TURISMO

Data 08/06/2017 08:22:53 | Tóopico: Brasil


Redescobrindo Fernando de Noronha
De O Globo

Mesmo quem nunca pisou nesse arquipélago, a mais de 540km de Recife, sabe bem o que andam falando dele por aí. Pelo quarto ano consecutivo, a Praia do Sancho entra para a lista das praias mais lindas do mundo; em suas ruas históricas é tão fácil esbarrar com uma celebridade quanto observar sua fauna e flora debaixo d’água; e seu alto custo de vida é tão proibitivo quanto as (necessárias) regras de preservação que limitam nossa circulação.

Mas é preciso desnoronhizar Fernando de Noronha.

Para isso, deve-se seguir na direção contrária dos turistas que insistem apenas nos roteiros tradicionais. Mesmo em um pedaço minúsculo de terra, dá para encontrar novidades e atividades pouco conhecidas.

Para ver uma ilha desnuda, em seu estado mais original, subimos alto para ter Noronha aos pés; desembarcamos na temporada de chuva para ver a cachoeira, normalmente tímidas, que só se mostra em algumas épocas do ano; encaramos trilhas que parecem tão rústicas quanto à época em que desfilavam ali os primeiros forasteiros; e embarcamos em uma canoa havaiana para observar golfinhos bem de perto.

Assumimos tão fortemente essa ideia que, do que vimos, nada se parece aos cartões-postais de tons hedonistas que costumamos encontrar em folhetos de promoção turística. Se você já conhece Noronha, nem vai se dar conta que está de volta. Se ainda não conhece, que tal unir os roteiros tradicionais às nossas descobertas?

A temporada chuvosa no arquipélago varia entre os meses de março a junho, durante o inverno noronhense. Pois não fossem as precipitações e o calor beirando a casa dos 30°C, nem daria para perceber que essa é a baixa temporada da ilha. Mas o que não passa despercebido são as quedas d’água que escorrem imponentes sobre os paredões da Praia do Sancho. É na época de chuvas que elas se avolumam, dando origem a cachoeiras, atrás dessa faixa de areia de 320 metros de extensão.

Para quem não consegue tirar férias sem altas doses de sol na pele, vale lembrar que, dos dez dias em que estivemos na ilha, em abril, apenas um deles foi nublado e chuvoso.

O acesso ao Sancho continua o mesmo — por lances de escadas entre uma fenda na rocha —, mas seguindo em direção ao lado esquerdo da praia, visitantes são recebidos por duas cachoeiras escondidas na vegetação que, nesta época do ano, ganha tons esverdeados por conta das chuvas. Eis a novidade com prazo de validade e que se renova a cada temporada. Sai de cena a aridez típica dessa ilha de 12 milhões de anos e começa um dos períodos mais verdes de Noronha.

Nem tartaruga deixa de passar por ali. A temporada de desova vai de dezembro a junho, e não é raro encontrar demarcações de ninhos nas areias do Sancho, um cuidadoso trabalho feito pelo Projeto Tamar, desde 1984. Aliás procure se informar sobre atividades científicas abertas ao público, como a captura intencional na Praia do Sueste e a tartarugada na Praia do Leão, “um monitoramento noturno nas praias de desova”, como explica o biólogo Felipe Bortolon. A grande novidade de 2017 é que essa temporada de desovas deve bater o recorde histórico de 500 ninhos de tartarugas-verdes, em Fernando de Noronha.

E, se o nível do mar não for suficiente para o visitante entender a dimensão desse destino que já arrancou adjetivos inspirados de Américo Vespúcio e Charles Darwin, ele verá, do alto, Fernando de Noronha em sua melhor forma. Aberta recentemente para o turismo, a Trilha do Piquinho (R$ 120 por pessoa) proporciona um belo panorama, levando caminhantes a um dos pontos mais da ilha, onde os mares de Fora e de Dentro quase cabem na mesma fotografia.

Cartões-postais vistos do alto

Nesse antigo caminho usado pelos oficiais da Aeronáutica para manutenção do farol no topo do Morro do Pico (de 321m), o ponto mais alto de Noronha, os turistas percorrem trilha de três quilômetros, aproximadamente, com paradas em mirantes naturais, que abrem nossa visão para imagens emblemáticas, como o Morro Dois Irmãos e a Ilha do Frade.

É como ter Fernando de Noronha aos pés e com vista panorâmica de 360°. De dificuldade média e sem sinalização, essa caminhada de três horas (ida e volta) começa com subida em mata fechada e se bifurca em trilhas paralelas, com vistas para o interior da ilha principal e o mar. Exige boa condição física e o acompanhamento de guia local é fundamental.

A experiência termina em um ponto mais elevado sobre uma pedra, “onde é possível observar o pôr do sol, um dos mais belos de Noronha”, garante o guia Ailton Flor, um dos profissionais que atuam nessa trilha que recebe, por mês, uma média de apenas 20 pessoas.

Para quem não se dá bem com altura, há trilhas quase exclusivas que passam pelo lado mais intocado e isolado da ilha, no Mar de Fora. Como alternativa à trilha do Atalaia, que leva à concorrida piscina natural que serve de berçário para animais marinhos e pode ser visitada em controladas flutuações, a Trilha dos Abreus (R$ 209) é uma caminhada de 1,2km de extensão e dificuldade média que faz a gente esquecer que aquele pequeno pedaço de terra com cinco mil habitantes continua pulsando no centrinho histórico da Vila dos Remédios, núcleo de Noronha.

No roteiro, o visitante faz uma espécie de mini rapel por uma corda que se estende em um trecho mais escorregadio até o nível do mar e dá acesso à última parte da trilha, que termina em piscinas naturais abertas ao público. Embora bem sinalizada e com acesso diário liberado para 24 pessoas, a trilha é daquelas experiências em que se tem a sensação de que somos os primeiros a passar por ali.

Entre os títulos que tentam definir o arquipélago — como Ibiza brasileira e Esmeralda do Atlântico — o de “Havaí brasileiro” parece ser o que melhor traduz esse conjunto de ilhas de origem vulcânica que submerge a quatro mil metros de profundidade. E não é só pelo clima de isolamento e pelas ondas que se formam na cobiçada temporada de swell, na Cacimba do Padre.

E são tantas opções de turismo na pequena notável do Atlântico que a gente sempre volta com a sensação de que um bis é pouco.


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