O governo definiu nesta sexta-feira (31) que André Brandão será o novo presidente do Banco do Brasil. Brandão é o atual presidente do HSBC.
O novo presidente do BB tem um perfil similar ao do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto -- tem boa circulação no mercado financeiro. Essa era a principal preocupação da equipe econômica do governo de Jair Bolsonaro (sem partido).
O pedido de renúncia de Novaes dizia que "a companhia precisa de renovação para enfrentar os momentos futuros de muitas inovações no sistema bancário."
Uma de suas principais missões ao assumir o Banco do Brasil era a privatização total da instituição financeira. Em diversas entrevistas, Novaes afirmou que era a favor da venda, assim como o ministro da Economia, Guedes. Porém, ele admitia que era difícil por ser uma decisão política e que teria de ser aceita pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo Congresso.
"Não me adaptei à cultura de privilégios, compadrio e corrupção de Brasília", disse Novaes, ressaltando que referia-se ao ambiente da capital federal e não a algum acontecimento específico.
André Brandão, novo presidente do Banco do Brasil, durante depoimento à CPI do HSBC, em 2015
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil Escolhido pelo governo Bolsonaro para ser o novo presidente do Banco do Brasil, André Brandão está alinhado ao perfil que o ministro da Economia, Paulo Guedes, estava buscando para o cargo.
Guedes queria alguém de fora do BB e da vida pública de forma geral, que chegasse ao banco com boa circulação no mercado financeiro privado. A inspiração é o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que era um alto executivo do banco Santander antes de assumir o cargo.
André Brandão passou as últimas duas décadas atuando no banco britânico HSBC, sendo hoje o responsável pela instituição no Brasil. Curiosamente, quando assumiu o comando do HSBC Brasil em 2012, Brandão substituiu Conrado Engel -- que também chegou a ser cotado para o comando do Banco do Brasil, mas não emplacou.
Antes do HSBC, o novo presidente do BB passou 11 anos no Citibank.
Swissleaks
Em 2015, o executivo foi chamado a comparecer a uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) no Senado Federal que investigava contas brasileiras no braço suíço da instituição, escândalo que ficou conhecido à época como "Swissleaks".
Na época, Brandão afirmou aos senadores não ter nenhum conhecimento sobre as contas mantidas por cerca de oito mil brasileiros na Suíça e manifestou reprovação à conduta de Hervé Falciani, ex-funcionário do HSBC no país europeu e delator do escândalo.
O executivo também disse que após serem levantadas suspeitas de que as contas no país poderiam ser usadas para fins ilícitos, como lavagem de dinheiro e evasão de divisas, o HSBC reforçou as políticas de compliance.
O relatório do então senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), que era o relator da CPI, não propunha o indiciamento de ninguém no Brasil. Ferraço apenas intimava a Polícia Federal, a Procuradoria-Geral da República (PGR), a Receita Federal e o Banco Central.
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Sucessão
Apesar do prestígio com o ministro Paulo Guedes, Brandão chega a uma instituição que costuma ser vista como pouco receptiva a presidentes de fora dos seus quadros. Uma das reclamações do seu antecessor, Rubem Novaes, era justamente essa resistência por ser o primeiro presidente desde 2005 que não é servidor de carreira do banco.
Ao renunciar ao cargo, Novaes, de 75 anos, disse ao ministro Paulo Guedes estar cansado da rotina do Banco do Brasil e com vontade de voltar ao Rio de Janeiro, onde moram os netos. Ele também se desgastou por críticas que fez ao Tribunal de Contas da União (TCU) na reunião ministerial que teve o conteúdo divulgado por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).