Política : DEU CERTO
Enviado por alexandre em 07/05/2021 09:26:55

O Nordeste que deu certo um pulo maior do que o Japão
No primeiro capítulo do livro O Nordeste que deu certo, de minha autoria, lançado há 28 anos, com reprodução exclusiva neste blog, o leitor vai se separar com números e estudos que apontam um crescimento espetacular e linear dos nove Estados da Região. Números oficiais do Banco do Nordeste e de outras instituições sérias apontando que o Nordeste cresceu e vem crescendo num ritmo médio de investimentos mais do que o próprio Brasil e potências mundiais, como o Japão. Isso quebra mitos e abre uma discussão ainda bastante atual: O Nordeste é solução, não é problema. Ao final do texto original, dados atuais em comparação ao momento em que o livro foi escrito. Confira abaixo .

Crescimento maior do que o Japão 

Capítulo 1

Embora a caminho do século XXI o Nordeste continue apresentando indicadores sociais assustadores – de cada 100 brasileiros miseráveis, 50 são nordestinos (esse pedaço de chão abriga, ainda, os piores índices do país em analfabetismo, saneamento básico, mortalidade infantil e trabalhadores com deficiência calórica) – as estatísticas demonstram que a Região cresceu e modernizou-se. E muito.

Estudos de insuspeitos organismos oficiais do exterior, como o Banco Mundial, revelam, por exemplo, que de 1965 a 1985 a economia nordestina teve um crescimento médio maior que a do Japão, de 6,3% contra 5,5%. Nesse período, apenas a Coréia do Sul conseguiu uma taxa de crescimento equivalente à do Nordeste. 

De 1960 a 1988, o Nordeste foi a Região que mais cresceu no País. Cresceu mais que o próprio Brasil, em geral perto de 10% a mais, suplantando a média nacional no aumento da renda per capital e do PIB. Nos últimos 10 anos, a balança comercial nordestina acumulou superávit de US$ 15 bilhões.

Os números estão num documento de 2,5 mil páginas intitulado “Uma estratégia para acelerar o desenvolvimento do Nordeste”, feito em 90, por encomenda do BNB, com base no qual o banco está traçando sua linha de investimentos para a Região. Em sua elaboração trabalharam 50 especialistas, sob a coordenação do economista pernambucano Gustavo Maia Gomes. 

 “O Nordeste tem grande potencial. A questão é que não se resolve em 30 anos uma estagnação de quatro séculos”, diz Gustavo Maia Gomes. Em 60, a renda per capita nordestina era de US$ 301. Em 89, atingiu US$ 1.025, num crescimento de 441%. Segundo o estudo coordenado por Maia Gomes, a média nacional, no período, aumentou 37%. 

"Quando o Brasil cresce, o Nordeste cresce em ritmo mais acelerado. Quando o Brasil entra em crise, o Nordeste também, em velocidade maior que a do País”, explica o economista. Os indicadores do crescimento nordestino não deixam margem a dúvidas. Há 20 anos, a maioria dos 44 milhões de nordestinos residia no campo, em casebres de barro e madeira. Hoje, 56 em cada 100 habitantes moram nas cidades, onde a paisagem está decorada por imponentes aranha-céus e shoppings centers gigantescos. 

É nordestino o maior grupo privado brasileiro pelo critério de faturamento, a holding Odebrecht, de Salvador, com um caixa que movimenta US$ 2,6 bilhões. Também é nordestino o segundo maior produtor de trigo do País, o grupo cearense J. Macedo, de onde sai a farinha de um em cada oito pães que os brasileiros consomem. Já o Shopping Center Recife recebe a visita de 1,8 milhão de clientes por mês e está na capital pernambucana a sede do Bompreço, a rede que mais cresceu no País nos últimos 15 anos, estando entre as 50 maiores do Brasil em faturamento. 

Contraste

Desvirtuado pela exploração da “indústria da seca”, o Nordeste ainda não conseguiu superar a ideia de que a Região é um sorvedouro de recursos da União. Literalmente, trata-se de uma meia-verdade. Segundo estudos mais recentes, tanto da Sudene, como do Banco Mundial e do BNB, o Governo Federal injetou R$ 19 bilhões na Região, entre 1962 e 1988, dos quais US$ 8 bilhões na Sudene. Examinando-se essa bolada com um olho mais crítico, no entanto, é possível chegar a algumas conclusões. O superintendente-adjunto da Sudene, Eliezer Menezes, fez as comparações. Uma conta de R$ 19 bilhões, segundo ele, pode ser alta em termos absolutos, mas é diminuta quando comparada com o número de pessoas que vivem na Região. Ou com os escândalos financeiros que o País rotineiramente assiste.

 “Existe até um problema psicológico quando se fala em verbas para o Nordeste”, diz o economista Gustavo Maia Gomes. Para ele, os políticos gostam de exagerar a miséria para obter mais recursos, e muitas pessoas acabam encarando qualquer investimento como esmola. “A verdade – acrescenta ele – é que esse dinheiro, se fosse esmola, seria mesmo muita coisa. Como investimento, porém, não é nada demais”.

Há, no entanto, um outro lado desconhecido. De dez das maiores empresas privadas do Nordeste, sete têm sua origem na atividade de empresários locais. É nordestino de Sergipe, por exemplo, o empresário Mamede Paes Mendonça, dono da quarta maior rede de supermercados do País, com um faturamento de mais de R$ 600 milhões por ano. Paes Mendonça montou uma cadeia com mais de 100 lojas em cinco Estados, onde gera emprego para 19 mil pessoas e vende 31 mil produtos diferentes. 

Já o fazendeiro Geraldo Rola, de Mossoró, a 280 quilômetros de Natal, bate recordes de produtividade em projetos de fruticultura irrigados. Só de melão são 36 mil toneladas a cada safra. Em 1989, a fazenda, que produz ainda maracujá, melancia, limão e caju, proporcionou um faturamento de US$ 30 milhões ao empresário. E ele não tem papas na língua: “Nosso destino é ser uma Califórnia brasileira”, acredita.

Com 253 lojas que faturaram 10 milhões de dólares em quatro meses, o Shopping Center Recife é o segundo maior do País e atraiu grandes comerciantes da Região. Estima-se que, todos os dias, 60 mil pessoas vão ao Shopping fazer compras. Isso significa que, a cada 30 dias, mais da metade de todos os moradores da Região Metropolitana do Recife passam diante de suas lojas.

Uma recente pesquisa feita pelos próprios comerciantes sobre a freguesia revela um dado atraente: 90% dos clientes que frequentam o shopping têm pelo menos um automóvel.

Obstáculos

Mesmo tendo sido a Região que ficou à margem da recessão dos anos 80, o Nordeste coleciona uma variedade de mitos que precisam ser passados a limpo, sobretudo agora diante de estudos sérios. Um deles, o mito pessimista, apregoa que o Nordeste ficou parado no tempo – como parado no tempo, se cresceu mais que o próprio Brasil? Outro mito considera que a Região é a que mais recebe subsídios e investimentos do Governo Federal. O fato é que o Nordeste recebe 16% de incentivos e subsídios distribuídos no país, e a Região Sudeste – de São Paulo, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais – fica com 36%, mais que o dobro. 

Um terceiro mito, esse esquerdista, diz que o eleitorado nordestino é de “cabresto”, facilmente manipulado por caciques políticos de direita. O fato:é nas eleições presidenciais de 1989, o candidato do PT, Luís Inácio Lula da Silva, obteve o primeiro lugar em oito das nove capitais do Nordeste, perdendo apenas em Maceió.

Um quarto mito, o agrário, diz que a vocação natural do Nordeste é a agricultura. Na verdade, a agricultura representa apenas 13% do PIB da Região, logo abaixo da indústria, com 27%, e do setor de serviços, 59%. Uma das mudanças mais notáveis do perfil industrial do Nordeste se deu a partir da instalação do Polo Petroquímico de Camaçari, na Bahia, onde se instalaram, ao longo dos últimos 13 anos, as chaminés de aço de 36 empresas num investimento de US$ 6 bilhões. É responsável pela produção de metade das matérias-primeiras de todos os artefatos de plásticos do País, e das mãos dos seus 27 mil trabalhadores saem produtos que geraram, só em 89, um faturamento de US$ 4,2 bilhões, equivalente a 1,2% do PIB do Brasil.

“O Nordeste avança a olhos vistos. Só não vê quem não quer”, diz o superintendente da Sudene, Cássio Cunha Lima. Para ele, a discussão do crescimento do Nordeste está muito mal colocada, notadamente quando se questiona a ação a Sudene. “A economia nordestina foi alavancada depois da criação da Sudene, em 1959”, diz Cássio, acrescentando que se criou um mito perverso quanto à participação do órgão nesse processo.

O economista Gustavo Maia Gomes concorda com ele. “Desde 1980 as coisas não andam bem, mas elas andam pior no resto do País do que no Nordeste. Ajudado pela Sudene, o Nordeste cresceu também em termos sociais e a pobreza se reduziu. Este crescimento deveu muito aos programas oficiais de apoio ao investimento”, atesta Maia, para acrescentar: “Isso não equivale a dizer que não houve desperdício e ineficiência. Muito mais poderia ter sido feito, particularmente nos anos mais recentes, quando os órgãos de desenvolvimento regional foram contaminados pela nomeação de dirigentes medíocres, escolhidos por critérios da mais mesquinha conveniência política”.

O progresso do Nordeste é real, mas não serviu para diminuir as desigualdades sociais. Existe um lado desse pedaço de chão brasileiro que permanece sem apresentar avanços. A Região bate recordes trágicos em matéria de mortalidade infantil (de cada mil crianças que nascem 100 morrem antes de um ano) e em outras mazelas sociais. “É verdade que ocorreu um progresso no cotidiano da maioria das famílias, mesmo as mais humildes, mas também é verdade que esse avanço social pode ser considerado pequeno em comparação com o salto econômico”, atesta a economista Tânia Bacelar, ex-secretária de Planejamento do Governo Arraes, e uma das estudiosas sobre o assunto.

“Seria preciso ser ingênuo para acreditar que o simples crescimento econômico fosse trazer benefícios automáticos para todos”, explica o economista Francisco de Oliveira, outro estudioso da Região. As desigualdades, segundo ele, não se modificam apenas por causa da economia, mas também por um processo mais lento, que é o avanço social.

“Que ninguém se engane: a falência do Nordeste é a falência do Brasil”, adverte o empresário paulista Emerson Kapaz, presidente do Pensamento Nacional das Bases Empresariais, que recentemente se engajou ao Movimento Pró-Nordeste, em busca de uma solução definitiva para a região.

Para o governador do Ceará, Ciro Gomes, o Nordeste deve ser alvo de um programa desenvolvimentista diferente das políticas que até hoje foram destinadas à Região.

“A fome e a inflação são grandes problemas que o país deve combater sem tréguas. Mas o desenvolvimento do Nordeste requer a mesma prioridade dirigida a esses temas, até porque a miséria nordestina é a maior do país e é também um dos componentes da inflação”, argumenta ele. A última vez que um longo período de seca resultou em ação de longo prazo para o Nordeste foi em 1959, quando surgiu a Sudene. A criação do Banco do Nordeste (BNB), no início dos anos 50; da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), em 42, e Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), no começo do século, aconteceram depois de uma grande seca. 

Sudene

Criada há 34 anos para ajudar o Nordeste a diminuir as disparidades com relação ao Centro-Sul do País, a Sudene é, até hoje, um instrumento combatido e gerador de muitas polêmicas. Há quem se refira ao órgão, por exemplo, como um sorvedouro dos recursos destinados à Região, ou até mesmo uma fonte inesgotável da “indústria da seca”, à medida em que faz a intermediação do dinheiro do Governo Federal para projetos via Finor, ou simplesmente torrando as verbas em programas de discutível resultado para o semiárido. 

“A Sudene, hoje, é um grande abacaxi”, diz o governador do Ceará, Ciro Gomes, para quem a instituição está agonizando, devorada por um vazio como nunca houve em sua história e sob bombardeio cerrado de técnicos. “Está numa fase muito ruim”, arremata o governador Joaquim Francisco. O abacaxi tem 300 salas distribuídas por 13 andares, do qual só o último – onde fica a Superintendência – funciona completamente. 

O número de funcionários caiu de 2.500 (há dois anos) para 1.250, dos quais somente 350 são de nível superior. As verbas tornaram-se escassas na vida da Sudene e praticamente não há mais dinheiro para aprovar novos projetos. Em 92 foram aprovados apenas 13 projetos, quando no passado ela já chegou a aprovar até 60 em apenas um mês. 

Antes de chegar à decadência de hoje, a Sudene conseguiu atingir alguns objetivos. Quem observa os índices de miséria do Nordeste é levado a pensar que, durante 34 anos, o dinheiro que o Governo Federal investiu na Região, via incentivos fiscais pela Sudene, foi desperdiçado.

Primeiro, não foi tanto dinheiro assim, conforme atestam os documentos da entidade: exatos US$ 8 bilhões. “Em apenas quatro anos, a Usiminas consumiu US$ 6 bilhões. Itaipu, no mesmo período, recebeu US$ 18 bilhões. E as usinas nucelares, que sequer entraram em funcionamento, levaram US$ 12 bilhões. As indústrias surgidas com o apoio da Sudene criaram cerca de 3 milhões de empregos diretor e indiretos, e são responsáveis por 70% dos impostos industriais arrecadados na Região. Até hoje, foram aprovados 2.800 projetos, sendo que apenas 12% fracassaram, o que está em conformidade com os índices nacionais”, enumera o especialista em incentivos fiscais, Geraldo Wanderley.

Com o apoio da Sudene, o Nordeste passou por uma significativa transformação no seu perfil industrial. Na década de 60, os setores mais tradicionais da economia (têxteis, alimentícios, entre outros), representavam 70% da indústria nordestina. Hoje esse percentual é de 46%. Os setores mais avançados – como metalurgia e petroquímica – tiveram a participação aumentada de 46% para 54%. 

28 ANOS DEPOIS

 - PIB nominal do Nordeste: R$ 595,3 bilhões (US$ 148 bilhões). Em 1993, o PIB do Nordeste era de US$ 65,6 bilhões (R$ 260 bilhões).

 - PIB nominal do Brasil: R$ 5,521 trilhões (US$ 1,3 trilhão). Em 1993, o PIB nacional era de US$ 450 bilhões (R$ 1,8 trilhão). (Cotação do dólar de fevereiro de 2016 em torno de R$ 4,00).

- O Nordeste continua crescendo mais que o Japão, como ocorreu entre os anos 60 e 90 , quando a região atingiu média de crescimento de 6,3%, contra 5,5% do país asiático. Enquanto no último trimestre de 2015 o PIB japonês caiu 1,4%, a previsão era de que o PIB do Nordeste continuasse em alta, como ocorreu em 2014, quando cresceu 3,7%. (O resultado do PIB nordestino do último trimestre de 2015 ainda não tinha sido divulgado).

- PIB nominal per capita nordestino é de R$ 11.044,59 (US$ 2.750,00) – cotação do dólar: R$ 4,00. Em 1960 era de US$ 301. Em 1989, US$ 1.025. Em 1993, US$ 1.494.

- Um dos destaques na Região Nordeste é o Grupo Bompreço, que foi comandado pelo empresário sergipano João Carlos Paes Mendonça desde 1959. Em 1993, faturava US$ 600 milhões por ano. Em 1999, registrou vendas de R$ 2,7 bilhões. Em maio de 2000, foi totalmente vendido para o grupo holandês Royal Ahold. Em março de 2004, o Bompreço foi adquirido pelo Wal-Mart por US$ 300 milhões.

- O Recife e a Região Metropolitana, que só tinham o Shopping Center Recife (Boa Viagem) até o início da década de 90, receberam investimentos pesados no setor. Hoje, além do pioneiro Shopping Recife, a RMR conta com mais sete shoppings: Costa Dourada, no Cabo (investimento inicial de R$ 25 milhões); Guararapes, em Jaboatão (só na última expansão, em 2013, foram investidos R$ 25 milhões); RioMar, no Pina (investimento inicial de R$ 600 milhões); Tacaruna, em Santo Amaro (só na última expansão, em 2014, foram investidos R$ 100 milhões); Plaza, em Casa Forte (investimento inicial de R$ 15 milhões e outros R$ 5 milhões quando da implantação das salas de cinema); Boa Vista, no Centro (investimento inicial de R$ 15 milhões e outros R$ 100 milhões na 3ª etapa); e North Way, em Paulista (investimento inicial de R$ 600 milhões). E mais dois em obras: Camará, em Camaragibe (investimento inicial de R$ 225 milhões); e Patteo, em Olinda (investimento inicial de R$ 150 milhões). 

Para enfrentar a concorrência, o Shopping Recife investiu R$ 90 milhões na sua quinta etapa (inaugurada em 2012). 

- A Sudene, que nos anos 90 já recebia críticas e tinha sua importância reduzida, ficou praticamente abandonada nos últimos anos. O gigantesco prédio, que já estava ocupado por outros órgãos, foi interditado no segundo semestre de 2015, obrigando até a Justiça do Trabalho a se mudar para Jaboatão. 

- O Nordeste obteve avanços no campo da saúde. Em relação à mortalidade infantil, nos anos 90, de cada mil crianças, aproximadamente 100 morriam antes de completar um ano de idade. Segundo o Censo de 2010 do IBGE, agora são 23 mortes em cada mil crianças abaixo de um ano. Uma redução significativa de 74,1%. 

- Entre os principais investimentos em Pernambuco, nos últimos anos, estão a Refinaria Abreu e Lima, em Suape (investimento inicial de R$ 2,5 bilhões e custo final de R$ 20 bilhões); o Estaleiro Atlântico Sul, também em Suape (investimento de R$ 1,8 bilhão); e a fábrica da Jeep, em Goiana (investimento de R$ 7 bilhões). 

- A Região Nordeste recebe, hoje, dois investimentos gigantescos. O primeiro, a Transposição do Rio São Francisco, com muitos atrasos e sobrepreços (o custo passou de R$ 4,5 bilhões para R$ 8,2 bilhões). A entrega da obra foi adiada para este ano. O segundo investimento de grande porte é a Ferrovia Transnordestina. A Obra sofreu nova revisão de preços e o custo saltou de R$ 7,5 bilhões para R$ 11,2 bilhões. O prazo de entrega foi adiado para julho de 2018, mas está parada em Pernambuco, com obras apenas no Ceará.

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