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A caminho de superar as 500 mortes, o Brasil viverá nos próximos dias um choque de realidade com a explosão de casos de coronavírus, o colapso da rede pública e privada de saúde e a chegada definitiva do drama que devastou diferentes países pelo mundo. O alerta foi dado há dias pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
O governo de Jair Bolsonaro, no entanto, perde minutos preciosos sabotando a tropa dentro do próprio quartel. Não bastasse o próprio presidente dar demonstrações públicas de ciúmes pela exposição do seu ministro da Saúde, agora foi o ministro da Educação, Abraham Weintraub, que apareceu para dar sua contribuição na crise.
Seguindo os passos de Eduardo Bolsonaro, que abriu a crise diplomática com os chineses, Abraham Weintraub atacou os chineses nas redes sociais. O roteiro repete argumentos adotados pelos Estados Unidos no início da crise, quando Donald Trump preferia negar o problema e chamar a pandemia “vírus chinês” criado pelo regime para tirar vantagens comerciais de seus concorrentes globais.
Neste domingo, Weintraub escreveu o seguinte em uma rede social: “Geopolíticamente, quem podeLá saiL foLtalecido, em teLmos Lelativos, dessa cLise mundial? PodeLia seL o Cebolinha? Quem são os aliados no BLasil do plano infalível do Cebolinha paLa dominaL o mundo? SeLia o Cascão ou há mais amiguinhos?”.
O ministro da Educação de Bolsonaro trocou a letra “r” por “l”, assim como Cebolinha, o personagem criado por Mauricio de Sousa. A mudança das letras também ridiculariza o sotaque de muitos asiáticos ao falar português. Para completar, Weintraub incluiu no seu elaborado texto, uma capa de gibi da Turma da Mônica na China.
A resposta da China não demorou. Num texto nas redes, a embaixada chinesa no Brasil afirmou que a pandemia está se espalhando globalmente e traz um desafio que nenhum país consegue enfrentar sozinho. “A maior urgência neste momento é unir todos os países numa proativa cooperação internacional para acabar com a pandemia com a maior brevidade, com vistas a salvaguardar a saúde pública mundial e o bem-estar da Humanidade”, diz a nota.
A embaixada destaca a reprovação da Organização Mundial da Saúde à associação do coronavírus a um país ou região. “Instamos que alguns indivíduos do Brasil corrijam imediatamente os seus erros cometidos e parem com acusações infundadas contra a China”, conclui.
O próprio embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, veio a público nesta segunda-feira para cobrar uma resposta do Itamaraty sobre as declarações de Weintraub.
“O lado chinês aguarda uma declaração oficial do lado brasileiro sobre as palavras feitas pelo min. da educação, membro do governo brasileiro. Nós somos cientes de que nossos povos estão do mesmo lado ao resistir às palavras racistas e salvaguardar nossa amizade”, escreveu no Twitter.
A nova crise não poderia vir em pior hora para o Brasil. Com uma guerra global por suprimentos – respiradores, máscaras, luvas, álcool gel… –, seria de se esperar que o governo estivesse focado por completo em fazer valer anos de relação amistosa com os chineses para assegurar a cooperação necessária ao enfrentamento da nossa escalada da curva. Não é o caso.
Enquanto a Saúde negocia contratos bilionários com os chineses, que já deram demonstrações de que podem ignorar o Brasil e vender seus produtos a outras nações, o governo Bolsonaro, além de não ajudar a equipe do ministro Mandetta, atrapalha seus esforços. Continue reading