda, e afirmam que 80% das mulheres só se interessam por 20% dos homens. As que os rejeitam são chamadas de Stacy, tidas como interesseiras e promíscuas.

Já os homens desejados são os Chad, vistos como bonitos e populares. Para o psicanalista Christian Dunker, esse sentimento de exclusão, que antes se resolvia no convívio social, agora é compensado por grupos virtuais que alimentam o ódio.

A metáfora das pílulas

Entre os grupos da manosfera, há também os chamados “red pills”, geralmente homens mais velhos que se dizem superiores às mulheres e afirmam dominá-las sexualmente. Em contraste, os incels são jovens, muitos sem qualquer experiência amorosa.

“Eles sofrem bullying, são isolados e encontram na internet um escape. Em plataformas como o Discord, fazem amizades e são atraídos por discursos de ódio”, afirma Bruna Camilo.

Outro termo usado nesses fóruns é o “blue pill”, associado a homens que ainda vivem em relacionamentos e desconhecem o que seria a “verdade” sobre as mulheres. Os “black pills” representam o grupo mais radicalizado: acreditam que nunca serão desejados e aceitam a própria derrota.

A metáfora das pílulas vem do filme “Matrix” (1999), onde o comprimido azul simboliza a ilusão e o vermelho, a verdade.

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Cena das pílulas no filme “Matrix” (1999). Foto: Reprodução




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