Brasil : ROUND 6
Enviado por alexandre em 18/10/2021 23:10:00

Seis coisas que a série da Netflix nos ensina sobre a realidade da Correia do Sul

Round 6, um drama sul-coreano sangrento, se tornou sem dúvida uma das séries mais populares da Netflix de todos os tempos. No início de outubro, era a mais assistida em 90 países — e seu sucesso está dando ao resto do mundo uma visão da complexa sociedade do país asiático.

Mas, além da narrativa de suspense, que mostra competidores sem dinheiro participando de jogos de vida ou morte em troca de uma quantia que pode mudar suas vidas, a série recebeu aplausos por retratar questões reais que afetam a vida dos cidadãos na Coreia do Sul.

A trama segue os passos de Parasita, o aclamado filme sobre as vidas repletas de contrastes de duas famílias em Seul — que, em 2020, se tornou a primeira produção de língua estrangeira a ganhar o Oscar de Melhor Filme.

O longa conquistou ainda outras cinco estatuetas do Oscar, incluindo de Melhor Diretor para Bong Joon Ho.

Muitos espectadores estrangeiros podiam não estar cientes dos problemas sociais da Coreia do Sul antes, mas isso certamente mudou agora. A seguir, algumas das principais questões sobre a realidade do país destacadas na série.

Aviso: esta reportagem contém alguns spoilers.

1) Misoginia

Mulheres sul-coreanas protestam contra a desigualdade de gênero em manifestação de 2018

Crédito, Getty Images

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Os sul-coreanos estão aquém em avaliações de igualdade de gênero

De acordo com a edição de 2021 do Global Gender Gap do Fórum Econômico Mundial, a Coreia do Sul ocupa apenas a 102ª posição na lista de países com maior igualdade de gênero.

Round 6 reflete essa cultura por meio de discussões sobre a aptidão das mulheres para realizar tarefas fornecidas aos competidores. Cho Sang-woo, o banqueiro de investimentos, mais de uma vez tenta impedir competidoras do sexo feminino de participar de tarefas em grupo.

Mas a série em si foi criticada por como retrata os papéis femininos.

Especificamente, houve polêmica em relação à personagem Mi-nyeo, que tem relações sexuais com o gangster Deok-su para entrar na equipe dele.

O escritor e diretor de Round 6, Hwang Dong-hyuk, negou algumas acusações de misoginia feitas nas redes sociais.

Em entrevista ao jornal coreano Hankook Ilbo, ele refutou a insinuação e disse que imaginou os personagens reagindo "quando colocados nas piores situações".

2) A situação dos desertores do Norte

Sae-byok, interpretada pela modelo Jung Ho-yeon, em cena de Round 6

Crédito, Netflix

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Sae-byok (à direita), uma das poucas competidoras mulheres do jogo, se revela como uma desertora norte-coreana

Round 6 também discute a questão dos desertores norte-coreanos. Na série, a competidora Sae-byok (interpretada pela modelo Jung Ho-yeon) se junta à trupe na esperança de ganhar dinheiro para reunir sua família, que se separou enquanto fugia do regime repressivo do país vizinho.

Antes da pandemia de covid-19, mais de mil norte-coreanos buscavam refúgio no Sul todos os anos. Embora Seul tenha uma série de programas e benefícios de reassentamento em vigor, os desertores podem sofrer maus-tratos, discriminação e desconfiança por parte da população local.

Round 6 mostra alguns aspectos disso, que inclui um detalhe que vai escapar de quem não fala coreano: como muitos outros desertores na vida real, Sae-byok esconde seu sotaque original e fala no dialeto padrão de Seul.

Ela só volta a falar com seu sotaque original em uma cena quando conversa com o irmão mais novo, que está em um orfanato.

3) Pobreza

Um idoso sul-coreano sentado na comunidade de Guryong em Seul com neve no chão

Crédito, Getty Images

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Mais de 16% dos sul-coreanos vivem na pobreza, de acordo com dados da OCDE

Qualquer pessoa seria perdoada por ficar desconfiada se fosse convidada a discutir a pobreza na Coreia do Sul. Afinal, o país asiático aparece em 23º lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano da Organização das Nações Unidas (ONU), à frente da França, Itália e Espanha, por exemplo.

Mas o personagem principal da série, Gi-hun, foi demitido da fictícia Dragon Motors, tem dois negócios falidos, vive com a mãe doente e não é capaz de comprar um presente de aniversário decente para a filha.

Ele simboliza o trabalhador fracassado que não consegue sair da pobreza.

No Índice Gini, que mede a distribuição da riqueza nacional, a Coreia do Sul tem resultados melhores do que alguns países nórdicos e até mesmo os EUA. Então, por que a pobreza é um tema da série?

Pode ser porque a desigualdade está aumentando no país asiático. Os 20% mais ricos da Coreia do Sul têm um patrimônio líquido 166 vezes maior do que os 20% mais pobres.

Homem sem-teto dorme na calçada da cidade de Daegu

Crédito, Getty Images

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A falta de moradia também é um problema que afeta os sul-coreanos mais pobres

Dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que quase 17% dos mais de 51 milhões de habitantes da Coreia do Sul viviam na pobreza antes da pandemia de covid-19.

Eles podem morar em cubículos minúsculos, chamados Goshitels e Goshiwon, alguns com apenas 2 metros de largura. Várias gerações de uma família podem viver amontoadas juntas em apartamentos.

Mas mesmo os mais favorecidos enfrentam dificuldades: o endividamento das famílias na Coreia do Sul agora vale mais do que o Produto Interno Bruto (PIB) do país — o nível mais alto de toda a Ásia.

4) Exploração de migrantes

Uma trabalhadora migrante tailandesa cercada por folhas de tabaco em uma fazenda sul-coreana

Crédito, Getty Images

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As condições para os trabalhadores migrantes podem ser terríveis na Coreia do Sul

Um dos personagens mais cativantes de Round 6 é Ali, um operário migrante paquistanês que se junta aos competidores depois que seu chefe sul-coreano deixa de pagar seu salário por meses, forçando-o a deixar para trás o filho bebê e a esposa.

Os paquistaneses não estão entre as maiores populações de migrantes na Coreia do Sul, mas a história de Ali simboliza uma rotina de trabalho duro e exploração que alguns trabalhadores estrangeiros podem vivenciar no país.

Embora as autoridades sul-coreanas tenham aprovado leis de proteção aos trabalhadores nas últimas duas décadas, as condições ainda podem ser terríveis para os trabalhadores migrantes, de acordo com grupos de direitos humanos.

5) Corrupção corporativa e política

Park Geun-hye chegando para participar de audiência em tribunal de Seul em 2016

Crédito, Getty Images

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Park Geun-hye, a primeira mulher presidente da Coreia do Sul, foi deposta e presa em 2016 por participação em escândalo de corrupção

Um dos personagens principais de Round 6 é Cho Sang-woo, um banqueiro de investimento que se junta ao desafio após cair em desgraça por desviar fundos da empresa para a qual trabalhava.

Nos últimos anos, a Coreia do Sul foi abalada por escândalos envolvendo sua elite empresarial e política, incluindo uma investigação de corrupção em 2016 que derrubou sua primeira presidente mulher, Park Geun-hye.

5) Uma relação complicada com a China

Fila do lado de fora de lanchonete para comprar doce de Round 6 em Xangai

Crédito, Getty Images

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'Round 6' é tão popular na China que gerou negócios temáticos como esta lanchonete de Xangai, que vende doces inspirados na série

Round 6 faz uma única referência à China, que é o principal aliado da Coreia do Norte: a mãe de Sae-byok é detida enquanto tentava chegar à Coreia do Sul pela China.

Mas foi fora das telas que a série se tornou mais um exemplo das tensões entre Seul e Pequim. A imprensa chinesa noticiou que os agasalhos verdes usados ​​pelos competidores do jogo são semelhantes aos usados ​​no filme chinês de 2019 Teacher, Like.

Isso levou a discussões acaloradas nas redes sociais, mas praticamente não prejudicou o sucesso de Round 6 no país. Apesar da Netflix ser bloqueada na China e não haver distribuição oficial, o programa está disponível por meio de serviços de streaming ilegais.

A série foi avaliada por quase 300 mil pessoas no Douban, a maior plataforma de resenhas de filmes e livros da China, com uma pontuação respeitável de 7,6 em popularidade.

Ironicamente, os sites de comércio eletrônico também oferecem mercadorias relacionadas a Round 6, incluindo os agasalhos verdes.

Em Xangai, há até lojas que vendem dalgona, biscoito coreano que aparece em um episódio.

Seong Gi-hun, um dos personagens principais de 'Round 6', segura uma dalgona

Crédito, Netflix

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Seong Gi-hun, um dos personagens principais de 'Round 6', segura uma dalgona

Os competidores precisam destacar de forma perfeita a figura central desenhada no biscoito, feito de bicarbonato de sódio e açúcar.

Há também um "desafio dalgona" se espalhando pelos vídeos do TikTok, em que os fãs recriam a guloseima mortal da série.

Round 6 pode ter lançado uma imagem negativa sobre um alimento tão inofensivo, mas a popularidade da série destaca o que parece ser um fascínio global crescente pela cultura coreana.


Round 6: Conselho pede que pais não deixem filhos assistir à série

Relatos recebidos por autoridades britânicas indicam que crianças estariam recriando brincadeiras da série e batendo naquelas que falhassem


Série Round 6 já se tornou uma das mais assistidas da Netflix Foto: Reprodução Netflix

Conselheiros do setor de Educação no distrito britânico de Central Bedfordshire, em Londres, enviaram uma mensagem aos pais e responsáveis para que eles não permitam que crianças assistam à série coreana Round 6, da Netflix. De acordo com o jornal britânico The Guardian, a recomendação teria sido enviada após relatos de que crianças de até 6 anos estariam copiando os desafios.

– Aconselhamos veementemente que as crianças não assistam ao Squid Game (nome internacional da série Round 6). O programa é bastante gráfico, com muito conteúdo violento – diz a recomendação.

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Segundo a publicação britânica, alguns relatos recebidos pelas autoridades educacionais de Central Bedfordshire dão conta de que crianças em parques estariam recriando as brincadeiras de Round 6 e batendo nas que falhassem nos desafios. Na Inglaterra, a série coreana tem recomendação para ser assistida apenas por maiores de 15 anos.

Entre os jogos da série que viraram populares no Reino Unido estão o “batatinha frita 1, 2, 3”, em que as crianças tentam terminar um percurso enquanto uma pessoa selecionada (substituída na série por uma boneca gigante) não está olhando.

Outro jogo que gerou avisos foi a “colmeia de açúcar”, em que as crianças precisam recortar formas geométricas em um biscoito. Neste caso, há a preocupação de que as crianças possam se queimar com caramelo quente ao preparar o doce.

Em Round 6, pessoas endividadas participam de competições similares a brincadeiras infantis em busca de um prêmio em dinheiro, mas os derrotados são mortos. De acordo com o Guardian, mesmo crianças que não assistem à série propriamente dita têm tido acesso a imitações dos desafios do programa por meio do aplicativo de vídeos TikTok e de jogos de computador ou celular.

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