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Regionais : Marty Baron: 'É preciso pagar para ter jornalismo de qualidade'
Enviado por alexandre em 02/07/2017 21:08:15


Trabalho de Baron serviu de inspiração para o filme "Spotlight".
Foto: Alice Vergueiro/Abraji
Maria Luiza Borges

Aposta forte em tecnologia, jornalismo investigativo e a busca de um modelo sustentável para as empresas de mídia em que os assinantes paguem pelo jornalismo de qualidade foram alguns dos temas abordados pelo editor executivo do jornal The Washington Post, Martin “Marty” Baron, cujo trabalho se tornou inspiração para o filme Spotlight, ganhador do Oscar em 2016. Baron falou no encerramento do Congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), realizado de 29 de maio a 1º de junho na Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo. A conversa foi mediada pelo jornalista Rosental Calmon Alves, diretor do Centro Knight, da Universidade do Texas.
Sustentabilidade

Baron acredita que a sobrevivência do jornalismo de qualidade está no modelo de assinatura paga. “Se as pessoas não pagarem pelo jornalismo de qualidade, elas não terão jornalismo de qualidade”, destacou. Ele imagina um modelo similar ao de um clube ao qual as pessoas querem pertencer. "Para salvar o jornalismo, é preciso dar suporte ao trabalho que fazemos", diz.

O Post pôde fazer grandes investimentos em tecnologia e também na contratação de pessoal graças a aquisição da companhia, há quase quatro ano, por Jeff Bezos, um dos homens mais ricos do mundo e criador da gigante de tecnologia Amazon. Dar força à tradicional marca de mídia e garantir que seja um negócio sustentável tem sido o objetivo declarado de Bezos. “Não somos uma obra de caridade. E estamos nos tornando uma empresa focada em tecnologia. Tecnologia e credibilidade são uma boa combinação para o nosso negócio", comentou. O editor também falou da sua relação com o chefe. “Temos uma reunião quinzenal, quando discutimos linhas gerais, mas Jeff nos dá completa independência ao Post”, atesta.

“Vivemos numa era digital, dominada pela mídia social e tecnologia móvel. E com a era digital surge uma forma totalmente nova de contar histórias, mais conversacional, usando ferramentas incríveis como gráficos interativos, vídeos, áudios, experimentos transmídia. O vídeo digital é completamente diferente do que faz a TV. E toda história que puder ter um vídeo deve ter um vídeo”, destaca esse senhor de 62 anos de fala calma e fama de sisudo.

Como ter sua história distribuída nas mídias sociais é outra preocupação, além de dar bons títulos que atraiam o público (isso já rendeu até insinuações de fazer clickbait). Ele explicou os testes A/B que o Post faz com as manchetes, ao pôr uma reportagem no ar com quatro diferentes títulos. Com base no interesse do público é que se decide qual título funciona melhor. “Nós não fazemos clickbait, fazemos histórias com bons títulos”, destacou.


Jornalismo investigativo

No quesito jornalismo investigativo, o Post (e o próprio Baron) são referência - embora Baron diga com humildade que não tinha a menor expectativa de que Spotlight, um “filme de escritório” ganharia o Oscar. Se ele inspirou o editor do filme sobre a descoberta do escândalo de pedofilia na Igreja Católica, o jornal The Washington Post foi tema do filme “Todos os Homens do Presidente", retratando o e escândalo Watergate, investigado por dois jornalistas do Post por quase dois anos e que terminou por derrubar o presidente Richard Nixon. O filme ganhou quatro Oscars em 1977. Este ano The Post volta a ser “protagonista” de Hollywood. O escândalo que ficou conhecido como Pentagon Papers, que revelou bastidores da Guerra do Vietnã, está sendo filmado por Steven Spielberg e terá Tom Hanks e Maryl Streep nos papéis principais. Baron disse no Congresso da Abraji que a expectiva é que seja lançado no final de setembro.

“Jornalismo investigativo faz parte da história do Post. Por isso ampliamos nossa unidade de jornalismo investigativo, de oito para 16 jornalistas”, destacou Baron. Ele citou trabalhos recentes do jornal, como a descoberta das falsas doações de caridade de Donald Trump, trabalho ganhador do Prêmio Pulitzer. O desafio é chegar às regiões conhecidas como Deep America (estados mais afastados do centro do poder e que foram os maiores eleitores de Donald Trump). “Nosso papel não é dizer ao país o que acontece em Washington. E dizer a Washington o que está acontecendo no resto do País”, falou. A Era Trump, que tem sido de muita turbulência entre o presidente e a mídia, Baron considera fascinante para um jornalista. “O presidente está empreendendo uma guerra contra a mídia. Mas a mídia não está em guerra com ele, está apenas trabalhando, fazendo seu papel”.

Baron falou de forma bem-humorada sobre a troca de farpas com o The New York Times. Depois que o editor executivo do NYT disse que o novo slogan do Post (“Democracia morre na escuridão”) parecia título do próximo filme do Batman, Baron respondeu, em uma entrevista: “O povo de Gotham não precisa pedir desculpas”. “Nós não somos rivais, somos competidores”, comentou Baron.

Outra aposta do Post é numa nova vertical focada na mulher da geração do milênio. Para isso, o Post lançou uma nova marca, The Lily, com design diferenciado e distribuição em diversas plataformas digitais: Medium, Facebook, Instagram, Twitter e newsletters. Uma equipe formada por seis mulheres faz uma curadoria do conteúdo gerado no jornal e reempacota sob a ótica feminina. Terá apenas anúncios nativos e já conta com um patrocinador exclusivo até o fim do ano. O nome é em homenagem ao primeiro jornal americano focado no público feminino, lançado em 1849 por Amelia Bloomer.

Regionais : Ocupantes de Fox são perseguidos e detidos após furarem blitz no centro de Ouro Preto do Oeste
Enviado por alexandre em 02/07/2017 12:30:55


O motorista de um veículo Volkswagen Fox, juntamente com mais dois ocupantes, foram detidos na madrugada deste sábado (1°), após terem desobedecido uma ordem de parada de agentes de trânsito durante uma blitz que era realizada no centro da Estância Turística de Ouro Preto do Oeste. A detenção do trio aconteceu na zona rural do município, vicinal 04, entre o Travessão do Japonês e a RO-470, conhecida por Linha 81.

O motorista identificado por um nome com iniciais B. R. F. S., de 19 anos, após furar a blitz, empreendeu fuga juntamente com os ocupantes pela avenida Daniel Comboni. Mesmo sendo perseguidos por uma viatura da Policia Militar e duas motocicletas do Detran, conseguiram fugir.

Minutos depois, o mesmo veículo foi avistado pela polícia no perímetro urbano da cidade, onde iniciou-se uma nova perseguição. O Fox, em alta velocidade, seguiu pelo Travessão do Japonês e, logo em seguida, convergiu na vicinal da linha 04, tomando rumo da RO-470.

Devido aos buracos e irregularidade na via, o Volkswagen acabou estourando um dos pneus dianteiros, arrancando parte da carenagem, além de sofrer várias avarias. Mesmo danificado e com três ocupantes, o condutor ainda se recusava a parar, vindo ainda a percorrer aproximadamente mais dois quilômetros, até ser alcançado e abordado.

Durante a revista no interior do veículo, nada de ilícito foi localizado, sendo os ocupantes algemados e conduzidos até o local onde estava sendo realizada a blitz. O condutor, ao se submeter ao teste do bafômetro, obteve o resultado de 0,12 m/l.

O veículo foi notificado e em seguida guinchado até o pátio da Unidade Integrada de Segurança Pública (Unisp). O motorista do Fox, juntamente com os dois ocupantes, foram entregues aos cuidados do comissário de plantão na Unisp para que a Polícia Judiciária investigue o caso e tome as devidas providências.

gazeta central

Regionais : Janot: "Enquanto houver bambu, vai ter flecha"
Enviado por alexandre em 02/07/2017 12:08:38

Janot: "Enquanto houver bambu, vai ter flecha"


Fim de mandato

Procurador comenta Lava-Jato durante congresso de jornalismo em SP

O Globo - João Sorima Neto



O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou neste sábado que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de soltar o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) "faz parte do processo", mas em sua avaliação havia provas suficientes para pedir a prisão cautelar do parlamentar, já que se tratava de uma autoridade no "curso de cometimento de crime". O procurador, que fica no cargo até dia 17 de setembro, afirmou que até lá vai continuar no mesmo ritmo atual.

— Até dia 17, a caneta estará na minha mão. Enquanto houver bambu, vai ter flecha – afirmou o procurador.

Para o procurador, a mala com R$ 500 mil que o deputado foi flagrado carregando, ‘já diz tudo’.

— Houve a decretação da prisão cautelar que estava em curso de cometimento de crime. Mas o STF chegou à conclusão que a cautelar já tinha surtido efeito e houve a revogação. Isso faz parte do processo, cada um tem seu entendimento jurídico. Posso não concordar, mas faz parte do processo – afirmou Janot, que participou do 12º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo promovido pela Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo investigativo) em São Paulo. Janot proferiu a palestra: “Desafios no Combate à Corrupção: A operação Lava Jato, a fala foi mediada pela jornalista Renata Lo Prete, da Globonews.

Na sexta-feira, o ministro Luiz Edson Fachin mandou soltar Rocha Loures, determinando o uso de tornozeleira eletrônica. Loures foi libertado neste sábado.

Janot elogiou, entretanto, outra decisão do Supremo que validou a delação premiada dos controladores da JBS. Para ele, esta decisão foi um ponto de inflexão no uso da delação premiada no país.

— Foi um ponto de inflexão no uso dessa instituição no Brasil (a delação premiada), que já foi estada em outros país, mas ainda é nova no Brasil – afirmou.

Janot disse que fazer a denúncia contra o presidente da República, Michel Temer, por corrupção passiva não lhe deu prazer, mas que isso faz parte do cargo. Sobre as críticas de que a denúncia não está bem fundamentada e que não há provas suficientes, Janot recorreu a um ditado antigo dentro da procuradoria.


‘PROVA SATÂNICA’

— Não é possível que para eu pegar um picareta, tenha que tirar uma fotografia dele pegando a carteira do bolso de outro. Ninguém vai passar este recibo. Isso é um tipo de prova satânica, quase impossível. Tem que se olhar a narrativa e ela tem indícios de que é preciso instaurar um processo de produzir provas — afirmou Janot, que justificou que quando se oferece a denúncia, não se oferece um caderno de provas.

— A narrativa é de uma clareza tão grande. Duvido que se fosse em outro caso a denúncia não fosse recebida — disse.

Sobre as críticas em relação à imunidade concedida aos irmãos Joesley e Wesley Batista, em sua delação premiada, Janot afirmou que sem a delação não teria provas e sem provas não poderia fazer nada.

— Não poderia deixar o crime em curso, cometido por altas autoridades, continuar acontecendo. Não posso fingir que não vi. Eu tenho o monopólio da investigação. Se não tivesse dado a imunidade não tinha delação e o crime não cessaria. Estou com a consciência tranquila — garantiu ele, ressaltando que se aparecerem atos ilícitos cometidos antes ou após a delação, que não estejam descritos no processo, o acordo está quebrado.

Janot não disse quando fará novas denúncias contra o presidente

Temer, mas que há duas linhas de investigação: de formação de quadrilha e obstrução da justiça.

— Ambas as investigações têm vida própria. Mas uma está mais adiantada que a outra.

RAQUEL DODGE

Sobre sua sucessora na procuradoria-geral da República, a procuradora Raquel Dodge, Janot afirmou que a escolha do presidente Michel Temer foi legítima, mesmo ela não tendo sido a mais votada pelos colegas na lista tríplice.

- A lista tríplice não é uma eleição direta e também não é obrigatória. Você escolhe um dos três e o importante é que ele (Temer) respeitou isso. Foi um avanço constitucional – disse o procurador.

Em declarações recentes sobre as delações premiadas feitas pelo MP, Raquel Dodge afirmou que não caberia ao órgão oferecer imunidade ou redução de pena para fechar acordos. Isso caberia ao juiz na sentença, no entendimento de Dodge.


— Se o MP não pode oferecer imunidade ou redução de pena vai oferecer o que? Vou chamar os irmãos Batista e oferecer uma caixa bombons garoto, pão de mel, cachaça e torresmo? A delação é uma instituição nova que está se consolidando no Brasil e eu tenho que ter flexibilidade para fazer um acordo – ponderou Janot.

Perguntado se temia pela sua segurança, Janot afirmou que “para morrer, basta estar vivo”, mas que passou a andar com seguranças, já que recebeu ameaças.

— Mas se acontecer alguma coisa comigo, a confusão é muito maior. Eu brinco que eles têm que estar rezando para eu não escorregar no banheiro e bater a cabeça. Temer eu não temo pela minha segurança, mas trato a coisa profissionalmente e passei a andar com seguranças. Não vamos ser ingênuos — disse o procurador.

Após colocar tornozeleira, Loures é libertado

Fachin mandou soltar ex-assessor de Temer nesta sexta, sob condição de que use o equipamento. Antes de voltar para casa, ele teve de ir à Goiânia para colocar o aparelho.


Do G1



Após colocar tornozeleira eletrônica no início da tarde deste sábado (1º), em Goiânia, o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) voltou para casa. A residência do peemedebista fica no Lago Sul, região nobre de Brasília.

Rocha Loures deixou a superintendência da Polícia Federal após o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizar que ele fosse solto. A decisão do magistrado foi tomada nesta sexta (30).

Ao autorizar a soltura do peemedebista, Fachin determinou uma série de medidas cautelares, entre elas que Rocha Loures passasse a ser monitorado por tornozeleira eletrônica.

Além disso, o ex-deputado deverá permanecer em casa à noite (de 20h às 6h), finais de semana e feriados; proibido de ter contato com outros investigados e de deixar o país, devendo se apresentar à Justiça sempre que requisitado.

A defesa de Rocha Loures tinha a expectativa de que ele deixasse a carceragem da PF ainda nesta sexta. Porém, ele teve de passar mais uma noite no local porque a superintendência da PF na capital federal não tinha tornozeleira eletrônica para instalar no ex-parlamentar.

Por meio de nota, a corporação informou que só iria libertá-lo depois que um equipamento cedido pelo governo de Goiás fosse instalado. Na manhã deste sábado, ele deixou a capital federal com destino à capital goiana para colocar a tornozeleira.

A Polícia não forneceu detalhes sobre a operação que levou Rocha Loures de Brasília para Goiânia para "garantir a segurança". Ele voltou à capital federal na tarde deste sábado.

Regionais : Jogador Hulk é censurado e suspenso por protesto: “Nada pra fazer, nada pra falar”
Enviado por alexandre em 02/07/2017 11:59:39


Oscar veste camisa provocativa após receber punição na China (Foto: Reprodução/Instagram)

A Associação Chinesa de Futebol publicou na madrugada desta sexta-feira uma punição para os jogadores Hulk e Wu Lei, além do treinador André Villas-Boas, do Shanghai SIPG. A sanção que suspende o trio pelas próximas duas partidas do Campeonato local se deve a protestos realizados contra a severa punição de oito partidas sofrida pelo companheiro de clube Oscar.

O imbróglio começou no último dia 20, quando o meia brasileiro iniciou uma confusão generalizada após chutar a bola duas vezes propositalmente na direção de jogadores adversários. O ato de Oscar lhe rendeu uma suspensão de oito partidas.

Confira o post do comandante:

Após a divulgação da condenação do meia, o seu treinador publicou um post em suas redes sociais ironizando a punição. “355 jogos na carreira; 5 anos atuando no Campeonato Inglês; 47 partidas pela Seleção Brasileira; 70 gols. ZERO CARTÕES VERMELHOS !!! 8 jogos suspenso”, escreveu André Villas-Boas.

No último final de semana, depois do SIPG vencer o Henan Jianye pelo Campeonato Chinês, Hulk e o companheiro de ataque Wu Lei vestiram uma camisa em que estava escrito: Nothing to do, nothing to say (“Nada pra fazer, nada pra falar”, em português).

Em nota, a Associação Chinesa de Futebol afirmou que não permitirá nenhum tipo de indisciplina. “A Associação continuará a punir rigorosamente quem viole as regras e a disciplina. Esperamos que todos os clubes e os seus funcionários às respeitem”, publicou a entidade.


Fonte: http://www.gazetaesportiva.com/

Regionais : Haitianos que vieram para Cuiabá na esperança de uma vida melhor amargam anos de desemprego
Enviado por alexandre em 02/07/2017 11:54:35


“Você sabe qual é a situação do Haiti? Você vê seus amigos vindo, conseguindo emprego... é claro que quer vir também”. A declaração é do haitiano Lumenes Medelsain, de 44 anos, que em 2013 viu no Brasil uma chance de melhora de vida. O sonho era conseguir dinheiro para sustentar seus quatro filhos, que ficaram na terra natal. No início deu certo, mas em 2015 as coisas mudaram. Hoje, ele está há cerca de seis meses sem conseguir um trabalho formal, e, sem dinheiro para voltar pra casa, está há quatro anos sem ver a família.

Ele é um dos 3379 haitianos que o ‘Centro de Pastoral para Migrantes’ de Cuiabá atendeu de 2013 a 2016. Antes da Copa, conseguiu trabalhar como pedreiro e enviar dinheiro para a família, além de alugar um quarto no bairro Leblon. “Em 2015 complicou”, lamenta, enquanto ouve os louvores da igreja Assembleia de Deus [onde se batizou há quase três anos] nos fones de ouvido, sentado na área comum da Pastoral. Ali, ele consegue se alimentar e resolver problemas de documentação, quando precisa. Assim como ele, diversos haitianos são evangélicos, e muitos precisam da ajuda da casa mesmo anos depois de terem chego no Brasil.

A Pastoral foi criada em 1980, por uma iniciativa Arquidiocese de Cuiabá, no ano em que as igrejas estavam estudando o fenômeno da migração, sob o tema “Para onde vais”. “Cuiabá era o corredor do portal da Amazônia, e havia naquele momento um incentivo do governo para a colonização do interior do nosso estado”, lembra a coordenadora do local, Eliana Aparecida Vitalino.

No início, a Pastoral era mais voltada a migrantes nacionais, que viam na casa um local de acolhida para depois seguir viagem para o interior, onde iam trabalhar nas lavouras e na antiga usina de Poconé. As coisas começaram a mudar, no entanto, em 2012, com a chegada dos haitianos. Saindo do país – que estava ‘quebrado’ por conta do terremoto de 2010 e da pobreza intrínseca – eles passaram a chegar em grupos cada vez maiores, e com a intenção de se fixar em Cuiabá.

“O governo brasileiro já havia feito, nesse momento, uma lei específica para os haitianos, por conta da situação que o país estava vivendo”, explica a coordenadora. “Essa lei permite que o haitiano, ao entrar no Brasil, imediatamente já consiga fazer CPF, carteira de trabalho, e já consiga a sua residência no país. Esse visto eles recebem lá no Haiti, e já vem para o país todo documentado”.

Apesar dessa facilidade, eram poucos os atendimentos feitos por dia na Embaixada do Brasil no Haiti, e muitos haitianos decidiam vir pela fronteira, sem o visto. “Chegando na fronteira eles solicitavam o refúgio, como outros cidadãos também fazem, e também tinham o direito a ter seu protocolo. Porque o processo vai pro Conselho Nacional de Refugiados, então enquanto esse projeto tramita, eles já tem o direito de ter sua carteira de trabalho”.

Essas facilidades se somavam à propaganda feita pelo governo brasileiro no país. Eliana conta que muitos haitianos chegavam dizendo que ouviram falar que o brasileiro gosta dos haitianos, que aqui tinha facilidade de documentação e de emprego, e se convenciam de tentar a vida por aqui.

Para vir pra cá, eles se endividavam, na esperança de pagar todas as contas com trabalho que realizariam. “Quem veio pra cá se endividou, teve que pagar passagem. É uma viagem cara, a família às vezes se juntava inteira pra mandar um membro pra cá. Aí esse membro teria que pagar sua passagem e conseguir trazer o restante dos familiares depois”, lembra Eliana.

No início, dava certo. Muitos haitianos, como Lumenes, conseguiram trabalhar na construção civil, ter retorno financeiro rápido e até enviar dinheiro para a família. Na época, a Casa do Migrante firmou ainda uma parceria com o Ministério do Trabalho e, até hoje, toda terça-feira uma auditora fiscal vai até o local para dar consultoria aos recém-chegados. “Porque quem chegava não conhecia a lei trabalhista brasileira, quais eram os deveres, quais os direitos... e também para orientar o empregador, porque havia uma procura maior, mas uma dúvida muito grande sobre qual documento buscar, etc”, conta.

Nos tempos áureos, a auditora estava lá para explicar sobre as contratações. Hoje, no entanto, a maior procura é para esclarecer sobre rescisão de contrato e, vez ou outra, ouvir alguma denúncia de irregularidade. “Muitos, depois da Copa, com a escassez do trabalho, desistiram, foram embora. Teve ônibus de pessoas que foram pro Chile, ou México na tentativa de entrar nos Estados Unidos”.

Mas muitos outros continuam chegando. Só em 2016, a Casa do Migrante acolheu 394 haitianos, fosse para pouso, alimentação, ou documentação. “Quando eles chegam com sua documentação, com visto, tem que fazer seu protocolo no sistema da Polícia Federal, tem que tirar as guias de pagamento. Então a gente faz esse trabalho não só pros de casa, mas também pros de fora”, explica. Desta forma, até mesmo a Polícia Federal encaminha os recém-chegados para a Pastoral. Hoje, quem chega tem que pagar uma taxa de 312 reais só para fazer seu Registro Nacional de Estrangeiro.

Como funciona a casa

Quando atendia a população interna, a Pastoral era vista apenas como um local de pouso e abrigo. “Era uma casa de acolhida, um espaço de aconchego, um espaço pra recarregar suas energias, ter um teto na sua cabeça antes de seguir viagem”, lembra Eliana.

Com a vinda dos imigrantes que queriam ficar em Cuiabá, até mesmo o prazo de estadia na casa teve de ser alterado. “A gente ampliou pra 45 dias, mas é um prazo mais psicológico. Porque antigamente, em 2013, 2014, eles conseguiam... Chegavam, conseguiam um trabalho, com 30 dias recebiam seu salário, alugavam um quarto e já dava pra se estruturar. Agora, vocês vão ver que tem gente que está na casa há 4, 5 meses e não conseguiu o seu trabalho ainda”.

A Pastoral do Imigrante tem cem camas e oferece três refeições por dia, teoricamente só para os que estão hospedados ali. “Mas tudo tem que ter jogo de cintura. Tem gente que está há um ano desempregado, aí você calcula, como que vive um ano sem emprego? Então, como nós somos uma instituição católica, temos oito comunidades que nos ajudam, às vezes fazem uma missa do quilo e mandam alimento pra cá. Agora mesmo teve o Peladão, mandaram alimento pra cá, então a gente vai distribuindo também”.

Além de cama e comida, o espaço também é procurado para fazer higiene pessoal, lavar as roupas, e ter qualquer auxílio em relação à documentação. “O que acontece é que a gente teve que ampliar de acordo com as necessidades. No caso dos haitianos, os passaportes também vencem. E aí? Só quem faz passaporte é a Embaixada. Então nós entramos em contato com a embaixada, ela manda os formulários de passaporte, que poderia mandar até pra casa deles, mas a maioria ainda vem aqui pra esse auxílio”, explica Eliana.

Segundo a coordenadora, muitos dos procedimentos poderiam ser feitos diretamente entre os haitianos e os órgãos responsáveis, “mas ainda há uma questão de segurança. A pessoa que está fora do seu país fica insegura em relação à legislação, né? É uma troca de confiança mesmo, prefere vir aqui pra ter segurança pra fazer”.

A Pastoral do Migrante é mantida pela Sociedade dos Missionários de São Carlos (PIA), uma congregação dos padres Carlistas e Scalabrinianos que tem por missão estar onde o migrante está e, hoje, se faz presente em 36 países, sendo que no Brasil tem quatro unidades.

A barreira da língua

Quando chegam ao Brasil, o primeiro impedimento dos haitianos em relação ao emprego é a língua. Para tentar diminuir essa dificuldade, a Pastoral precisou fazer parcerias com outras entidades, como a Universidade Federal de Mato Grosso, que dava aulas na casa, e, mais recentemente, a Organização Internacional do Trabalho (OIT), especificamente para as mulheres.

“A gente se preocupa muito com as mulheres, porque muitos maridos foram embora, e algumas mulheres ficaram com os filhos, e aí como que vai arrumar trabalho?”, explica. “Nós solicitamos, e fomos atendidos, graças a Deus, e pela OIT fizemos um cadastramento de noventa e poucas mulheres que ainda estavam desempregadas. Num primeiro momento desenvolvemos um projeto piloto em que estão atendendo 30 mulheres. Hoje elas estão aqui, já tiveram aula de português e capacitação em um curso que elas mesmas escolheram, que foi o de gastronomia, e agora estão lançando uma marca de biscoito francisquito”.

Além delas, outros estrangeiros conseguiram aulas tanto com a Universidade quanto nos programas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) do governo estadual, e em dois meses já estavam falando português. Segundo Eliana, para as mulheres a situação é mais complicada, até mesmo pela menor escolaridade em relação aos homens.

“O haitiano fala o criolo e o francês, mas o francês só falam aqueles que passaram pela educação formal”, afirma. “Tem alguns que falam muitas línguas, como francês, espanhol, português, inglês... tem gente até com curso universitário. Eu não sei, também, se é porque a mulher vem procurar mais auxilio. Mas sempre foi uma preocupação da casa do migrante em relação às mulheres e crianças”.

O abandono da companheira não foi a realidade de Jean Louis, 28, pelo contrário. Há um ano e seis meses ele veio para o Brasil junto com sua namorada haitiana, de 27 anos. Em novembro do ano passado eles se casaram, e há um ano procuram alguma forma de se sustentar.

“Eu vim porque os haitianos gostam muito do Brasil. Gostam do futebol, e falavam que aqui tinha muito trabalho”, lembra. Em 2010, sua casa foi uma das destruídas no terremoto e, apesar de sua família não ter se ferido, a situação econômica ficou complicada.


Jean Louis (Foto: Letícia Ferro Ferraz / Olhar Direto)

Jean e sua namorada trabalhavam com computadores no Haiti, mas aqui ele conseguiu emprego em um frigorífico, e ela em uma loja de roupas. “Fiquei seis meses no frigorífico, mas eles mandaram muita gente embora. Minha mulher ficou um tempo na loja, mas aí a loja fechou e ela também ficou sem emprego”.

Atualmente, os dois vivem em um quarto alugado, mas frequentemente vão fazer as refeições na Pastoral, já que há cerca de um ano não tem nenhuma fonte de renda. Voltar pro Haiti, no entanto, não é uma opção. “Aqui é ruim porque está em crise, não tem emprego pra ninguém, não é só pra haitiano. Mas lá é bem pior”.

A vontade é diferente para Lumenes. Com saudade dos filhos, de 17, 19, 21 e até oito anos de idade, ele quer voltar para o Haiti. A dificuldade é o dinheiro, já que uma passagem pode custar até mais de cinco mil reais, e, hoje, ele não tem nenhuma fonte de renda além de pequenos bicos de pedreiro. “Quero ir pra lá para pregar o evangelho e falar de Jesus, e também pra ver minha família”, conta.

Serviço

Quem tiver qualquer oportunidade de emprego, pode entrar em contato com Jean pelo número (65) 98131-3204 e com Lumenes pelo (65) 99258-3064. A Pastoral do Migrante atende pelo (65) 3641-1451.

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