Caso Battisti é um vexame completo para o Brasil
Depois de abrigá-lo, país não impediu fuga e teve de engolir a expulsão pelo vizinho
Leandro Colon - Folha de S.Paulo
A novela Cesare Battisti, ao que parece em seus capítulos finais, caminha para um desfecho de saldo vexaminoso para a imagem do Brasil.
Condenado na Itália à prisão perpétua por quatro homicídios nos anos 70, o terrorista italiano viveu na última década por aqui graças à benevolência dos governos petistas.
Recebeu o status de refugiado do ex-presidente Lula, hoje um preso condenado pela Lava Jato por corrupção e lavagem de dinheiro. Com a proteção garantida, Battisti construiu uma vida em solo brasileiro.
Desfilava tranquilamente pelas ruas de Cananeia, no litoral paulista. Teve um filho com uma professora brasileira. Vestindo a camisa do Corinthians, declarou à Folha em 2017 que não havia razões para fugir, muito menos para a Bolívia —pouco antes, fora detido na fronteira sob acusação de evasão de divisas por carregar mais de R$ 10 mil em espécie.
“A minha arma para me defender não é fugir. Estou do lado da razão, tenho tudo a meu lado”, disse ao repórter Joelmir Tavares na ocasião.
Um ano e dois meses depois daquela entrevista, a casa caiu para Battisti. O STF autorizou sua prisão e a extradição para a Itália foi assinada pelo então presidente Michel Temer.
Perdeu quem apostou que o constrangimento de mais de dez anos para o Brasil havia chegado ao fim.
Battisti deu um olé (digno de bons craques do seu clube de coração no Brasil) na Polícia Federal nos últimos 30 dias. Como contou a repórter Camila Mattoso, ele despistou a polícia, que tentou procurá-lo, em vão, até em um barco no rio Amazonas.
Foi preso pela polícia da Bolívia nas ruas de Santa Cruz de La Sierra. O presidente Jair Bolsonaro montou uma operação para trazê-lo ao Brasil, nem que fosse por alguns minutos, e exibi-lo como troféu. O ministro Augusto Heleno, do GSI, anunciou que um avião da PF havia sido deslocado para buscar Battisti. A Itália atropelou e o levou da Bolívia.
Depois de abrigar um terrorista, o Brasil não impediu sua fuga do país e ainda teve de engolir a expulsão pelo vizinho. Um vexame completo.
Ministro italiano diz que Battisti é um grande presente
Ministro Matteo Salvini reforçou versão de que Battisti é "assassino" e prometeu "garantir" que o terrorista "passe o resto de sua vida na cadeia"
iG São Paulo
O ministro italiano do Interior, Matteo Salvini, celebrou a prisão de Cesare Battisti, efetuada na Bolívia, e agradeceu ao presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PSL) por ter "tirado a proteção" do terrorista, condenado à prisão perpétua por quatro assassinatos ocorridos na década de 1970 – aos quais Battisti nega a autoria.
Durante evento na Escola de Formação Política de Lega, em Milão, Salvini disse que a prisão de Battisti representa um "grande presente a 60 milhões de italianos". "Estamos preparando a chegada desse maldito criminoso à Itália. Obrigado a todos que possibilitaram essa mudança. [...] Ao novo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que retirou a proteção... Porque ele [Cesare] é um assassino. Não é um escritor, ou um ideólogo", discursou o ministro.
A "proteção" mencionada por Salvini se trata do asilo político concedido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2010. Apesar do discurso do italiano, a medida foi revogada por decreto assinado ainda durante a gestão de Michel Temer (MDB), em 14 de dezembro, no dia seguinte à ordem de prisão proferida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux.
A declaração de Salvini se aproxima da mensagem escrita mais cedo por um dos filhos de Bolsonaro , o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), nas redes sociais. "Um pequeno presente está a caminho", disse Eduardo, em italiano, ao próprio Salvini.
O ministro do Interior italiano é uma das principais lideranças da extrema-direita no país europeu. Ele vem acenando ao governo brasileiro desde a eleição de Bolsonaro, que havia prometido que Salvini podia "contar conosco" em relação à extradição de Battisti .
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