Peru, Equador, Argentina, Brasil. “Quais fronteiras separando estes estados nada estáveis?”

Data 09/10/2019 09:16:44 | Tóopico: Regionais

“Quais fronteiras separando estes estados nada estáveis?”

Por: Aldo Ribeiro

Em tempos de Fake News, de destrambelho do pensamento crítico e da falência da ética, se faz necessário ligar pontos didaticamente, pra que os poucos ainda ludibriados, tenham ao menos a oportunidade de entender o todo das coisas. Já falamos do processo de letargia e da imbecilização coletiva por que passa não somente nosso país, mas boa parte do mundo. Culpa das esquerdas. Um onda de ultra-direita protofacista com um discurso nacionalista, violento, conservador e contraproducente à direita tradicional, preencheu e encorajou o grito dos ratos de fato alinhados com o que há de pior.

Mas vamos ao ponto. Sem um aprofundamento mais rebuscado. A intenção é se fazer entender pra que a reflexão possa ser feita com elementos mais macros e menos micros, feiqueis. Semana passada tivemos dois fatos políticos importantes na América do Sul, que se analisado com o tal do pensamento crítico, sem o debate baixo, com o fígado, pode fazer com as ideias dos incautos sejam clareadas.

O governo equatoriano decretou “estado de exceção”, após um levante popular que cada vez mais se torna irreversível. Uma contrarreforma, com cortes profundos em gastos sociais, reforma trabalhista predatória e um aumento de 123% no preço dos combustíveis, que aliás, foi o estopim pra crise instalada contando inclusive com o apoio dos empresários dos transportes. O atual presidente era vice de Rafael Corrêa, e numa guinada ideológica, se rendeu aos caprichos do FMI, e da aristocracia financeira da Equador. Após mais de uma década de avanços sociais contínuos, a população vê suas conquistas serem retiradas sem o menor constrangimento. O país, nesse momento, pega fogo.

No Peru, o presidente Vizcarra decretou a dissolução do Congresso Nacional (artigo 134 da CN), afim de convocar novas eleições legislativas. Uma disputa entre Executivo e Legislativo, face as imperfeições e uma facilidade nociva de suas leis, foi levada ao ápice nos últimos dias. O congresso suspendeu o presidente, e sua vice assumiu, mas logo depois renunciou. Trata-se portanto, de uma séria crise institucional e política, que se não for sanada poderá ter sérias consequências para democracia peruana, e por conseguinte pra sua já sofrida população.

Já na Argentina, país importante do continente, a crise já perdura há algum tempo. Numa outra guinada à direita selvagem e impiedosa com o pacato cidadão, o presidente Macri tomou uma série de medidas de ajuste fiscal. Além disso, tomou emprestado junto ao FMI a quantia de US$ 56 bi pra pagar juros da dívida pública. Você sabe quem geralmente recebe os juros da dívida pública numa operação dessa natureza? Bancos, seguradoras e fundos de investimento. Essa é uma das faces do que chamamos de rentismo. Pra pagar os juros da dívida e deixar de investir em educação, saúde, segurança, emprego e infra-estrutura. A Argentina enfrenta uma duríssima recessão de dois anos, e uma inflação acumulada de 54% nesse período. Nunca se teve tantos pobres e miseráveis no país como se tem agora. Uma verdadeira tragédia social. É o povo mais uma vez pagando o pato, é corda mais uma vez arrebentando do lado mais fraco.

Chegamos ao Brasil, e vou ser breve. Sim, o Brasil é um país mais complexo e com suas particularidades. Sim, o Brasil tem uma economia muito mais forte do que a desses países. Sim, o Brasil ainda tem instituições fortalecidas (será?). Portanto, não corremos o mesmo risco de Equador, Peru e Argentina.

Mas observem que todos os problemas inerentes aos países que citamos acima, também ocorrem nesse momento em nosso país. Graves perdas sociais, e que só daremos conta do tamanho dessas perdas um pouco mais à frente. Crises política, econômica, institucional e moral. Em maior ou menor grau. Em processo de ebulição ou a fogo baixo. Com um lunático no poder, assessorado por outros lunáticos e com um exército de imbecis nas redes e nas ruas.

As coisas mudam de nome, mas continuam sendo religiões”.




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