Diferentes tipos de coronavírus, que causam resfriados brandos, podem ter participação na imunidade contra a Covid-19
Foto: Pixabay O sistema imunológico de algumas pessoas que não foram expostas ao novo coronavírus podem ter familiaridade com o patógeno -- fato que possivelmente ajuda a reduzir a severidade da Covid-19 no organismo que contraia a doença, um novo estudo sugere.
Publicado pela revista Nature na quarta-feira (29), o estudo encontrou, entre 68 amostras de adultos saudáveis na Alemanha que não haviam sido expostos ao coronavírus, que 35% deles possuíam células T no sangue que eram reativas ao vírus.
As células T, também conhecidas como linfócitos T, são uma parte do sistema imunológico que ajuda o organismo a se defender de infecções. A reatividade delas sugere que o sistema provavelmente teve uma experiência prévia combatendo alguma infecção similar e pode usar a memória para reagir à uma nova ocorrência.
Então como o sistema imune dos pesquisados possui células T reativas se eles nunca tiveram Covid-19? Eles “provavelmente as adquiriram em infecções prévias de outros tipos endêmicos de coronavírus”, escrevem os pesquisadores, de diversos institutos na Alemanha e no Reino Unido, no novo estudo. Usar a memória dessas células T de outras ocorrências similares para responder a uma nova infecção é um processo chamado “reatividade cruzada”.
O papel das células T
A nova pesquisa analisou amostras de sangue de 18 pacientes infectados com a Covid-19, entre as idades de 21 a 81 anos, e doadores saudáveis, todos na Alemanha. O estudo descobriu que células T reativas ao coronavírus foram detectadas em 83% dos pacientes doentes.
Mesmo que os pesquisadores tenham encontrado células T pré-existentes com reatividade cruzada nos doadores saudáveis, eles também mencionam no estudo que o impacto possível das células na progressão de um adoecimento por Covid-19 ainda é desconhecido.
“As descobertas da pesquisa instigam o prosseguimento dos estudos”, afirmou o dr. Amesh Adalja, docente no Centro de Segurança na Saúde da Universidade Johns Hopkins, que não está envolvido no novo estudo.
“Nós sabemos, por exemplo, que crianças e jovens adultos estão relativamente mais protegidos de consequências severas dessa doença, e eu acho que uma hipótese relevante é de que as células T pré-existentes podem ser muito mais numerosas ou mais ativas em pessoas jovens”, diz Adalja.
“Se pudéssemos comparar versões mais severas e mais leves da doença, observar as células T nesses indivíduos e dizer ‘Pessoas com formas mais graves do coronavírus são menos prováveis de possuir linfócitos T reativos versus pessoas que desenvolvem versões mais leves talvez tenham mais?’, eu acredito que essa é uma hipótese biologicamente plausível”, diz. “É claro também que a presença dessas células não previne pessoas de serem infectadas, mas elas podem modular a severidade da infecção? Esse parece ser o caso.”
Até então, durante a pandemia do coronavírus, o foco tem sido em anticorpos contra a Covid-19 e o papel que desempenham construindo imunidade contra a doença.
Mas o dr. William Schaffner, professor de medicina preventiva e doenças infecciosas na Escola de Medicina da Universidade de Vanderbilt em Nashville, que não está envolvido no novo estudo, diz que as células T não podem ser esquecidas.
“Aqui está uma pesquisa que sugere que pode realmente existir uma reatividade cruzada nos coronavírus que causam resfriados em seres humanos e no vírus da Covid, que está causando tanto estrago. Isso é muito intrigante, pois nós pensávamos que na perspectiva dos anticorpos não havia cruzamentos relevantes”, Schaffner declarou.
“Não é totalmente surpreendente, porque são todos membros de uma mesma família. É como se fossem primos”, ele disse. “Agora temos que observar se há algum impacto disso na prática... Isso torna mais ou menos provável que a pessoa que é infectada pela Covid realmente desenvolva a doença? E tem algum impacto no desenvolvimento de uma vacina?”
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Encontro com um coronavírus
Adalja disse também que não estava surpreso por encontrar reatividade cruzada nas células T em participantes do estudo que não foram expostas ao recente coronavírus, nomeado SARS-CoV-2.
“O SARS-CoV-2 é o sétimo coronavírus que infecta humanos descoberto, e quatro desses são o que chamamos de coronavírus ‘coletivamente adquiridos’. Juntos, eles são responsáveis por 25% dos resfriados comuns”, Adalja informou. “Quase todas as pessoas no mundo tiveram algum encontro com um coronavírus, e sendo eles parte da mesma família, alguma reatividade cruzada é desenvolvida”.
O novo estudo da Nature não é o único a sugerir um certo nível de imunidade pré-existente entre algumas pessoas ao novo coronavírus.
Alessandro Sette e Shane Crotty, ambos da Universidade da Califórnia em San Diego, escreveram em um comentário publicado na revista no começo desse mês que "entre 20 e 50% dos participantes do estudo não infectados previamente demonstram significativa reatividade aos antígenos peptídicos da SARS-CoV-2”, baseados em uma outra pesquisa - mas destacam que a fonte e a relevância clínica da reatividade permanecem desconhecidas.
Sette e Crotty escreveram que “está estabelecido que a imunidade pré-existente ao SARS-CoV-2 existe em algum grau na população. É hipotético, e ainda precisa ser provado, que isso se deve à imunidade a coronavírus mais comuns, que causam resfriados.”
(Traduzido do inglês, clique aqui para ler o texto original)
Japão compra 120 milhões de doses da potencial vacina contra Covid-19 da Pfizer
Giovanna Bronze, da CNN, em São Paulo
Japoneses caminham no cruzamento de Shibuya, em Tóquio
Foto: Reprodução - 26.mai.2020 / Reuters A Pfizer e a BioNTech anunciaram, nesta sexta-feira (31), que fizeram um acordo com o Ministério da Saúde do Japão para fornecer ao país 120 milhões de doses da vacina BNT162 mRNA-based, em desenvolvimento para combater o coronavírus.
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A entrega está planejada para o primeiro semestre de 2021. Os detalhes financeiros do acordo não foram divulgados, mas os termos são baseados na entrega e no volume das doses.
Albert Bourla, CEO da Pfizer, disse, em comunicado da imprensa, que as empresas estão “extremamente honradas em trabalhar com o governo japonês e em conseguir os recursos para seguir no objetivo global de levar doses de uma vacina potencial para a Covid-19 para os japoneses o mais rápido possível”. No momento, as vacinas potenciais ainda estão em fase de testes e não estão autorizadas a ser distribuídas em qualquer lugar do mundo.
Vacina da Johnson & Johnson pode ser disponibilizada no início de 2021
Também na corrida pela vacina contra a Covid-19, a Johnson & Johnson pretende iniciar os testes da fase 3 em setembro. Caso os resultados sejam positivos, a intenção é disponibilizar a substância para uso emergencial já no início de 2021.
A afirmação foi feita à CNN pelo vice-presidente de Assuntos Médicos da Janssen (farmacêutica da Johnson & Johnson) para a América Latina, Josue Bacaltchuk, em entrevista nesta sexta-feira (31).
"Em setembro, a gente inicia os estudos de fase 3, que são os maiores. Se forem positivos, permitiriam que a gente possa ter, para o início do ano que vem, a vacina para uso emergencial", disse.
"Para produzir para o ano que vem, estamos nos comprometendo a mais de 1 bilhão de doses para tentar colaborar para a redução dessa pandemia de maneira emergencial", afirmou.
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Ele assegurou que os estudos iniciais com o imunizante mostraram "resposta imunologia robusta e bom potencial de segurança".
Primeiros resultados
Nos EUA, os testes de segurança com a vacina da Johnson & Johnson foram iniciados na semana passada em humanos após a divulgação de um estudo dos efeitos em macacos.
Para os animais, o imunizante ofereceu uma proteção forte com uma única dose, de acordo com o estudo publicado pela revista científica Nature.
Quando expostos ao vírus, todos os seis animais que receberam a candidata a vacina ficaram completamente protegidos de doenças pulmonares e cinco deles, de infecções.
"Isso nos faz acreditar que podemos testar uma vacina de dose única nesta epidemia e aprender se ela tem um efeito protetor em humanos", disse o médico Paul Stoffels, principal autoridade científica da J&J.
A farmacêutica disse que iniciou testes de estágio inicial em humanos nos EUA e na Bélgica e que testará sua candidata a vacina em mais de 1.000 adultos saudáveis com idades entre 18 e 55 anos, além de adultos de 65 anos ou mais.
(Edição: Leandro Nomura)