JOESLEY

Data 17/06/2017 21:39:22 | Tóopico: Política


Geddel intermediava silêncio de Cunha

Da Folha de S. Paulo

O empresário Joesley Batista, sócio do grupo J&F, disse que o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) era "o mensageiro" do presidente Michel Temer, responsável por informá-lo sobre a situação de supostos pagamentos feitos para silenciar o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o doleiro Lúcio Bolonha Funaro, ambos presos desde o ano passado pela Lava Jato.

A informação faz parte da entrevista que Joesley concedeu à revista "Época", divulgada nessa sexta (16).

O ex-ministro, segundo Joesley, mantinha contato quinzenal com ele para saber sobre os repasses.

"E toda hora o mensageiro do presidente me procurando para garantir que eu estava mantendo esse sistema", disse o empresário.

"Geddel [era o mensageiro]. De 15 em 15 dias era uma agonia terrível. Sempre querendo saber se estava tudo certo, se ia ter delação, se eu estava cuidando dos dois. O presidente estava preocupado. Quem estava incumbido de manter Eduardo e Lúcio calmos era eu", declarou.

Joesley disse não ter dúvidas de que Temer estava consciente do esquema. "Sem dúvida [Temer sabia dos pagamentos]. Depois que o Eduardo foi preso, mantive a interlocução desses assuntos via Geddel. O presidente sabia de tudo", disse.

"Eu informava o presidente por meio do Geddel. E ele sabia que eu estava pagando o Lúcio e o Eduardo. Quando o Geddel caiu, deixei de ter interlocução com o Planalto por um tempo. Até por precaução."

O empresário disse que Temer tinha ascendência sobre Cunha e o acusou de chefiar uma organização criminosa. "A pessoa à qual o Eduardo se referia como seu superior hierárquico sempre foi o Temer", disse o empresário, na entrevista.

"O Temer é o chefe da Orcrim [sigla para organização criminosa] da Câmara. Temer, Eduardo, Geddel, Henrique [Alves], [Eliseu] Padilha e Moreira [Franco]. É o grupo deles. Quem não está preso está hoje no Planalto. Essa turma é muita perigosa. Não pode brigar com eles", prosseguiu o empresário.

Joesley afirmou que recebia pedidos do presidente. "O Temer não tem muita cerimônia para tratar desse assunto. Não é um cara cerimonioso com dinheiro", disse. "Acho que ele me via como um empresário que poderia financiar as campanhas dele -e fazer esquemas que renderiam propina."

O empresário citou um caso específico na entrevista. "Teve uma vez também que ele me pediu para ver se eu pagava o aluguel do escritório dele na praça [Panamericana, em São Paulo]", disse.

Joesley diz que na ocasião se fez de desentendido e não atendeu à solicitação.

Joesley afirmou que recebia pedidos de dinheiro de Cunha e Funaro vinculados a vários assuntos e citou como exemplo uma solicitação de Cunha de R$ 5 milhões para evitar a abertura de uma CPI que atingiria a JBS. Na ocasião, o empresário disse que não pagou.

Os pedidos de propina, segundo ele, continuaram mesmo depois da prisão do ex-deputado.

ACORDO POLÊMICO

Joesley Batista assinou um acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República, que foi homologado pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin, relator da Lava Jato no tribunal.

O acordo recebeu críticas por conta dos benefícios concedidos ao empresário, que não cumprirá pena nem mesmo será processado. Ele e a família tiveram autorização para viajar aos EUA em jatinho da empresa.

A JBS, frigorífico do grupo J&F, está sendo investigada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) em cinco processos administrativos para apurar supostas irregularidades, como o uso de informações privilegiadas em negociações de dólar futuro e ações.

Na entrevista, o empresário diz que não manipulou o mercado: "A CVM pode investigar e temos tranquilidade em responder. São operações feitas absolutamente dentro das regras", declarou.

Ele também afirmou que se viu forçado a gravar Temer para provar que estava sofrendo achaques, e refutou que o áudio tenha sido alterado. "Zero. Zero. Gravamos e entregamos. Podem fazer todas as perícias do mundo", afirmou.

PT E PSDB

Na entrevista, Joesley também faz acusações ao PT, que, segundo ele, inaugurou o esquema que perdurou sob Temer. Seu interlocutor para o pagamento de propina seria o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega.

"Quando era efetivado o negócio, saía uma parcela, eu creditava o valor da propina na conta do Guido na Suíça", declarou. A diferença, segundo ele, era que a abordagem do PT era "menos agressiva".

Ele poupa o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmando que nunca teve conversa "não republicana" com o petista.

Explica também por que gravou o senador Aécio Neves (PSDB-MG), hoje afastado do cargo por decisão do Supremo.

Aécio, segundo ele, era a alternativa de poder. "Teve 48% dos votos dos brasileiros [na eleição de 2014]. E tinha entrado no governo do Temer", afirmou.

O empresário declarou ainda que não tem mais revelações a fazer e que prestaria depoimento a uma CPI para investigar suas acusações.

Nenhum dos citados por Joesley na entrevista quis se manifestar até o momento.

Joesley: Cunha cobrava propina em nome de Temer


O empresário diz que o presidente não tinha cerimônia para pedir dinheiro. O empresário realfirma que comprou os silêncios de Cuha e Lúcio Funaro - presos pela Lava Jato -, e diz que o ex-ministro Geddel Vieira Lima manteve Temer informado sobre esses pagamentos.

Da Época - Diego Escosteguy



Na manhã da quinta-feira (15), o empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo J&F, recebeu ÉPOCA para conceder sua primeira entrevista exclusiva desde que fechou a mais pesada delação dos três anos de Lava Jato. Em mais de quatro horas de conversa, precedidas de semanas de intensa negociação, Joesley explicou minuciosamente, sempre fazendo referência aos documentos entregues à Procuradoria-Geral da República, como se tornou o maior comprador de políticos do Brasil. Discorreu sobre os motivos que o levaram a gravar o presidente Michel Temer e a se oferecer à PGR para flagrar crimes em andamento contra a Lava Jato. Atacou o presidente, a quem acusa, com casos e detalhes inéditos, de liderar “a maior e mais perigosa organização criminosa do Brasil” – e de usar a máquina do governo para retaliá-lo. Contou como o PT de Lula “institucionalizou” a corrupção no Brasil e de que modo o PSDB de Aécio Neves entrou em leilões para comprar partidos nas eleições de 2014. O empresário garante estar arrependido dos crimes que cometeu e se defendeu das acusações de que lucrou com a própria delação.


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