Regionais : Por que tantos testes de vacina estão acontecendo no Brasil?
Enviado por alexandre em 13/08/2020 10:00:56

Nas últimas semanas, várias empresas farmacêuticas e instituições do exterior anunciaram testes de vacinas em território brasileiro.

Devido à urgência em controlar a pandemia do novo coronavírus, cientistas iniciaram o processo de criação de uma vacina mais rápido já visto pela ciência. 

Em pouco mais de oito meses de conhecimento acumulado sobre o vírus, já existem várias fórmulas na última fase de testes em seres humanos.

Três delas serão testadas no Brasil, apesar de serem projetos vindos de laboratórios chineses, ingleses e alemães.

Por que então realizar testes em um país tão longe de casa?

A CNN coversou com Gustavo Cabral, imunologista com formações em Oxford na Inglaterra e em Berna na Suíça, explicou porque o Brasil se tornou o ambiente perfeito para o desafio da testagem final de vacinas contra a Covid-19.

“Como nós vamos saber que a vacina é eficiente? Se ela proteger do vírus. Ou seja, temos que testar em um ambiente onde as pessoas estarão susceptíveis a serem infectadas”, ele afirma. 

Os números recentes da pandemia no Brasil mostram uma taxa de transmissão alta, registrando 1,08 no início de agosto. Esse número representa a quantidade de pessoas que um infectado é capaz de contaminar, em média, na região. Ou seja, 100 infectados no país estão transmitindo a doença aproximadamente para 108 outras pessoas. Para que a epidemia seja considerada como controlada, esse número deveria ser menor do que 1.

“É preciso testar em um ambiente em que a gente sabe que as pessoas serão expostas à doença. Porque a gestão da pandemia foi ruim, o vírus está se propagando tão rapidamente que [o Brasil] se tornou o lugar perfeito para a testagem de vacinas”, diz Cabral.

Ou seja, as farmacêuticas Pfizer, Sinovac e AstraZeneca, juntamente com instituições parceiras, como a Universidade de Oxford, encontraram no Brasil o ambiente ideal para testar suas fórmulas. Em um ambiente com a população tão exposta ao SARS-CoV-2, é mais fácil perceber se a vacina projetada consegue proteger o organismo da infecção, pois é altamente provável que o voluntário testado seja exposto ao vírus em algum momento.

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Efeitos colaterais

Apesar de ser positivo o fato de a ciência estar a caminho de produzir uma vacina eficiente em tempo recorde, um pensamento ainda intriga muitas pessoas. 

Produzir e aplicar uma vacina tão rapidamente na população pode causar efeitos colaterais graves? Os tempos de testes tão curtos fazem com que alguns se questionem sobre efeitos colaterais a longo prazo.

Sobre isso, Gustavo Cabral explica: “O efeito colateral rápido é muito comum, a maioria dessas vacinas geram, por exemplo: dor no local, dor de cabeça, mal estar, dor muscular. Mas a longo prazo precisamos ser mais cuidadosos, porque a maioria dessas vacinas não tem antecedentes que foram licenciadas para seres humanos, o que daria uma garantia que em um, dois, três anos não vai ter nenhum efeito colateral mais sério”. 

Distribuição no Brasil

Outra pergunta frequente sobre esses testes no país é sobre se essas vacinas estarão disponíveis para a população brasileira caso aprovadas. 

Cabral confirma que é muito provável que o acesso e a produção sejam facilitados para o país devido à ajuda na fase de testagem. “Nenhuma instituição aceitaria realizar testes sem garantir uma cota dessa vacina. Caso dê certo, nós teremos a cota”, disse à CNN Brasil.

“É um investimento alto fazer esses testes. É um investimento humano e financeiro. A quantidade de profissionais que estão envolvidos para aplicar essa vacina, acompanhar, depois obter as amostras, ou seja, sangue, saliva, enfim, pra fazer os testes em laboratório, isso é muito dispendioso”, completa o imunologista.

Dr. Gustavo Cabral e Karla Chaves conversam em frente à fundo com coronavírus

Dr. Gustavo Cabral responde à perguntas acerca das pesquisas em vacinas contra a Covid-19

Foto: CNN Brasil

Covid-19: soro produzido por cavalo tem anticorpos até 100 vezes mais potentes


Alana Gandra, da Agência Brasil

Estudos iniciados em maio por pesquisadores brasileiros de várias instituições científicas verificaram que soros produzidos por cavalos para o tratamento da Covid-19 têm, em alguns casos, até 100 vezes mais potência em termos de anticorpos neutralizantes do vírus causador da doença. 

A informação foi confirmada pelo coordenador do projeto, Jerson Lima Silva, do Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). Ele vai apresentar os resultados dos estudos nesta quinta-feira (13), durante simpósio sobre o novo coronavírus na Academia Nacional de Medicina (ANM). 

Silva também vai anunciar o depósito de patente para garantia do processo tecnológico produzido no Brasil e a submissão de publicação no MedRxiv, um repositório de resultados preprint (antes de publicados em jornais e revistas científicos). 

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Os cavalos foram inoculados com a proteína S

Os cavalos foram inoculados com a proteína S recombinante do novo coronavírus. Depois de 70 dias, os plasmas dos equinos apresentaram anticorpos neutralizantes 20 a 100 vezes mais potentes

Foto: Divulgação / Instituto Vital Brazil

Quando começou, o projeto visava a obter gamaglobulina purificada, material biológico mais elaborado do que soros antiofídicos e antitetânicos. Esse soro é chamado hiperimune ou gamaglobulina hiperimune, porque os pesquisadores inocularam o antígeno, durante três semanas, nos plasmas de cinco cavalos do Instituto Vital Brazil (IVB), laboratório oficial do governo fluminense.

Os animais foram inoculados com a proteína S recombinante do novo coronavírus, produzida no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ). Depois de 70 dias, os plasmas dos equinos apresentaram anticorpos neutralizantes 20 a 100 vezes mais potentes contra a doença do que os plasmas de pessoas que tiveram Covid-19 e estão em convalescência, segundo Jerson Lima Silva.

Patente

Os resultados positivos levaram ao pedido de patente, relativo ao processo de produção do soro anti-Covid-19, a partir da glicoproteína da espícula (coroa) do vírus com todos os domínios, preparação do antígeno, hiperimunização dos equinos, produção do plasma hiperimune, produção do concentrado de anticorpos específicos e do produto finalizado, após a sua purificação por filtração esterilizante e clarificação, envase e formulação final. O trabalho científico envolve parceria da UFRJ, IVB, Coppe/UFRJ e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). “Estamos juntando a expertise de várias pessoas.”

Jerson Lima Silva afirmou que o resultado da inoculação nos cavalos foi uma grande surpresa para os pesquisadores. “Os animais nos deram uma resposta impressionante de produção de anticorpos. Inoculamos em cinco e agora estamos expandindo para mais cavalos.” 

Quatro dos cinco equinos responderam muito rapidamente. “O quinto (animal), assim como acontece nos humanos, teve uma resposta mais demorada, mas também respondeu produzindo anticorpos”, disse. Os cavalos do Instituto Vital Brazil estão em uma fazenda do laboratório, no município de Cachoeiras de Macacu, região metropolitana do Rio de Janeiro.

Os estudos comprovaram que o soro produzido por cavalos para tratamento da Covid-19 é superior ao feito com plasma de doentes convalescentes. “A gente vê que o nosso anticorpo do cavalo, em alguns casos, é próximo de 100 vezes mais alto. Entre 50 e 100 vezes”. Isso significa que os anticorpos produzidos pelos animais neutralizam o vírus da doença com até 100 vezes mais potência, “mesmo quando a gente vai para a preparação final dos soros”.

Estudo complementa chances de vacina

O coordenador do projeto explicou que outra vantagem do estudo é que ele é complementar às possibilidades de vacinas contra o vírus, cuja maioria se baseia na proteína da coroa. A ideia é que o soro produzido a partir dos plasmas dos equinos inoculados seja usado como tratamento, por meio de uma imunoterapia, ou imunização passiva. A vacina seria complementar.

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Após a aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), o grupo de pesquisadores vai iniciar os testes clínicos, com foco nos pacientes com diagnóstico confirmado de Covid-19 que estejam internados, mas não em unidades de terapia intensiva (UTIs). 

Os testes vão comparar quem recebeu o tratamento com quem não recebeu. “A gente está bem otimista. Mas essa é uma etapa que tem de ser feita”, disse Silva.

Ele informou que pretende firmar parcerias com outros laboratórios semelhantes que produzem soro no Brasil, localizados em São Paulo e Minas Gerais, por exemplo, “porque será preciso muito material”.

Soroterapia

O estudo indica que, enquanto não há vacinas aprovadas e diante da dificuldade em atender à grande demanda em todo o mundo, o uso potencial da imunização passiva por terapia com soro deve ser considerado uma opção. 

A soroterapia é um tratamento bem-sucedido e utilizado há décadas contra doenças como raiva, tétano e picadas de abelhas, cobras e outros animais peçonhentos, como aranhas e escorpiões. Os soros produzidos pelo IVB têm excelente resultado de uso clínico, sem histórico de hipersensibilidade ou quaisquer outras eventuais reações adversas. Os estudos clínicos serão realizados em parceria com o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor).

A pesquisa conta com apoio financeiro da Faperj, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).


Sinovac: conheça detalhes da vacina chinesa em parceria com Instituto Butantan


Karla Chaves e Luana Franzão Da CNN, em São Paulo

Desde o início da pandemia da Covid-19, a busca por uma vacina que crie imunização contra a doença tornou-se o centro das atenções.

Atualmente, por volta de seis vacinas estão na fase final de testes e três delas realizam testes no Brasil. Muito se fala sobre esse assunto e para ajudar a esclarecer dúvidas sobre, a repórter Karla Chaves conversou com Gustavo Cabral, imunologista formado em Oxford, no Reino Unido, e em Berna, na Suíça.

Entre tantos termos e técnicas, entenda como funciona a vacina da farmacêutica chinesa Sinovac, também conhecida como Coronavac, que está sendo testada em território brasileiro em parceria com o Instituto Butantan.

Segundo o governador paulista João Doria (PSDB), até dezembro, 15 mihões de unidades da vacina estarão disponíveis pelo SUS.

Coronavac usa vírus inativado

O procedimento utilizado pela Coronavac consiste em injetar vírus inativados por agentes químicos ou físicos no organismo, fazendo com que o sistema imunológico identifique o invasor e produza defesas contra ele. Assim, quando o corpo entrar em contato com o vírus ativo, não será infectado.

A estratégia de trabalhar com o vírus inativado, ou seja, morto, já foi utilizada para várias outras vacinas, então já sabemos os prós e os contras”, afirma Cabral.

Atualmente, vacinas como a da gripe, ministradas anualmente, usam esse método.

Desvantagens

Gustavo Cabral explica que, apesar de ser um método comum, administrar vacinas com vírus inativados também possui desvantagens.

“O problema em usar o vírus inteiro [e não partes dele, como em outras estratégias] é que precisamos entender se ele tem associação com outros coronavírus, como o SARS-CoV-1 e o MERS. Países que têm outros coronavírus precisam saber disso”, afirmou.

Para explicar por que essa associação pode ser perigosa, ele usou o exemplo do vírus da dengue: “Quando contraímos o vírus do sorotipo 1, nos protegemos dele. Mas se somos infectados pelo sorotipo 2, ao invés de estar protegido, isso pode levar a doença a se tornar mais grave, como, por exemplo, a dengue hemorrágica. Então essa ligação ao invés de proteger pode induzir a uma piora de outra doença”.

Segundo o cientista, entretanto, essa é uma questão pouco preocupante no Brasil. No país não há presença de outros tipos de coronavírus em quantidades que sejam alarmantes, mas é preciso pensar em todos os fatores, já que se trata de um vírus que se alastrou por todo o mundo.

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Quem é a Sinovac?

A Sinovac Biotech é uma empresa farmacêutica chinesa, sediada em Pequim e criada em 1999. Ela se especializa no desenvolvimento e comercialização de vacina contra doenças infecciosas. 

Algumas das vacinas que são produzidas pela empresa são a Healive, que combate a hepatite A, e a Anflu, que combate a gripe.

 



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