Médium João de Deus é acusado de abuso sexual
leia na íntegra os relatos de seis vítimas
Casos teriam acontecido entre 2010 e fevereiro de 2018, dentro do ‘hospital espiritual’ mantido pelo médium, em Abadiânia (GO)
Helena Borges e Cristina Fibe - O Globo
Doze mulheres denunciaram terem sido sexualmente abusadas por João Teixeira de Faria, médium conhecido como João de Deus. Famoso pela realização de “cirurgias espirituais”, ele já atendeu políticos, celebridades e altos funcionários públicos do Brasil e do mundo.
No programa que foi ao ar ontem de noite, a produção do “Conversa com Bial”, na TV Globo, relatou que dez mulheres se dizem vítimas de João de Deus, das quais quatro também foram ouvidas por O GLOBO.
Esta reportagem traz essas quatro denúncias e duas novas, exclusivas. Os seis relatos documentados por escrito, que o leitor do GLOBO tem acesso na íntegra abaixo, datam de 2010 a fevereiro deste ano. Os textos são longos e detalhados. Eles foram colhidos ao longo de três meses de investigação. Todos passaram pela aprovação das seis vítimas, das quais cinco pediram sigilo de identidade.
O último capítulo desta matéria é a resposta enviada pela assessoria de João de Deus exclusivamente para O GLOBO.
Denúncias revelam padrão de ação
As denúncias revelam um processo sistemático e padronizado. As mulheres contam que foram desacompanhadas à Casa de Dom Inácio, o “hospital espiritual” mantido pelo médium em Abadiânia (GO). Todas tinham entre 30 e 40 anos no momento em que relatam terem sofrido os abusos. Elas dizem que o médium, durante os atendimentos ao público — quando estaria incorporado por uma entidade espiritual — indicava que deveriam encontrá-lo após o encerramento da sessão.
Sempre colocadas como últimas na fila de espera para o atendimento pessoal, ntravam em um escritório que dava acesso à sala de cirugias.
Neste momento, ficariam no local apenas o médium e a paciente. Com a porta trancada e as luzes apagadas, seriam tocadas nos seios pelo líder espiritual de 76 anos, e/ou ordenadas a tocá-lo no pênis, parte de uma “limpeza espiritual”.
Por videoconferência, a holandesa Zahira Lieneke afirma ter sido estuprada em 2014. Ela foi a única vítima a autorizar a publicação de seu nome. Também é a única que conta ter sido penetrada por João.
Assessoria chama denúncias de "fantasiosas"
A assessoria de João de Deus afirma que as acusações são “falsas e fantasiosas”, questiona o motivo pelo qual as vítimas não procuraram as autoridades e afirma que “a sala em questão é pública, qualquer um tem acesso a ela e jamais fica trancada”. A assessoria ainda afirma que a situação “é lamentável, uma vez que o Médium João é uma pessoa de índole ilibada”.
As vítimas contam que não procuraram a polícia logo após os abusos pelo mesmo motivo que pedem para suas identidades serem protegidas: medo de serem perseguidas.
Essa não é a primeira vez que João Teixeira de Farias é acusado de crimes sexuais. Ele já foi acusado de sedução de menor, atentado ao pudor, contrabando de minério e até por assassinato. Em nenhum dos casos o médium foi julgado culpado.
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