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Brasil : SILICONE SEIOS
Enviado por alexandre em 10/04/2021 01:35:33

Busca por retirada de prótese tem alta

"Existiu uma fase que a gente não conhecia todos os efeitos a longo prazo de colocação de implante de silicone. Essa é a verdade".


A frase de Maira Caleffi, chefe do serviço de Mastologia do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, é a explicação para um período anterior da história do silicone, quando o procedimento ultrapassou a lipoaspiração e passou a ser o mais popular do Brasil. Hoje, o implante continua com alta procura, mas também está em ascensão a busca para a sua reversão pelas pacientes que já fizeram o procedimento.

 

A cirurgia plástica para o aumento do seio ainda é a mais comum do país, segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica (dados mais recentes, colhidos em 2019), com 211.287 procedimentos por ano. Por outro lado, a retirada do silicone registrou 19.355 cirurgias, com uma alta de 33% em relação ao ano anterior.

 

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Mesmo que a cirurgia para colocar a prótese ainda seja a mais frequente (15% do total no mundo), os dados sinalizam uma possível mudança de comportamento: a retirada do silicone já está na lista das 20 intervenções mais procuradas (2% do total) - em 2010 nem era mencionada no relatório.

 

Novos problemas


Nos anos 2000, o silicone passou a ser um dos padrões estéticos e, como a médica mastologista lamenta, muito influenciado pela recomendação dos próprios cirurgiões plásticos.

 

Jornada de artista para retirar próteses de silicone nos faz pensar sobre a  indústria da beleza | Hypeness – Inovação e criatividade para todos.

 

"Teve uma onda dos [cirurgiões] plásticos de achar mais bonito, de ficar mais durinho e tal. As mulheres também foram muito convencidas a fazer, entende?! Não é só culpa das mulheres. Teve aí uma superindicação do lado dos médicos" - Maira Caleffi


Mais de 20 anos depois, na era do Instagram, a comparação entre corpos está longe de terminar, mas começaram a surgir também novos padrões, uma facilidade maior de entrar em contato com todos os formatos.

 

Junto a isso, uma síndrome relacionada ao uso da prótese também passa a influenciar algumas mulheres: a Asia (síndrome autoimune-inflamatória induzida por adjuvante). O primeiro registro na literatura é de 2011.

 

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"Muitas pacientes ficam apreensivas e solicitam a retirada dos implantes mesmo quando não há indicação ou comprovação da doença. Isso causou um aumento no número de cirurgias de explantes do silicone", disse Henrique Lopes Arantes, cirurgião plástico, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

 

A Asia é uma doença autoimune e está relacionada à presença do implante mamário. Ela é consequência de uma reação inflamatória do organismo à presença do silicone.

 

De acordo com Arantes, os sintomas são muito inespecíficos e variados: dores nas mamas, fraqueza muscular, dores articulares, cansaço, sonolência e distúrbios do sono, perda de foco, falta de equilíbrio, espasmos musculares, perda de memória, febre e boca seca.

 

Assistente de palco do Domingo Legal retira o silicone: 'Bomba  relógio'|Mais Novela

 

O que os dois especialistas esclarecem é que a doença é extremamente rara. Ter os sintomas não necessariamente é um problema relacionado ao silicone -- a resposta correta será dada apenas após consulta com um médico especialista, um mastologista.

 

"Eu peço exames. Inclusive um dos exames mais importantes que é a ressonância magnética junto com uma ecografia, ultrassonografia, para saber se tem uma camada de líquido ao redor do implante. Isso é um dos sinais de alerta para que a gente comece a pensar nessa coisa tão rara que é a ação dessa síndrome", disse Caleffi.

 

Caso haja a manifestação, mesmo que "muito, muito, muito rara", é possível fazer a retirada da prótese. O silicone continua sendo a principal alternativa para pacientes que precisam de intervenção estética para aumento do seio, e isso também é importante para algumas mulheres.

 

Bella Falconi mostra próteses de silicone após cirurgia | OFuxico

 

"Pra quem não tem nada, tem um seio muito pequeno, ou tem uma mama muito machucada pela amamentação, ou emagreceu, ainda é importante fazer, não é só uma questão de moda. O que é uma pena é que a coisa foi pra um caminho maluco com 400 gramas por mama, sabe?!", disse a médica.

 

Próteses mudaram


As próteses mudaram: "os implantes estão em constante evolução, desde consistência do gel, revestimento, composição e peso", explicou Arantes.

 

Qué debe saber sobre los implantes de seno | FDA

Fotos: Reprodução

 

"O que mais evoluiu nas próteses é a questão da cápsula. Do tipo de invólucro dela, não tanto o material dela lá dentro. A gente vê que temos próteses muito mais resistentes, com menos chance de vazamento e tudo mais", disse Caleffi.

 

O material não precisa necessariamente ser trocado a cada 10 anos, de acordo com o cirurgião plástico e a mastologista.

 

"É fundamental uma consulta anual com seu cirurgião plástico para avaliar como estão os implantes e se há algum sinal de complicação que indique a troca ou retirada dos mesmos. Não há qualquer consequência ficar com os implantes por mais de 10 anos se estes estiverem em perfeito estado e a paciente satisfeita", explicou Arantes.

 

 

A alternativa para o aumento do seio sem o uso de uma prótese é o uso da gordura do próprio corpo. "Nesse caso, realiza-se uma lipoaspiração para coletar gordura, prepara-se essa gordura e realiza-se o enxerto imediatamente", completou o médico. 

 

Fonte: G1

Brasil : LIBERTADORES
Enviado por alexandre em 09/04/2021 23:36:47

Veja os grupos onde estão os times brasileiros após o sorteio

A Conmebol sorteou na tarde desta sexta-feira, em um evento virtual na sua sede em Luque, no Paraguai, os grupos da Libertadores 2021.

 

Atual campeão do torneio, o Palmeiras foi cabeça de chave do Grupo A e pode ter outro brasileiro em seu grupo: o Grêmio, caso o time gaúcho passe pelo Del Valle-EQU na Pré-Libertadores. O primeiro jogo será nesta sexta-feira, às 19h15, no Paraguai.

 

O Santos, outro brasileiro que disputa a Pré-Libertadores, cairá no grupo que tem o Boca Juniors como cabeça de chave caso elimine o San Lorenzo, da Argentina. O Peixe venceu na ida, fora de casa, por 3 a 1.

 

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São Paulo e Flamengo são outros brasileiros cabeças de chave. Internacional e Atlético-MG estavam no pote 2 do sorteio, enquanto o Fluminense estava no pote 3.

 

Veja abaixo todas as chaves:

 

 
Grupo A: Palmeiras, Defensa y Justicia-ARG, Universtario-PER, G2 (Grêmio ou Del Valle-EQU)


Grupo B: Olimpia-PAR, Internacional, Deportivo Táchira-VEN, Always Ready-BOL.


Grupo C: Boca Juniors-ARG, Barcelona Guayaquil, The Strongest-BOL, G4 (San Lorenzo ou Santos)


Grupo D: River Plate-ARG, Independente Santa Fe-COL, Fluminense, G3 (Bolivar ou Jr Barranquila)


Grupo E: São Paulo, Racing-ARG, Sporting Cristal-PER, Rentistas-URU)


Grupo F: Nacional-URU, Universidad Catolica-CHI, Argentinos Juniors-ARG, G1 [Libertad ou Atletico Nacional-COL)


Grupo G: Flamengo, LDU, Vélez Sarsfield-ARG, Unión Calera-CHI.


Grupo H: Cerro Porteño-PAR, Atlético-MG, América de Cali-COL, Deportivo Laguaira-VEN.


A fase de grupos da Libertadores começa daqui a duas semanas. A primeira rodada acontecerá entre os dias 20, 21 e 22 de abril. A tabela ainda será desmembrada pela Conmebol.

 

A final da Libertadores está marcada para 20 de novembro, e decisão da Sul-Americana prevista para 6 de novembro. Os locais dos jogos ainda não foram definidos.

 

 

A exemplo das últimas edições, depois da definição dos oito grupos de quatro times cada, as equipes se enfrentam em jogos de ida e volta dentro da chave. Os dois melhores avançam às oitavas de final. Nessa fase, os duelos serão definidos em sorteio, com vantagem de decidir em casa para o time de melhor campanha.

 

Fonte: Globo Esporte

Brasil : CARIBE
Enviado por alexandre em 07/04/2021 00:26:09

Ilha no Caribe oferece visto especial de moradia para pessoas se isolarem na natureza

Programa do governo de Dominica admite que estrangeiros trabalhem remotamente e residam no local por até 18 meses

Faixa litorânea em Roseau, capital de Dominica, no Caribe (Foto: Pixabay/Richard Todd)

Que tal morar numa ilha do Caribe e trabalhar remotamente em meio a natureza? Pode parecer um sonho, mas é isso que o governo de Dominica, país insular entre Guadalupe e Martinica, oferece para pessoas do mundo inteiro. 

Batizado de Work In Nature (Trabalhe na Natureza, em tradução literal), o programa possibilita que nômades digitais, trabalhadores remotos, acadêmicos, famílias e indivíduos em período sabático tirem o visto especial de maneira fácil e se mudem para a ilha por até 18 meses (um ano e meio). 

Anunciado em março, o governo local espera promover o turismo na ilha e promete estimular um equilíbrio entre a vida profissional e familiar aos interessados. Segundo um comunicado oficial de Denise Charles, Ministra do Turismo de Dominica, o visto oferece o perfeito antídoto para “a destruição e o estresse que a pandemia de Covid-19 tem causado ao redor do mundo”. 

O destino, de apenas 71 mil habitantes, é conhecido como “a ilha natural” por conta de suas montanhas, florestas, rios, lagos e quedas d’água. O local é popular entre viajantes independentes e ecoaventureiros, com o inglês como a língua oficial. 

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Como obter o visto?
Para serem elegíveis ao visto, os candidatos devem ser maiores de 18 anos e não terem antecedentes criminais, de acordo com os requisitos oficiais. Eles devem ainda comprovar que conseguem se sustentar no local ou que possuem a expectativa de ganhar US$50 mil (cerca de R$ 282 mil) ou mais nos 12 meses seguintes. Aqueles que forem trabalhar remotamente só serão aceitos se tiverem vínculos com uma empresa que seja registrada fora de Dominica. 

Todos os candidatos devem pagar S$100 pela inscrição. Além disso, interessados solteiros pagam US$800 pelo visto em si e os viajantes que desejarem ir com a família pagam US$1200 no total, em que o estudo das crianças em escolas públicas ou privadas na ilha é estimulado. Já aqueles que forem pela empresa, há taxa de US$800 iniciais mais US$500 para cada funcionário adicional (a partir de quatro indivíduos). 

As respostas às inscrições são fornecidas em sete dias e os candidatos aprovados possuem um período de três meses para se mudarem para a ilha. 

Scotts Head, vila na costa sudoeste de Dominica (Foto: Wikimedia Commons/Konstantin Krismer)

Onde morar
As opções de acomodações são variadas: como toda ilha caribenha, há uma seleção de resorts de luxo, hotéis boutique, chalés ecológicos e pousadas. Há ainda vilas e apartamentos, que podem ser contatados via serviço de empresas imobiliárias locais. 

A ilha oferece internet de alta velocidade, serviços de tecnologia, instalações de saúde, opções educacionais para famílias e oportunidades para programas de voluntariado com ONGs e entidades do setor privado. 

Viajantes do Brasil
Pessoas do mundo inteiro são convidadas a morar na ilha, mas há algumas classificações a serem seguidas de acordo com a situação da pandemia da Covid-19 em cada país. Atualmente, o Brasil está listado como um local de “Alto Risco” aos olhos do governo de Dominica.

Isso quer dizer que viajantes brasileiros devem preencher um questionário de saúde pelo menos 24 horas antes do desembarque e mostrarem um teste de PCR negativo feito entre 24 e 72 horas antes da chegada na ilha. No desembarque, um teste rápido será feito e, caso negativo, o viajante ficará hospedado por pelo menos 5 dias em uma facilidade do governo antes de ser liberado para circulação na ilha – com uso de máscaras e distanciamento social. 

Confira a relação de países listados de acordo com diferentes categorias de risco da Covid-19 clicando aqui.

Brasil : SEXO ANTIGAS
Enviado por alexandre em 06/04/2021 00:21:26

Como eram as relações sexuais dos neandertais

Seus olhares se encontraram em meio à paisagem montanhosa da Romênia pré-histórica.

Ele era um neandertal e estava completamente nu, exceto por uma capa de pele de animal. Tinha boa postura e pele clara, talvez ligeiramente avermelhada pelo Sol. Ao redor do bíceps musculoso, usava um bracelete de garras de águia.

Ela era uma humana moderna primitiva, vestida com um casaco de pele com acabamento em pele de lobo. Tinha a pele escura, pernas longas e usava tranças no cabelo.

Ele pigarreou, olhou para ela de cima a baixo e — com uma voz anasalada e estridente — lançou sua melhor cantada.

Ela olhou de volta fixamente. Para sorte dele, eles não falavam a mesma língua. Deram uma risada meio sem jeito e, a partir daí, podemos adivinhar o que aconteceu a seguir.

Claro, pode não ter sido uma cena de romance tórrido. Talvez a mulher fosse, na verdade, neandertal, e o homem pertencesse à nossa própria espécie. Talvez o relacionamento deles fosse do tipo casual e pragmático, simplesmente porque não havia muitas pessoas por perto na época. E há quem sugira que tais relações não eram consensuais.

Embora nunca saibamos o que realmente aconteceu no encontro acima — ou em outros como este —, o que podemos ter certeza é que esse casal ficou junto.

Cerca de 37 mil a 42 mil anos depois, em fevereiro de 2002, dois exploradores fizeram uma descoberta extraordinária em um sistema de cavernas subterrâneas nas montanhas ao sudoeste dos Cárpatos, perto da cidade romena de Anina.

Chegar até lá não foi uma tarefa fácil. Primeiro, eles atravessaram um rio subterrâneo com água até o pescoço por 200 metros.

Montanhas do sul dos Cárpatos

Crédito, NPL/Alamy

Legenda da foto,

Um encontro amoroso entre nossos ancestrais humanos modernos e os Neandertais poderia ter ocorrido nas montanhas dos Cárpatos

Depois, mergulharam 30 metros ao longo de uma passagem subaquática, e subiram 300 metros até a poarta ou "buraco de rato" — uma abertura pela qual eles entraram em uma câmara até então desconhecida.

Dentro da Peştera cu Oase ou "Caverna com Ossos", eles encontraram milhares de ossos de mamíferos. Ao longo da história, acredita-se que a caverna tenha sido habitada sobretudo por ursos-das-cavernas machos — parentes extintos do urso-pardo — aos quais os ossos pertenciam em grande parte.

Entre eles, estava uma mandíbula humana, cuja datação por radiocarbono revelou ser de um dos mais antigos humanos modernos primitivos conhecidos na Europa.

Acredita-se que os restos mortais tenham sido levados naturalmente pela água para dentro da caverna e permanecido intactos desde então.

Na época, os cientistas notaram que embora a mandíbula fosse inconfundivelmente moderna em sua aparência, ela também continha algumas características incomuns, semelhantes aos neandertais. Anos depois, a suspeita foi confirmada.

Quando os cientistas analisaram o DNA extraído da descoberta em 2015, eles descobriram que o indivíduo era do sexo masculino e provavelmente de 6 a 9% neandertal.

Esta é a maior concentração já encontrada em um ser humano moderno, e cerca de três vezes a quantidade encontrada nos europeus e asiáticos atuais, cuja composição genética é de aproximadamente 1 a 3% neandertal.

Como o genoma continha grandes trechos de sequências ininterruptas de neandertal, os pesquisadores calcularam que o dono da mandíbula provavelmente teve um ancestral neandertal quatro ou seis gerações antes.

E determinaram que o cruzamento provavelmente ocorreu menos de 200 anos antes da época em que ele vivia.

Além da mandíbula, a equipe encontrou fragmentos de crânio de outro indivíduo em Peştera cu Oase, que possuía uma mistura de características semelhantes.

Os cientistas ainda não foram capazes de extrair o DNA desses restos mortais, mas, assim como a mandíbula, acredita-se que possam ter pertencido a alguém com ascendência neandertal recente.

Desde então, as evidências de que o sexo entre os humanos modernos primitivos e os neandertais não era um evento raro têm se acumulado.

Garra de uma águia

Crédito, STR/AFP/Getty Images

Legenda da foto,

Há cerca de 130 mil anos, um neandertal onde hoje é a Croácia cortou a garra de uma águia — possivelmente para fazer joias

Nos genomas das populações atuais, há indícios de que isso aconteceu em muitas ocasiões diferentes e em uma ampla área geográfica.

Até hoje, há pessoas carregando material genético de pelo menos duas populações diferentes de neandertais, o que uma análise sugere que eles procriaram com humanos várias vezes na Europa e na Ásia.

Na verdade, o DNA neandertal pode ser encontrado em todas as pessoas vivas hoje, incluindo naquelas de ascendência africana, cujos ancestrais não teriam tido contato direto com esse grupo. E a transferência também aconteceu no caminho inverso.

Em 2016, os cientistas descobriram que os neandertais das montanhas Altai, na Sibéria, podem ter compartilhado de 1 a 7% de sua genética com os ancestrais dos humanos modernos, que viveram cerca de 100 mil anos atrás.

Embora você possa pensar que os detalhes sórdidos dessas antigas relações se perderam na pré-história, há indícios ainda hoje por aí sobre como poderiam ter sido. A seguir, tudo o que você sempre quis saber sobre este excitante episódio da história humana.

O beijo

Em 2017, a antropóloga Laura Weyrich, da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos, descobriu a marca fantasmagórica de um parasita microscópico de 48 mil anos agarrado a um dente pré-histórico.

"Vejo os micróbios antigos como uma forma de aprender mais sobre o passado, e o tártaro é realmente a única maneira confiável de reconstruir os microrganismos que viveram dentro dos humanos antigos", diz Weyrich.

Ela estava particularmente interessada no que os neandertais comiam e como interagiam com o ambiente. Para descobrir, sequenciou o DNA da placa dentária de dentes encontrados em três cavernas diferentes.

Duas das amostras foram retiradas de 13 neandertais encontrados em El Sidrón, no noroeste da Espanha.

O local foi recentemente alvo de intrigas, quando foi revelado que muitos desses indivíduos parecem ter sofrido de anomalias congênitas, como rótulas e vértebras deformadas e dentes de leite que permaneceram por muito tempo depois da infância.

Suspeita-se que o grupo seja composto por parentes próximos, que acumularam genes recessivos após uma longa história de endogamia.

A família não teve um final feliz — seus ossos estão gravados com sinais de que foram canibalizados. Acredita-se que estavam entre os últimos neandertais a andar na Terra.

Para a surpresa de Weyrich, um dos dentes de El Sidrón continha a assinatura genética de um microrganismo semelhante a uma bactéria, Methanobrevibacter oralis, que ainda hoje se encontra na nossa boca.

Ao comparar a versão neandertal com a versão humana moderna, ela foi capaz de estimar que as duas se separaram há cerca de 120 mil anos.

Se os neandertais e os humanos atuais sempre compartilharam os mesmos "companheiros" bucais, seria de se esperar que isso tivesse acontecido bem antes — há pelo menos 450 mil anos, quando as duas subespécies seguiram caminhos diferentes.

"O que isso significa é que o microrganismo foi transferido desde então", diz Weyrich.

É impossível saber com certeza como isso aconteceu, mas pode estar relacionado a outra coisa que ocorreu há 120 mil anos.

"Para mim, o que é fascinante é que este também é um dos primeiros períodos em que descrevemos o cruzamento entre humanos e neandertais", revela. "É maravilhoso ver um micróbio envolvido nessa interação."

Segundo ela, uma possível rota para essa transferência é o beijo. "Quando você beija alguém, os micróbios orais vão e vêm entre as bocas", explica.

"Pode ter acontecido uma vez, mas de alguma forma propagado magicamente, se o grupo de pessoas infectadas acabou sendo bem-sucedido. Mas também pode ser algo que ocorria com mais regularidade."

Outra maneira de transferir os micróbios orais é compartilhando alimentos. E embora não haja nenhuma evidência direta de um neandertal preparando uma refeição para um humano moderno primitivo, um jantar romântico poderia ter sido uma fonte alternativa de M. oralis.

Para Weyrich, a descoberta é emocionante porque sugere que nossas interações com outros tipos de humanos, há muito tempo, moldaram as comunidades de microrganismos que carregamos hoje.

Crânio neandertal comparado com o do Homo sapiens

Crédito, Sabena Jane Blackbird/Alamy

Legenda da foto,

Os neandertais (à direita) tinham rostos projetados, testas baixas com sobrancelhas pronunciadas, maçãs do rosto largas e queixos retraídos em comparação com o Homo sapiens

Isso levanta uma questão para Weyrich: "Nosso microbioma estaria funcionando corretamente porque coletamos microorganismos dos neandertais?"

Por exemplo, embora a M. oralis tenda a ser associada a doenças da gengiva em humanos modernos, Weyrich diz que ela foi encontrada em muitos indivíduos pré-históricos que tinham dentes perfeitamente saudáveis.

No futuro, ela pretende usar os dados coletados das placas dentárias antigas para reconstruir microbiomas orais mais saudáveis ​​para as pessoas que vivem no mundo moderno.

Neandertais do sexo masculino ou feminino?

É impossível dizer com certeza se eram particularmente mulheres neandertais se relacionando com homens modernos primitivos, ou o contrário — mas há algumas pistas.

Em 2008, arqueólogos descobriram um osso de dedo quebrado e um único dente molar na caverna Denisova nas montanhas Altai da Rússia, de onde se revelou uma nova subespécie humana.

Durante anos, os denisovanos foram conhecidos apenas por um punhado de amostras descobertas neste local, junto com seu DNA, a partir do qual os cientistas descobriram que seu legado continua até hoje nos genomas de pessoas descendentes do leste asiático e da Melanésia.

Os denisovanos eram muito mais próximos dos neandertais do que os humanos de hoje; as duas subespécies podem ter tido linhagens que coexistiram na Ásia por centenas de milhares de anos.

Isso se tornou particularmente evidente em 2018, com a descoberta de um fragmento ósseo que pertencia a uma jovem — apelidada de Denny —, filha de mãe neandertal e pai denisovano.

Consequentemente, faria sentido se os cromossomos sexuais masculinos dos neandertais fossem semelhantes aos dos denisovanos.

Mas quando os cientistas sequenciaram o DNA de três neandertais, que viveram entre 38 mil e 53 mil anos atrás, ficaram surpresos ao descobrir que seus cromossomos Y tinham mais em comum com os dos humanos atuais.

Segundo os pesquisadores, isso é evidência de um "forte fluxo gênico" entre os neandertais e os humanos modernos primitivos — eles estavam procriando bastante entre si.

Com tanta frequência, na verdade, que conforme o número de neandertais diminuía no final de sua existência, seus cromossomos Y podem ter se extinguido e sido substituídos inteiramente pelos nossos.

Isso sugere que um número significativo de ancestrais homens dos humanos estava fazendo sexo com mulheres neandertais.

Mas a história não termina por aí. Outra pesquisa mostrou que quase exatamente o mesmo destino se abateu sobre as mitocôndrias dos neandertais — maquinário celular que ajuda a transformar açúcares em energia útil.

Elas são passadas ​​exclusivamente das mães para os filhos, então, quando as primeiras mitocôndrias humanas modernas foram encontradas em restos mortais neandertais em 2017, deu a entender que nossas ancestrais também estavam fazendo sexo com homens neandertais.

Neste caso, é provável que o cruzamento tenha acontecido entre 270 mil e 100 mil anos atrás, quando os humanos estavam confinados principalmente à África.

Infecções sexualmente transmissíveis

Há alguns anos, Ville Pimenoff estava estudando a infecção sexualmente transmissível pelo papilomavírus humano (HPV) quando percebeu algo estranho.

Os papilomavírus são onipresentes entre os animais, incluindo ursos, golfinhos, tartarugas, cobras e pássaros — na verdade, eles foram encontrados em quase todas as espécies que foram estudadas quanto à sua presença.

Somente entre os humanos, há mais de cem cepas diferentes em circulação, que são responsáveis ​​por 99,7% dos cânceres cervicais em todo o mundo. Destes, um dos mais letais é o HPV-16, que pode permanecer no corpo por anos, uma vez que corrompe silenciosamente as células que infecta.

Mas existe uma divisão global clara entre onde certas variantes desse vírus são encontradas. Na maior parte do planeta, é mais provável que você encontre o tipo A, enquanto na África subsaariana a maioria das pessoas está infectada com os tipos B e C.

Curiosamente, o padrão corresponde exatamente à distribuição do DNA neandertal em todo o mundo — não apenas as pessoas na África subsaariana são portadoras de cepas incomuns de HPV, como carregam relativamente pouco material genético neandertal.

Para descobrir o que estava acontecendo, Pimenoff usou a diversidade genética do tipo A hoje para calcular que surgiu há cerca de 60 mil a 120 mil anos.

Isso o torna muito mais jovem do que os outros tipos de HPV-16 — e, mais importante, foi por volta dessa época que os humanos modernos primitivos saíram da África e entraram em contato com os neandertais.

Embora seja difícil obter uma prova cabal, Pimenoff acredita que eles começaram a trocar imediatamente infecções sexualmente transmissíveis — e que a divisão das variantes do HPV-16 reflete o fato de que adquirimos o tipo A de seus ancestrais.

"Testei milhares de vezes usando técnicas computacionais, e o resultado foi sempre o mesmo — que este é o cenário mais plausível", diz Pimenoff.

Com base na forma como os vírus do HPV se propagam hoje, ele suspeita que o vírus não foi transferido para os humanos apenas uma vez, mas em muitas ocasiões diferentes.

"Esses encontros sexuais devem ter sido bastante comuns na Eurásia, em áreas onde ambas as populações humanas estavam presentes."

Pimenoff também acredita que a aquisição do tipo A dos neandertais explica por que ele é tão cancerígeno em humanos — como o encontramos pela primeira vez há relativamente pouco tempo, nosso sistema imunológico ainda não evoluiu para ser capaz de curar a infecção.

Neandertal

Crédito, Lambert/Ullstein Bild/Getty Images

Legenda da foto,

Ambos os homens e mulheres de neandertal parecem ter cruzado com nossa própria espécie, de acordo com registros genéticos

Na verdade, o sexo com os neandertais pode ter nos deixado com vários outros vírus, incluindo um antigo primo do HIV. Mas não há necessidade de ficar ressentido com nossos parentes há muito tempo perdidos, porque também há evidências de que passamos infecções sexualmente transmissíveis a eles — incluindo herpes.

Órgãos sexuais

Embora possa parecer grosseiro imaginar como eram os pênis e as vaginas dos neandertais, os órgãos genitais de diferentes organismos têm sido objeto de um vasto corpo de pesquisas científicas.

No momento em que este artigo foi escrito, a procura por "evolução do pênis" na ferramenta de busca de artigos acadêmicos Google Scholar retornou 98 mil resultados, enquanto "evolução da vagina" resultou em 87 mil.

O fato é que os órgãos sexuais de um animal podem revelar muito sobre seu estilo de vida, estratégia de acasalamento e história evolutiva — portanto, fazer perguntas sobre suas genitálias é apenas outro caminho para entendê-los.

O reino animal contém uma variedade caleidoscópica de designs criativos.

Isso inclui o polvo argonauta e seu pênis destacável parecido com uma minhoca, que pode nadar sozinho para acasalar com as fêmeas — uma característica prática que acredita-se ter evoluído porque os machos têm apenas cerca de 10% do tamanho das fêmeas; e as vaginas triplas dos cangurus, que possibilitam que as fêmeas fiquem perpetuamente grávidas.

Uma maneira pela qual o pênis humano é incomum é que ele tem a superfície lisa. Nossos parentes vivos mais próximos, os chimpanzés-comum e bonobos — com quem compartilhamos cerca de 99% do nosso DNA — têm "espinhos penianos".

Acredita-se que essas pequenas farpas, que são feitas da mesma substância da pele e do cabelo (queratina), tenham evoluído para limpar o sêmen de machos concorrentes ou para irritar levemente a vagina da mulher e impedi-la de fazer sexo novamente por um tempo.

Em 2013, cientistas descobriram que o código genético para os espinhos penianos não está presente nos genomas dos neandertais e denisovanos, assim como nos humanos modernos, sugerindo que ele desapareceu de nossos ancestrais coletivos há pelo menos 800 mil anos.

Os espinhos penianos são considerados mais úteis em espécies promíscuas uma vez que podem ajudar os machos a competir com outros e maximizar as chances de reprodução.

Isso levou à especulação de que — assim como nós — os neandertais e denisovanos eram em sua maioria monogâmicos.

Pulando a cerca

No entanto, há alguns indícios que sugerem que os neandertais pulavam mais a cerca do que os humanos modernos.

Estudos em fetos mostraram que a presença de andrógenos, como a testosterona no útero, pode afetar a "proporção dos dedos" de uma pessoa na idade adulta — medida de comparação entre os comprimentos dos dedos indicador e anelar, que é calculada dividindo o primeiro pelo segundo.

Em um ambiente com níveis elevados de testosterona, as pessoas tendem a ter proporções menores. Isso é verdade independentemente do sexo biológico.

Desde esta descoberta, foram encontradas associações entre a "proporção dos dedos" e atratividade facial, orientação sexual, apetite pelo risco, desempenho acadêmico, como as mulheres são empáticas, como os homens parecem dominantes e até mesmo o tamanho de seus testículos — embora alguns estudos nessa área sejam controversos.

Em 2010, uma equipe de cientistas notou também um padrão entre os parentes mais próximos dos humanos.

Chimpanzés, gorilas e orangotangos — que geralmente são mais promíscuos — apresentaram uma "proporção de dedos" mais baixa em média, enquanto um humano moderno primitivo encontrado em uma caverna israelense e os humanos atuais tinham uma proporção mais alta (0,935 e 0,957, respectivamente).

Os humanos são geralmente monogâmicos, então, os pesquisadores sugeriram que pode haver uma ligação entre a proporção dos dedos de uma espécie e a estratégia sexual.

Se eles estiverem certos, os neandertais — cuja proporção estava entre os dois grupos acima (0,928) — eram ligeiramente menos monogâmicos do que os humanos modernos primitivos e os atuais.

Família

Depois que o casal neandertal-humano-moderno-primitivo do início deste artigo se formou, os dois podem ter se estabelecido perto de onde o homem vivia, com cada geração seguindo o mesmo padrão.

Evidências genéticas de neandertais sugerem que as famílias eram compostas pelos homens, suas parceiras e os filhos. As mulheres pareciam sair da casa da família quando encontravam um parceiro.

Outro indício sobre a vida amorosa entre os humanos modernos primitivos e os neandertais vem de um estudo dos genes que eles deixaram para trás no povo islandês hoje.

No ano passado, uma análise dos genomas de 27.566 desses indivíduos revelou as idades em que os neandertais costumava ter filhos: embora as mulheres fossem geralmente mais velhas do que suas homólogas humanas modernas primitivas, os homens geralmente eram pais jovens.

Se nosso casal tivesse um bebê, talvez — como outros neandertais —, a mãe o teria amamentado por cerca de nove meses e o desmamado completamente por volta dos 14 meses, mais cedo do que os humanos nas sociedades não industriais modernas.

A curiosidade em relação a esses relacionamentos antigos está revelando novas informações sobre como os neandertais viviam em geral — e por que desapareceram.

Mesmo que você não tenha interesse em humanos antigos, acredita-se que essas uniões tenham contribuído para uma série de características que os humanos modernos carregam hoje, desde o tom da pele, altura e cor do cabelo até nossos padrões de sono, humor e sistema imunológico.

Aprender sobre eles já está levando a possíveis tratamentos para doenças modernas, como medicamentos que têm como alvo um gene neandertal que pode contribuir para casos graves de covid-19.

Atualmente, acredita-se que a extinção dos neandertais, há cerca de 40 mil anos, pode ter sido em parte causada por nossa atração mútua, assim como por fatores como mudanças climáticas repentinas e endogamia.

Uma teoria emergente é que as doenças transmitidas pelas duas subespécies — como o HPV e herpes — inicialmente formaram uma barreira invisível, que os impedia de expandir seu território e, potencialmente, entrar em contato.

Nas poucas áreas em que coexistiram, eles procriaram, e os humanos modernos primitivos adquiriram genes de imunidade úteis que de repente tornaram possível se aventurar mais longe.

Mas os neandertais não tiveram essa sorte — a modelagem computacional sugere que se eles tivessem uma carga maior de doenças para começar, podem ter permanecido vulneráveis ​​a essas novas cepas exóticas por mais tempo, independentemente do cruzamento — e isso significa que eles ficaram presos.

Posteriormente, os ancestrais dos humanos atuais chegaram a seus territórios e os exterminaram.

Outra teoria é que sua população relativamente pequena foi gradualmente absorvida pelos humanos modernos primitivos. Afinal, eles já haviam adotado amplamente nossos cromossomos Y e mitocôndrias, e pelo menos 20% de seu DNA ainda existe em pessoas vivas hoje.

Talvez o casal que ficou junto na Romênia pré-histórica viva em alguém que está lendo este artigo agora.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site Future.

Brasil : ANIMAIS
Enviado por alexandre em 05/04/2021 01:19:48

Estudo revela que o Brasil ainda é o celeiro de animais desconhecidos

Dupla de cientistas consegue prever onde estão os seres vivos ainda não catalogados; pela amostragem, 10% estão no território brasileiro

 CNN.

Animais brasileiros
Botos, pererecas, macacos e pássaros estão entre as espécies descobertas nos últimos anos
Foto: WWF Brasil

No princípio, éramos nós e eles. Os humanos e os outros seres vivos. À medida que a ciência avançou, eles passaram a ser mais conhecidos e compreendidos. E foi em uma toada cientificista que, no século 18, o botânico, zoólogo e médico sueco Carl Linnaeus (1707-1778) inventou um método para classificar os seres vivos. É como eles são identificados até hoje e, por isso, Linnaeus é reconhecido como o “pai da taxonomia moderna”.

Os cientistas da natureza se depararam com enormidades nesse exercício de recolher, analisar e catalogar. Perceberam que, dos seres microscópicos aos gigantescos, são muitas as criaturas que habitam o planeta: até o momento, a lista já está na casa de 1,5 milhão. E estimativas recentes apontam para um fosso abissal de desconhecimento — no total, a Terra seria habitada por 8,7 milhões de espécies diferentes. 

Se a missão de muitos pesquisadores hoje é seguir nesse trabalho de formiguinha de encontrar espécies novas e classificá-las, uma dupla de pesquisadores resolveu mirar além: utilizando como amostragem apenas os animais vertebrados terrestres -- uma gama de 32 mil espécies --, eles cravaram onde estão esses seres vivos ainda desconhecidos. E quais os tipos deles. Todas as conclusões foram obtidas a partir da concepção de modelos matemáticos.

“Esses modelos permitiram mapear as regiões da Terra com maiores quantidades de espécies formalmente desconhecidas, fornecendo uma previsão para cada pedaço do nosso mapa”, afirma o biólogo e ecólogo brasileiro Mario Ribeiro de Moura, professor da Universidade Federal da Paraíba. Ele desenvolveu o estudo em parceria com o supervisor de seu pós-doutorado na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, o também biólogo e ecólogo Walter Jetz. A pesquisa foi publicada em março no periódico científico Nature Ecology and Evolution.

A conclusão principal é que as florestas tropicais são o principal celeiro desses vertebrados ainda não catalogados. Metade dessas espécies são desse tipo de bioma. E 25% delas estão concentradas em quatro países — Brasil, Indonésia, Madagascar e Colômbia. O estudo permite ainda tipificar as futuras descobertas: 48% serão de répteis, como lagartixas, serpentes e lagartos; 30%, de anfíbios, como sapos, pererecas e rãs; 15% de mamíferos, principalmente roedores e morcegos; e 6% de aves, na maior parte as canoras.

O maior número dessas potenciais descobertas está no Brasil. “Se somarmos as previsões computadas ao longo de todo o território brasileiro, verificamos que elas representam 10% do total de espécies desconhecidas estimadas para o planeta”, resume Moura.

  • Poaieiro-de-Chico Mendes (Zimmerius chicomendesi)
  • Zimmerius chicomendesi
  • Zogue Zogue Rabo de Fogo (Callicebus miltoni)
  • O macaco Zogue Zogue Rabo de Fogo (Callicebus miltoni)
  • O pássaro Cantador-de-Rondon
  • Rapazinho-estriado-do-oeste (Nystalus obamai)
  • Boto-araguaiano (Inia Araguaiensis)
  • Boto-araguaiano (Inia Araguaiensis)
  • Potamotrygon limai
  • Spectracanthicus zuanon
  • Pristimantis jamescameroni
  • Bico-chato-do-sucunduri

 

Ignorância ambiental e necessidade de preservação

Com o desmatamento e todas as agressões ambientais, os pesquisadores temem que muitas dessas espécies sejam extintas antes mesmo de serem descobertas oficialmente. “[Seriam] para sempre perdidas”, frisa o ecólogo. “Permaneceremos ignorantes sobre os possíveis valores ecológicos, serviços ecossistêmicos e até mesmo relevância econômica que essa espécie pudesse vir a apresentar”, completa.

O mundo já enfrenta esse problema, na realidade. Estudos indicam que de 15% a 59% das extinções que vêm ocorrendo são de espécies que ainda não foram catalogadas cientificamente. 

Especialistas e ativistas procurados pela CNN Brasil avaliaram a importância dessa pesquisa recém-publicada. Em comum, a tônica de suas preocupações converge para a necessidade de preservação ambiental. Vale ressaltar que, de acordo com dados recentes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), apenas em 2020 a chamada Amazônia Legal ficou 11 mil quilômetros quadrados menor por causa do desmatamento desenfreado. Em 2009, o governo brasileiro apresentou à Convenção do Clima, em conferência realizada em Copenhague, na Dinamarca, a meta de se manter dentro de um limite de cerca de 3 mil quilômetros quadrados em 2020.

O biólogo e ecólogo Lucas Navarro Paolucci, professor da Universidade Federal de Viçosa (MG), ressalta que o trabalho demonstra os esforços da comunidade científica para preencher as lacunas taxonômicas. Além disso, o material serve de subsídio para compreender outras dimensões da biodiversidade, como as interações ecológicas das quais essas espécies participam, como por exemplo a dispersão de sementes e predação de herbívoros. 

“Esses resultados reforçam a necessidade de termos políticas sérias de conservação ambiental dos nossos ecossistemas, sob risco de não apenas deixarmos de conhecer novas espécies, mas também de negligenciarmos uma série de serviços ecossistêmicos essenciais promovidos pela biodiversidade”, aponta Paolucci.

Para a bióloga e ecóloga Paula Hanna Valdujo, especialista em conservação da organização WWF Brasil, duas mudanças são necessárias para garantir a conservação das espécies ainda não descritas pela ciência. “Reduzir o desmatamento e a degradação dos ambientes naturais do Brasil e aumentar os investimentos na ciência brasileira”, enumera. “O fortalecimento da carreira científica na área da taxonomia, responsável por revisões e descrições de espécies, será decisivo para impulsionar o conhecimento sobre nossa rica e exuberante biodiversidade”, completa Paula.

Boto-araguaiano (Inia Araguaiensis)
Boto-araguaiano (Inia Araguaiensis), encontrado em 2014 na bacia do rio Araguaia, tem características moleculares e medidas do crânio diferentes dos botos encontrados na bacia do rio Amazonas.
Foto: Gabriel Melo Santos/WWF Brasil

A bióloga e ecóloga Joice Nunes Ferreira, pesquisadora na Embrapa Amazônia Oriental, ressalta que ainda temos muito a avançar na descrição de espécies e na sistematização dos dados em ecossistemas como os da Amazônia. “Alguns avanços recentes foram plataformas governamentais para a sistematização dos dados.” 

Ela lembra que o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), entidade ligada ao Ministério da Ciência, criou recentemente o Centro de Sínteses em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos. 

Atualmente, ela coordena o projeto Synergize, dentro desse centro, com várias instituições do Brasil e do exterior. “O foco desse projeto é sintetizar o conhecimento existente para grupos da fauna e da flora. Estudos como esse [de Moura e Jetz] nos ajudam a mostrar a ‘big picture’ e a direcionar nossos estudos regionais”, afirma.

Morosidade científica

Há ainda o fato de que a ciência tem seu próprio tempo para sedimentar o conhecimento. Uma pesquisa anterior conduzida pelo próprio ecólogo Moura constatou que há casos em que exemplares de nova espécie, depois de coletados na natureza e depositados em coleções científicas, podem demorar mais de 150 anos “engavetados” até serem formalizados como uma descoberta. “Ou seja, mesmo após a coleta da natureza, ainda demoramos muito para ‘redigir’ as páginas do catálogo da vida”, admite o cientista.

Poaieiro-de-Chico Mendes (Zimmerius chicomendesi)
Poaieiro-de-Chico Mendes (Zimmerius chicomendesi), possui um canto muito peculiar – que foi a característica que primeiramente chamou a atenção de pesquisadores
Foto: Fabio Schunck/WWF Brasil

Isso ocorre porque muitas vezes são necessários estudos mais aprofundados para concluir que se trata, sim, de uma espécie ainda desconhecida. Na outra ponta desse gargalo estão as condições muitas vezes precárias do dia a dia de cientistas pelo mundo — e o Brasil, longe de ser exceção, configura um exemplo disso. 

“Faltam investimentos em pesquisas de biodiversidade tanto para atividades de campo como para atividades em laboratório, incluindo aqui questões de infraestrutura e recursos humanos”, aponta Moura. “O Brasil tem profissionais qualificados e perfeitamente capazes de catalogar nossa surpreendente biodiversidade, mas esses profissionais não recebem apoio e incentivo suficientes de modo a facilitar a catalogação das espécies desconhecidas”, completa.

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