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Brasil : 41% DAS MULHERES NÃO SABEM DEFINIR O QUE É CONSENTIMENTO; ENTENDA
Enviado por alexandre em 05/03/2024 10:03:00

Pesquisa afirma que boa parte das mulheres ainda não sabe definir consentimento ou perceber quando ele não está sendo respeitado

Você sabe o que é consentimento? Apesar de parecer óbvio para muitas pessoas, grande parte das mulheres ainda não sabe do que se trata o conceito ou mesmo definir quando ele está sendo desrespeitado.

 

De acordo com uma pesquisa do Instituto Data Popular, realizada com 2.000 brasileiras de 18 a 44 anos, 41% das mulheres não souberam definir o que é consentimento em uma relação.

 

Já um estudo da Plan International, realizado em 14 países, mostrou que 58% das mulheres não tiveram qualquer tipo de orientação sobre consentimento. Além disso, apenas 1 em cada 5 das entrevistadas afirmou ter total autonomia sobre o próprio corpo e sobre suas escolhas dentro de um relacionamento.

 

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“Por desinformação, educação ou estereótipos de gênero, milhões de mulheres não reconhecem sinais de qualquer tipo de abuso, o que exige medidas eficazes de enfrentamento para promover a autonomia feminina”, diz, em nota, a sexóloga Claudia Petry.

 

O consentimento, de forma prática, é o ato de permissão para toques e atos sexuais. E tão importante quanto saber o que é, é saber que ele pode ser retirado a qualquer momento.

 

“Um dos principais argumentos dos abusadores é: ‘a pessoa quis, ela disse que queria antes, ela foi até o motel comigo, já havia transado com ela antes’ etc. Consentimento não é marcado em pedra. Existem milhares de motivos para uma pessoa mudar de ideia sobre fazer sexo: estar incomodada com algo, constrangimento ou simplesmente ter perdido o desejo. E tudo bem”, afirma o terapeuta sexual André Almeida.

 

Tribuna Getuliense | Notícias de Getúlio Vargas e Região

 

E O SILÊNCIO?


É essencial lembrar que o consentimento, muitas vezes, vai além do “não é não”, uma vez que um “sim” sob pressão ou mesmo o silêncio também pode ser um não, e deveria ser respeitado. Muitas vezes, o silêncio é confundido com consentimento. Mas não é.

 

“O fato de você hesitar não significa um ‘pode ser, talvez’. O seu consentimento, seja para uma relação sexual ou uma ida ao cinema, tem que ser explícito e autêntico, com demonstração genuína de interesse”, pontua Claudia.

 

A especialista também faz um adendo importante para os casos de mulheres casadas ou em um relacionamento. Mesmo que ainda exista um pensamento de que, com o enlace, o homem tem poder ou controle sob o corpo de sua parceira, a mulher tem o direito de não querer ser tocada.

 

“Esse quesito é indiscutível e inegociável. Nunca esqueça: não importa se é seu marido de 20 anos ou um relacionamento casual. Se você não está disposta a ter relação sexual, seja qual for o motivo, o ‘não’ é sua palavra final. O corpo é seu, e jamais deve ser ‘cedido’ para satisfazer o outro”, elucida.

 

Gosta de apanhar": por que é tão difícil sair do relacionamento violento? -  04/10/2018 - UOL Universa

Fotos: Reprodução

 

COMO ESTABELECER LIMITES?


Segundo a psicóloga Monica Machado, o consentimento deve estar no centro de cada atitude e decisão entre o casal. Para isso, a principal ferramenta é o diálogo.

 

“Promova o diálogo contínuo e, se preciso, estabeleça limites que definam o que é permitido ou não, garantindo um espaço seguro entre ambos. Quanto mais à vontade você se sentir, mais prazerosas serão as interações entre vocês”, afirma.

 

Além disso, é sempre válido procurar o ajuda de um especialista em saúde mental e, se for o caso, suporte legal.

 


 

“Mulheres que desconhecem o significado do consentimento em uma relação e a importância do respeito mútuo são mais propensas a sofrer violência física, psicológica e, consequentemente, impactos negativos na saúde física e mental”, finaliza Claudia. 

 

Fonte: Metrópoles

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Brasil : Bíblias e crucifixos vetados: agentes testemunham violações em presídios, diz pesquisa
Enviado por alexandre em 05/03/2024 09:47:10

Detento lê Bíblia na prisão. (Foto: Reprodução)

Cerca de 53% de agentes pastorais têm testemunhado violações e estão tendo até suas Bíblias vetadas em presídios. As ações têm ocorrido durante visitas a unidades prisionais. Os dados foram levantados pela Pastoral Carcerária Nacional, que atua junto a pessoas presas e seus familiares e é vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Com informações da coluna de Mônica Bergamo na Folha de S.Paulo.

Quase metade (47,6%) dos agentes relatou ter visto as visitas religiosas serem suspensas sem aviso prévio. Além disso, 64% deles foram alvos de proibição ao tentarem entrar nos locais com itens religiosos, incluindo Bíblias e terços.

A pesquisa também revelou que outros objetos, como crucifixos, santinhos e violões, tiveram sua entrada vetada nos presídios. Ao todo, foram ouvidos 460 agentes da Pastoral Carcerária em todo o país.

A entidade católica enfatizou que o direito à assistência religiosa em espaços de privação de liberdade é recorrentemente infringido, afetando tanto as pessoas presas quanto os representantes religiosos. A Pastoral Carcerária Nacional declarou: “O encarceramento em si é um reprodutor de repetidas torturas, responsável por violar constantemente os direitos mais básicos das pessoas presas e de seus familiares.”

Brasil : Resiliência climática no Norte do Brasil: análise da vulnerabilidade e riscos geo-hidrológicos
Enviado por alexandre em 05/03/2024 09:40:53

No Brasil, a manifestação de eventos climáticos extremos, como secas e chuvas intensas, exacerbada pelas características do El Niño, serve como um claro indicativo dessa realidade.


A mudança climática constitui um dos desafios mais urgentes da contemporaneidade, afetando desproporcionalmente as populações mais vulneráveis ao redor do mundo. No Brasil, a manifestação de eventos climáticos extremos, como secas e chuvas intensas, exacerbada pelas características do El Niño, serve como um claro indicativo dessa realidade.

Mudanças climáticas e vulnerabilidade social. Fonte: Horizonte. Educação e Comunicação.

No território brasileiro, os efeitos do El Niño se traduzem em anomalias nos regimes de chuva e temperatura, provocando secas severas em algumas regiões, enquanto outras são acometidas por precipitações excessivas. As secas impactam diretamente a disponibilidade de água para consumo humano e para a agricultura, essenciais para a subsistência das comunidades rurais e para a segurança alimentar do país. Adicionalmente, comprometem-se a produção de energia hidrelétrica, afetando a economia e a qualidade de vida da população em geral.

Por outro lado, as chuvas torrenciais ocasionam inundações e deslizamentos de terra, com consequências devastadoras para as áreas urbanas, especialmente nas periferias e favelas, onde a infraestrutura é precária. Tais eventos exacerbam a disseminação de doenças relacionadas à água e impõem desafios significativos à mobilidade e à habitabilidade.

As populações vulneráveis, já em desvantagem devido a fatores socioeconômicos, são as mais atingidas por esses eventos, evidenciando a necessidade urgente de políticas públicas inclusivas e de estratégias de adaptação e mitigação eficazes. As diversas restrições comprometem o acesso à água potável e à segurança alimentar, fundamentalmente para a subsistência das comunidades agrícolas.

Durante o período da pandemia de Covid-19, o Brasil registrou um aumento sem precedentes nos índices de pobreza social, segundo uma pesquisa divulgada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Em 2021, o número de pessoas que vivem em condições de pobreza atingiu 64,6 milhões, representando 30,4% da população brasileira. O incremento de 11,7 milhões de brasileiros em situação de pobreza entre 2020 e 2021 destaca a gravidade do impacto econômico provocado pela pandemia. A análise também aponta que a região Norte do Brasil apresentou a segunda maior proporção de indivíduos nessa condição, com 33,9% de sua população afetada (Catto, 2023)¹. De acordo com a introdução feita até agora, propomos discutir abaixo sobre a vulnerabilidade social e os riscos associados às mudanças climáticas, com foco nos desafios relacionados à segurança alimentar e aos desastres geo-hidrológicos na região Norte do Brasil.

O mapa abaixo refere-se ao Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) dos estados do Brasil para o ano de 2021, conforme informações disponíveis no Atlas da Vulnerabilidade Social, acessível pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em seu portal on-line.

¹ CATTO, André. Pobreza social bate recorde e atinge 64,6 milhões de brasileiros durante pandemia. G1 Economia. Disponível em: Pobreza social bate recorde e atinge 64,6 milhões de brasileiros durante pandemia, diz estudo | Economia | G1 (globo.com). Acesso em: 06 fev. 2023.

Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) Fonte: https://ivs.ipea.gov.br/index.php/pt/mapa

Uma análise do IVS permite uma compreensão do nível de vulnerabilidade social a que esses estados estão expostos. Os valores do índice de variação de 0 a 1, onde valores mais próximos de 1 indicam maior vulnerabilidade social. Os valores apresentados no mapa revelam que, entre os estados da região Norte, o Acre apresenta maior vulnerabilidade social (0,366), seguido por Amazonas (0,342) e Pará (0,299). Roraima possui um IVS de 0,28, o Tocantins tem um IVS de 0,254 e Amapá tem um índice de 0,229. Por outro lado, Rondônia apresenta o menor índice de vulnerabilidade social (0,189).

Apesar de alguns valores serem considerados aceitáveis, é fundamental analisar esses números à luz do quantitativo de pessoas que eles representam. Mesmo um IVS relativamente baixo pode significar um grande número de indivíduos em situação de vulnerabilidade, especialmente em estados com populações globais. Isso é particularmente relevante no contexto do Norte do Brasil, uma região que enfrenta desafios significativos em termos de infraestrutura, acesso a serviços básicos e condições socioeconômicas.

Os estados da região Norte do Brasil, conforme indicado pelo Índice de Vulnerabilidade Social (IVS), apresentam desafios únicos no contexto das mudanças climáticas. Estas populações, especialmente as mais vulneráveis, são desproporcionalmente afetadas pelos impactos climáticos devido a uma série de fatores socioeconômicos e ambientais.

A plataforma AdaptaBrasil, visa fornecer informações sobre a vulnerabilidade, exposição e riscos associados às mudanças climáticas no país, ela destaca a importância de entender e monitorar a resiliência dos municípios brasileiros. O site oferece dados e ferramentas que ajudam a identificar e compreender os riscos e vulnerabilidades climáticas ao nível local, e servem como um recurso para o planejamento de medidas de adaptação e mitigação das mudanças climáticas. A incorporação de informações do AdaptaBrasil ao contexto dos estados do Norte do Brasil com altos IVS é crucial para desenvolver estratégias que abordem tanto as questões sociais quanto as ambientais. Uma observação atenta e contínua do comportamento climático e seus efeitos nessas regiões pode orientar intervenções mais eficazes, com o objetivo de proteger as populações vulneráveis e promover o desenvolvimento sustentável.

Índice de Risco de Impacto para Seca Fonte: https://sistema.adaptabrasil.mcti.gov.br/

A imagem detalha o índice de risco de impacto para seca. Aqui, observa-se que a maioria dos municípios é dividida como "Baixo" (206 municípios) e "Muito baixo" (109 municípios) risco de impacto para seca, enquanto uma quantidade menor é considerada "Médio" (120 municípios) e " Alto" (15 municípios). Esta distribuição sugere que, embora a seca seja uma preocupação, a capacidade de resistência e a vulnerabilidade a esse tipo de evento climático variam significativamente entre os municípios da região Norte. A seca, definida como um período prolongado, pode causar escassez de água que afeta não apenas a agricultura e a disponibilidade de alimentos, mas também diversos grupos vulneráveis da população.

Além disso, o Índice de Vulnerabilidade para Segurança Alimentar também fornecido pela plataforma AdaptaBrasil mostra que uma grande proporção de municípios se enquadra nas categorias "Médio" (189 municípios) e "Alto" (191 municípios), com uma minoria significativa como "Muito alto" (34 municípios). Há apenas 36 municípios categorizados como "Baixo" e "Muito baixo" (1 município), indicando que a maior parte da região enfrenta riscos substanciais para a segurança alimentar. Isso significa que as alterações climáticas ou eventos climáticos extremos podem afetar severamente a vida, os meios de subsistência e a disponibilidade de alimentos de qualidade e em quantidade suficiente nessas localidades.

Ao combinar as informações dos índices, torna-se evidente que, enquanto a região Norte como um todo pode ter um risco variável de impacto para seca, a vulnerabilidade geral à segurança alimentar é preocupante, com muitos municípios enfrentando riscos médios a altos. Isso destaca a importância de políticas e estratégias robustas de adaptação e mitigação, particularmente no que tange ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade e práticas alimentares sustentáveis. Os dados sublinham a necessidade de um monitoramento contínuo dos riscos associados às mudanças climáticas, bem como de uma resposta proativa para fortalecer a resiliência das comunidades da região Norte do Brasil.

Índice de Risco para inundações, enxaquecas e alagamentos Fonte: https://sistema.adaptabrasil.mcti.gov.br/

A imagem fornece uma representação gráfica do Índice de Risco para desastres geo-hidrológicos – especificamente inundações, enxurradas e alagamentos – nos 450 municípios da região Norte do Brasil. A distribuição dos municípios por classe de risco é a seguinte: Muito Baixo (11 municípios); Baixo (69 municípios); Médio (185 municípios); Alto (131 municípios), Muito Alto (54 municípios). Este índice reflete o potencial de impacto das mudanças climáticas nos sistemas socioecológicos, levando em conta não apenas a ocorrência de precipitações intensas, mas também fatores como a geomorfologia do terreno, o uso do solo e as condições geológicas que influenciam a probabilidade e a severidade dos desastres geo-hidrológicos.

Interpretando os dados dos gráficos, é evidente que uma proporção significativa dos municípios da região Norte exposta está a um risco médio a muito alto de enfrentar desastres relacionados à água, como inundações, enxurradas e alagamentos. Os 131 municípios na categoria de alto risco e os 54 na categoria de muito alto risco são de especial preocupação, uma vez que indicam uma suscetibilidade específica a eventos que podem resultar em danos substanciais à infraestrutura, ecossistemas e comunidades locais.

Estes dados são particularmente importantes para o planejamento urbano e gestão de emergência, pois municípios com alto e muito alto risco precisam de infraestruturas resilientes, sistemas de alerta precoce e planos de evacuação eficazes para minimizar os danos e proteger as populações. A preparação e a resposta rápida são essenciais para reduzir as consequências negativas desses eventos, que tendem a se tornar mais frequentes e intensas devido às mudanças climáticas.

O índice também destaca a necessidade de políticas de adaptação climática e gestão de risco de desastres para melhorar a resiliência dos municípios, principalmente aquelas identificadas como de risco médio a muito alto. Isso pode incluir a reavaliação do uso do solo, o reforço das margens dos rios, a implementação de práticas de drenagem urbana e o investimento em sistemas de monitoramento climático para prever e responder a eventos extremos de incidentes.

Conclusões 

Uma análise dos índices de vulnerabilidade social e dos riscos de impacto climático em 450 municípios da região Norte do Brasil, conforme apresentado pelo AdaptaBrasil MCTI, revela uma exposição preocupante a desafios ambientais e sociais. A região, marcada por uma significativa vulnerabilidade à segurança alimentar, está exposta a riscos elevados de eventos climáticos extremos, como secas e desastres geo-hidrológicos, que incluem inundações, enxurradas e alagamentos. Esses riscos são exacerbados por fatores geomorfológicos, práticas de uso do solo e a própria dinâmica climática da região.

Os dados indicam que muitos municípios enfrentam um risco médio a muito alto de inundações e outros desastres relacionados à água, o que exige uma atenção especial para a criação de infraestruturas resilientes e sistemas de gestão de emergência. Paralelamente, a vulnerabilidade alimentar destaca a necessidade de reforçar a capacidade dos sistemas de produção e distribuição de alimentos para suportar as flutuações causadas pelas alterações climáticas.

Para enfrentar estes desafios, é essencial implementar políticas públicas eficazes que promovam a adaptação e a mitigação das mudanças climáticas, fortalecendo a resiliência das comunidades vulneráveis e garantindo a segurança alimentar. Isso implica no desenvolvimento de programas de educação ambiental, investimento em infraestrutura sustentável, promoção de práticas agrícolas resilientes e aprimoramento de sistemas de alerta precoce e resposta a desastres.

A compreensão abrangente dos riscos e vulnerabilidades é o primeiro passo para a transformação dessa região em um modelo de resiliência climática, onde a segurança alimentar e a estabilidade ecológica andam de mãos dadas com o progresso social e econômico.

Com a colaboração de:

Prof. Dr, Yunier Sarmiento Ramírez possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade do Estado do Amazonas, mestrado em Gestão de Empresas pela Universidad de Holguín – Cuba e doutorado em Economia pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul. Atualmente é professor da Universidade Federal do Amazonas no Departamento de Economia e Análise – DEA e no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia – PPGSS. Desenvolve pesquisas na área de Economia aplicada, teoria econômica e métodos quantitativos

Sobre o autor

Prof. Dr, José Barbosa Filho possui graduação em Engenharia de Pesca pela Universidade Federal do Ceará (1989), mestrado em Economia Rural pela Universidade Federal do Ceará (1992) e doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2005). Atualmente é professor Titular da Universidade Federal do Amazonas. Desenvolve pesquisas na área de Contabilidade Ambiental, Matemática Financeira e Econometria, com ênfase em Gestão Ambiental, atuando principalmente nas seguintes áreas: valoração ambiental, desenvolvimento sustentável, avaliação de impactos ambientais e gerenciamento de processos.

Contato: jbarbosa@ufam.edu.br

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Brasil : A Família Benchimol em Porto Velho: as agruras do início de uma vida
Enviado por alexandre em 04/03/2024 09:20:12

Fortaleza do Abunã, um pequeno povoado a 275 quilômetros de Porto Velho, a partir dos anos 70 tornou-se uma atração turística do verão amazônico.


A família Benchimol que, embora tivesse casa em Porto Velho, estava localizada na Fortaleza do Abunã e naturalmente sofrendo as agruras de um período difícil, como relata o autor Jacques Marcovitch na sua obra A Saga do Desenvolvimento do Brasil:


Na Amazônia da década de 1920, durante uma temporada de malária brava no rio Abunã, um dos formadores do Madeira Mamoré, todos os dias da semana um seringueiro chegava ao hospital da Candelária, pertencente à Estrada de Ferro Madeira Mamoré, carregava nos braços um menino judeu, enfraquecido demais para caminhar sozinho.

No hospital, o menino recebia as injeções de quinino que acabariam por salvá-lo. Chamava-se Samuel Benchimol e anos mais tarde dedicaria a sua primeira tese universitária aos seringueiros da Amazônia, em sua maioria nordestinos, recolhendo centenas de depoimentos sobre as razões que os levaram a migrar para a Amazônia. ¹5

15 MARCOVITCH, Jacques. A saga do desenvolvimento no Brasil. Volume 3. São Paulo. Editora da Universidade de São Paulo, Saraiva, 2007. Pág.: 233.

Nina Siqueira Benchimol - Porto Velho, 1920, acervo da família. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

A história nos revela que as primeiras famílias judias aportaram na Amazônia em meados de 1820. Depois de testemunharem tanto sofrimento no Marrocos, optaram pelo Brasil tão somente pela facilidade da língua. De fato, como já foi dito, falavam hakitia, um dialeto ibero-judaico-marroquino e, naturalmente pela sua permanência na Espanha e Portugal, conheciam os dois idiomas. Falavam também o hebraico e francês, pois frequentaram a Escola Aliança Israelita Universal, que existiam nas principais cidades marroquinas.

Esse núcleo populacional tinha sido criado desde o final do século 17. De fato, não surgiu por conta da construção da Madeira Mamoré ou também pelas Estações Telegráficas da Comissão Rondon. Mas serviu principalmente como ponto de apoio para ambos os projetos. Vale ressaltar que sua transformação em município teve parte principal a construção da ferrovia e a estação da linha telegráfica. Segundo o autor Francisco Matias na sua obra Pioneiros – Ocupação Humana e Trajetória Política de Rondônia, sua transformação em município teve como fator principal as duas referidas obras em razão de sua importância como um dos dois pontos extremos da linha telegráfica. Ainda segundo o mesmo autor, era uma povoação antiga pertencente ao Mato Grosso, que foi transformada em município pelo Governador mato-grossense Generoso Paes Leme de Souza Ponce, pela Lei n.º 494, de 3 de junho de 1908. O povoado sede do município foi elevado à categoria de Vila, em 27 de setembro de 1911, pelo Decreto-Lei n.º 576, promulgado pelo governador da época, Joaquim Augusto da Costa Marques, de Mato Grosso.¹

¹ MATIAS, Francisco. Porto Velho. Pinheiro Editora Maia Ltda, 1997. Pág.: 67

Alice e Saul Benchimol, em Fortaleza do Abunã. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Fortaleza do Abunã 

O Jamari e o Machado, cujos afluentes e serras se interligam, foram na época ótimos produtores de látex. Levas de nordestinos, desiludidos das secas do sertão nordestinos, venceram as cachoeiras do Madeira e foram erguer suas taperas nos grandes seringais do alto Madeira, nos quais entravam no começo das safras, de inverno a inverno.

Curtindo febres e procurando dominar o isolamento, desbravaram seringais em terras inóspitas. Nesse processo, desenrolaram-se dramas em rincões exuberantes, onde não faltavam a fome e as enfermidades. Na época, não havia um plano sistemático e de estímulo para a agricultura, os gêneros alimentícios eram transportados de outras localidades, oscilando na base dos produtos extrativos ou das dificuldades de importação.

Nessa ocupação da terra em Fortaleza do Abunã, convém notar que no extraordinário os limites do território não são dados pela terra em agricultura, mas, sim pela sua extensão. O que mais importa no extrativismo é que a terra possa conter quantidades mais ricas e abundantes de bens naturais, ou seja, a seringueira. Esse princípio pode ser observado tanto com relação as drogas do sertão no período colonial, como relação à borracha em épocas mais recentes.

Fortaleza do Abunã em 1930. Fonte: BENCHIMOL, Alice. Memória fotográfica da família Benchimol.

Na varanda, Lily Benchimol com Israel. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

De fato, deve ser notado que a existência de reservas ricas e bens naturais foram por assim dizer, um fator importante no alargamento desse território e naturalmente na formação de núcleos populacionais, em especial de estrangeiros e que o látex foi muito importante.

Vale salientar que o seringueiro sempre esteve em busca de estratégias e meios que tornassem viáveis a exploração econômica da floresta. Outro fato importante é que a riqueza existente no interior da densa floresta apresentava-se de forma natural, irregular e literalmente dispersa, o que determinava o acesso à floresta com enormes dificuldades.

Fortaleza do Abunã, um pequeno povoado a 275 quilômetros de Porto Velho, a partir dos anos 70 tornou-se uma atração turística do verão amazônico. Houve um tempo em que os únicos meios de transportes na Amazônia eram os aviões, que atendiam pouquíssimas cidades, a Estrada de Ferro Madeira Mamoré, que ligava Porto Velho a Guajará-Mirim, em Rondônia e os barcos que serpenteavam pelos caminhos tortuosos de nossos rios. Tempo dos seringais e dos castanhais. Imensas áreas de terras que foram, na época, dominadas pelos seringalistas.

Naquela época, as dificuldades eram grandes, as mercadorias eram levadas de Porto Velho para a Vila de Abunã pela Estrada de Ferro Madeira Mamoré. De Abunã, as mercadorias eram transportadas em batelões pelo rio Abunã até a cidade de Plácido de Castro e, dali para Rio Branco ou para os seringais bolivianos e brasileiros mais acima.

Entre as curvas do Rio Abunã, entrelaçada entre pedras a natureza formou uma barreira natural, uma fortaleza que impedia a navegação naquele trecho do rio. Ali parada obrigatória de todos os navegantes, surgiu então, um povoado que se transformou numa importante vila comercial. Assim, fora a época Fortaleza do Abunã, berço de tradicionais famílias de seringalistas e importantes personalidades da região.

Após o final do ciclo do látex e com o desaparecimento dos seringalistas e a chegada da rodovia que passa muito próxima da sede, Fortaleza do Abunã perdeu sua importância, tendo sua população reduzida, entretanto naturalmente a região não perdeu seu encanto. A vocação turística de Fortaleza do Abunã e sua história está impregnada na admiração dos rondonienses e outros visitantes que se encantam pela sua variada topografia. O autor José de Anchieta Santos Correia da Universidade de Rondônia assim destaca Fortaleza do Abunã.


Fortaleza do Abunã é um vilarejo localizado no Distrito de mesmo nome, no município de Porto Velho, Estado de Rondônia. Como cenário encontra-se um vilarejo de 12 km², que tem uma paisagem campestre no seu entorno, seguida de áreas destinadas à agropecuária, intercaladas por trechos remanescentes da floresta Amazônica. Insere-se nesse ambiente uma comunidade com aproximadamente 380 habitantes, integrada por migrantes do próprio estado e outras regiões do país. A população, na sua maioria convive com suporte econômico insipiente e traços culturais heterogêneos. Esse quadro é enriquecido pela presença do Rio Abunã, onde se forma uma praia de areia branca no período da estiagem, tanto do lado brasileiro, tanto do lado boliviano.

O problema ocorre quando a população recebe um vetor social-econômico e ele estranho, nesse caso, o turismo. Os problemas e as soluções propostas foram apreciados numa oficina de sensibilização comunitária realizada no próprio vilarejo, visto que a opção metodológica foi o da pesquisa. No final, são apresentadas sugestões para adoção de um modelo de convívio capaz de privilegiar a comunidade e os recursos naturais, se o turismo for explorado de forma sustentável.²

² CORREIA, José de Anchieta Santos. Fortaleza do Abunã, a comunidade e o turismo: perspectivas de um vilarejo diante da atividade turística com desenvolvimento sustentável, 2006. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente) – Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, UNIR, Porto Velho, 2006. Orientador: Carlos Santos.

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Brasil : Da seca extrema à cheia histórica em pouco tempo: entenda os fatores climáticos que fazem o Acre viver nova emergência
Enviado por alexandre em 04/03/2024 09:14:53

O El Niño, o atraso do inverno amazônico e o aquecimento do Oceano Atlântico fizeram o Rio Acre mudar completamente de panorama em um intervalo curto no mês de fevereiro.


Prédio público de Brasiléia foi praticamente coberto pelas águas do Rio Acre. Foto: Raylanderson Frota/Arquivo pessoal

Poucos meses separam o ápice de uma seca severa e a chegada de enchentes devastadoras no Acre. Para entender as crises sucessivas que levaram emergência para o Estado é preciso considerar ao menos três fatores: a influência do El Niño; o atraso do "inverno amazônico", como é conhecida a estação chuvosa na região; e o impacto do aquecimento do Oceano Atlântico.

Juntos, os fenômenos climáticos fizeram o Rio Acre mudar completamente de panorama em um intervalo curto no mês de fevereiro. No dia 15, seu nível era de 7,06 metros. Já no dia 22, subiu 5,97 m metros no período de 24 horas em Assis Brasil, cidade por onde entra no país. Atualmente, já chegou aos 17,52 metros na capital, Rio Branco. Esse rio inundou sete cidades.

Contexto: o Acre enfrenta cheias que atingem 100 mil pessoas, com 19 das 22 cidades do estado (86%) em situação de emergência, áreas sem energia elétrica, aulas suspensas, plantações perdidas e o registro de quatro mortes. Apenas nos abrigos mantidos pela prefeitura de Rio Branco são mais de 4,3 mil pessoas alojadas, segundo a Defesa Civil Municipal.

Cheia do Rio Acre em Rio Branco. Foto: Júnior Andrade/Rede Amazônica

Os três fatores dos meses de caos

1. O El Niño: impacto no padrão das chuvas

Em outubro de 2023, o nível das águas do Rio Acre estava tão baixo que era possível ver destroços de naufrágios no leito do curso d'água. A seca extrema que assolou o estado é coerente com uma das ocorrências recentes mais severas do El Niño declarada desde 8 de junho de 2024.

O fenômeno é caracterizado pelo aquecimento maior ou igual a 0,5°C das águas do Oceano Pacífico e ocorre a cada dois a sete anos. A duração média é de doze meses, gerando um impacto direto no aumento da temperatura global.

Tradicionalmente, o fenômeno causa secas no Norte e Nordeste do país (chuvas abaixo da média), principalmente nas regiões mais equatoriais; e provoca chuvas excessivas no Sul do país e no sudeste do país.

Atualmente em declínio, ele teve impacto mais direto na diminuição da precipitação em diversos estados amazônicos.

"O que a gente está verificando é que as condições meteorológicas e as massas de ar estão cada vez mais instáveis. Principalmente, quando associadas a grandes eventos. Estamos em ano de El Niño. Toda a faixa oeste da América do Sul está tendo eventos meteorológicos extremos", 

explica o meteorologista e professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Rafael Coll Delgado.
Ponte Metálica José Augusto foi invadida pelas águas do Rio Acre no dia 27 de fevereiro. Foto: Raylanderson Frota/Arquivo pessoal

A desconfiguração da estação chuvosa por conta do El Niño é, justamente, o segundo fator que influencia nas enchentes observadas nas últimas semanas.

2. Atraso do 'Inverno Amazônico': o ápice da precipitação

Outro fator importante para entender as atuais enchentes no Acre é o fenômeno conhecido como 'Inverno Amazônico', que nada mais é que o período de chuvas na Amazônia.

Localizado em uma zona próxima à linha do Equador, o Acre tem clima equatorial caracterizado por altas temperaturas e umidade. O verão geralmente dura entre os meses de junho a agosto. Já o inverno vai de outubro até março.

Em abril e maio, há um período de transição das chuvas para a seca e em setembro a transição de volta ao período chuvoso. O ápice da estação pluvial ocorre geralmente entre janeiro e março. Com isso, sobem os níveis dos rios em toda a região amazônica, já que chove muito, principalmente nas nascentes destes mananciais.

Renato Senna, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa Amazônica (INPA), explica que as características da estação chuvosa são céu encoberto e chuvas contínuas, diferentemente do que se tem observado nas últimas semanas.

Medição em Epitaciolândia, que é a mesma de Brasiléia, aponta medição de 15,55 metros na manhã de quarta-feira (28). Foto: Eldson Júnior/Arquivo pessoal

De acordo com o meteorologista, com o prolongamento das secas, houve uma espécie de atraso na estação chuvosa.

"A situação de chuvas que estamos vivendo agora na região era para ser observada em novembro. Essas pancadas muito rápidas e volumosas são características de transição de estação, e não da estação chuvosa", analisa Senna.
Ele também pontua que as chuvas volumosas na região de nascentes no estado contribuíram para a subida rápida do nível dos rios. "Quando as pancadas acontecem muito próximas à cabeceira dos rios, o nível sobe muito rápido. Mas, a tendência é também descerem rapidamente se a chuva não for contínua", avalia.

Marcelo Seluchi, coordenador-geral de Operação e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) lembra que, anteriormente, bacias dos rios Madeira, Acre, Tapajós e a parte Sul da Região Amazônica estavam com chuvas muito abaixo da média.

Com a configuração desta conjuntura atual com chuvas volumosas não somente no Brasil, mas na parte da selva peruana e no Norte da Bolívia, houve uma rápida elevação no nível dos rios.

3. Aquecimento do Atlântico: mais nuvens carregadas ao norte

O último fator indicado pelos especialistas como responsável pelo caos observado na região é o aquecimento do Oceano Atlântico – ainda que de maneira mais indireta.

De acordo com Seluchi, a águas do Oceano Atlântico que estão um pouco mais quentes ao norte do Equador do que ao sul, o que contribui para a desconfiguração da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT).

Contextualização: a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) é um encontro de ventos na região do Equador. É dos principais sistemas meteorológicos causadores de chuva em parte das regiões Norte e Nordeste do Brasil, segundo o Inmet.

Como é bastante sensível à temperatura do Oceano Atlântico, esse sistema acaba não conseguindo se estabilizar na região amazônica, como seria esperado para esta época do ano.

Renato Senna observa que o sistema deve ficar mais ao norte do que o esperado, não trazendo as chuvas características de março. Com a dificuldade da formação de nuvens pela ausência da ZCIT, há uma tendência de continuidade das pancadas isoladas.

Sozinho, o Rio Acre alagou sete cidades, mas rios como o Abunã, Iaco, Purus, Juruá e Tarauacá também transbordaram e inundaram, respectivamente, as cidades de Plácido de Castro, Sena Madureira; Santa Rosa do Purus; Cruzeiro do Sul, Porto Walter, Marechal Thaumaturgo, Mâncio Lima e Jordão (na porção ocidental do estado); Tarauacá e Feijó. Todas essas cidades estão em situação de emergência, além de Manoel Urbano e Rodrigues Alves.


Por Yuri Marcel, Renato Menezes, Júlia Carvalho, do g1 Acre


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