Brasil só terá resultado como o de Israel se vacinar idosos, diz especialista

Data 21/02/2021 13:11:30 | Tóopico: Mais Notícias


Anna Satie, da CNN em São Paulo

Profissional de saúde aplica vacina em idoso no Rio de Janeiro
Profissional de saúde aplica vacina em idoso no Rio de Janeiro
Foto: Daniel Resende/Enquadrar/Estadão Conteúdo

Os países que têm o maior índice de vacinação contra Covid-19 a cada 100 mil habitantes já veem os efeitos da imunização.

Em Israel, onde 47% da população já recebeu ao menos a primeira dose da vacina — o maior índice em todo o mundo —, os casos sintomáticos da doença causada pelo novo coronavírus caíram em 94%.

"Isso mostra, inequivocamente, que a vacina contra o coronavírus da Pfizer é extremamente efetiva, na vida real, uma semana depois da segunda dose, assim como mostraram os estudos clínicos", avalia Ran Balicer, presidente de inovações da Clalit, a maior provedora de serviços de saúde de Israel.

No Reino Unido, o primeiro país ocidental a iniciar a vacinação, onde mais de 16 milhões de pessoas já receberam a primeira dose, o número de novos casos de Covid-19 foi de 55 mil em 15 de janeiro para 9.700 em 15 de fevereiro.

O sucesso nesses países provoca o questionamento: quando o Brasil começará a ver efeitos semelhantes?

Para Carla Domingues, epidemiologista e ex-coordenadora do Plano Nacional de Imunização, só será possível observar resultados quando a população idosa for vacinada.

"O Brasil poderá ter o mesmo efeito se vacinar os idosos, como Israel e Reino Unido estão fazendo. Depois de 30 dias, veríamos uma diminuição importante da carga da doença", disse.

Ela explica que, neste primeiro momento – e com uma quantidade pequena de doses disponíveis –, a vacinação pretende reduzir o número de internações e casos graves, não a transmissão — o que requereria uma grande parte da população vacinada.

"Para diminuir o número de casos graves e óbitos, precisamos vacinar os idosos e pessoas com comorbidades", disse. "Nosso objetivo tem que ser atingir cobertura suficiente para evitar que as pessoas adoeçam".

De acordo com o Plano de Operacionalização da Vacinação Contra a Covid-19 do Ministério da Saúde, o grupo de pessoas com condições que podem agravar a Covid-19 soma 12,6 milhões de indivíduos. Mais a população idosa, estimada em 28 milhões pelo IBGE, o total seria de 40,6 milhões de pessoas.

Até o momento, 5,4 milhões de brasileiros receberam a primeira dose da vacina, de acordo com levantamento da CNN junto às secretarias estaduais. Esse número também inclui profissionais de saúde, indígenas, quilombolas e pessoas institucionalizadas, que fazem parte da primeira fase da vacinação.

Redução da transmissão

O microbiologista da USP (Universidade de São Paulo) Luiz Gustavo de Almeida afirma que, para observar uma queda na transmissão, seria necessário vacinar cerca de 75 a 80% da população. "Esse é o mínimo, a gente sempre mira vacinar quanto mais pessoas for possível", disse.

Ele explica que se a eficácia da vacina for maior, o número ideal pode cair. "Quanto maior a eficácia da vacina, menor o número necessário de pessoas vacinadas para começar a diminuir os casos. No caso da vacina da Pfizer, que tem 95% de eficácia, essa porcentagem pode ser de cerca de 60 a 65%", afirmou.

A estimativa, no entanto, não é unânime. Em entrevista à CNN, Carla Domingues destaca que ainda não se sabe se as porcentagens usadas para outras doenças podem se aplicar à Covid-19.

"No caso da vacina contra HPV, estima-se que se 70% da população entre 9 e 12 anos for vacinada, você obtém a imunidade [de rebanho]. Já no caso do sarampo, mesmo com a vacina tendo 95% de eficácia, é preciso uma cobertura vacinal de 95% para chegar à imunidade”, afirma.

(*Com informações de Murillo Ferrari, da CNN em São Paulo, e da Reuters)




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