Opinião

Data 27/12/2010 22:28:18 | Tóopico: Política



Presidente ou Presidenta

Que me desculpem as mulheres, mas sinto um grande desconforto ao me referir à Dilma Rousseff como A PresidentA.

Por uma questão lógica de redundância. Ora: se já estou usando o artigo na forma feminina, está claro que A presidente, com E, trata-se de uma mulher.

Ninguém diz clienta, ou pacienta. Se for mulher, é A cliente, A paciente e por aí vai.

Por que não A presidente, ao invés de A presidenta? O artigo está lá, ele já diz tudo. Os substantivos terminados em “nte” valem para os dois gêneros, graças ao imperativo do artigo. Seria o mesmo que dizer, ao invés de “A amante”, algo como “A amanta”. Ou “A docenta”, ao invés de “A docente”.

Mas tem muita gente fazendo confusão. De um lado, porque acham que “presidenta” é o correto, sem saber que ambas as formas estão certas. Você pode optar por presidente ou presidenta, mas convenhamos que “a presidenta” soa muito feio. Além de feio, me parece um tanto pejorativo, parece dar uma ideia de mulher mandona.

Soaria esquisito, por exemplo, referir-se à Dilma Rousseff como a nossa “governanta”. Ela será a nossa governante, isso sim. Se eu tratá-la por “governanta”, terei a sensação de estar reduzindo o seu posto, pois as governantas são aquelas senhoras que administram mansões de gente rica.

Imagine também a seguinte frase: “Dilma é a chefe do nosso País”. Está certo? Claro. Agora imagine a mesma frase com o substantivo mudado para a forma feminina: “Dilma é a chefa do nosso país”.

Se ninguém fala chefa, por que vamos ter que falar presidenta?
Num artigo recente, Luiz Costa Pereira Júnior evocou uma lei federal, do distante ano de 1956, que determina o uso oficial da forma feminina para designar cargos públicos ocupados por mulheres. Mas uma coisa é a lei e outra, bem diferente, é a gramática. A lei, em si, parece apenas pretender o reforço de poderio político. O problema é que se passaram 54 anos, após essa lei, para que o Brasil viesse ter a sua primeira mulher presidente.

Ao longo desses anos, muitas mulheres vêm assumindo presidências de órgãos públicos, empresas ou o raio que parta. E ninguém jamais se preocupou com a forma de gênero para esse substantivo. Agora, porém, é a presidência da República que está em jogo. Trata-se da mais alta magistratura do país, então a confusão começou.

A própria Dilma Rousseff, numa entrevista recente, foi perguntada como gostaria de ser tratada. Presidenta ou presidente? Ela disse presidentA.

Tudo bem. Se ela prefere assim, ninguém vai contra a vontade da nossa chefa. Eu, porém, como sinto um incômodo danado, prefiro me contentar com o artigo para dizer que estou me referindo a uma mulher. Ninguém estranhe, mas é nessa forma que vou escrever sempre, porque prefiro evitar a redundância.

Por Tarcísio Pereira jornalista paraibano


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