Política : O CENÁRIO
Enviado por alexandre em 09/04/2020 08:13:54

Saúde, economia e depressão

Sem atividade econômica, comércio parado, lojas fechadas e abandonadas, a sensação do cotidiano do nosso cotidiano é a de que estamos a passos largos em direção ao fundo do poço. Ninguém trabalha. Quando se cruzam os braços, o pão escasseia à mesa. Em casa onde falta o pão, todos brigam, ninguém tem razão, ouvi muito esse provérbio português da boca dos meus pais em Afogados da Ingazeira.

Mas nunca parei para refletir sobre sua extensão, que é muito mais ampla do que se possa imaginar. É fato que o provérbio remete a um desentendimento doméstico, mas nesta crise se aplica aos momentos de horror que vivemos. A saúde pública é fundamental. Salvar vidas, imprescindível. Quando se está em jogo a vida de todos nós, isso nos alivia, abre o horizonte da aposta na esperança.

A esperança de que vidas salvas, a economia se recupere mais à frente. O que nos leva também a uma outra reflexão é quanto ao timing disso tudo que nos assusta, dá pânico, tudo provocado pela depressão do isolamento. Isolar agora, para amanhã colher desse isolamento o proveito de uma vida mais próspera e melhor aproveitada diante de uma economia mundial plenamente recuperada.

Mas que a alma de todos nós está dolorida, não há dúvida. E quanto mais o tempo se encarrega em pintar o cenário do futuro assombroso, de cenas de medo e horror, mas vai se encarregando de mostrar que tudo pode ser pior do que se possa imaginar do ponto de vista do empobrecimento da população.

A caminho do fundo do poço, em apenas um dia, 22 milhões de brasileiros se cadastraram para ter direito a uma ajuda de R$ 600 individual e R$ 1,2 mil para família. O que impressiona é que essa grande maioria vive aos deus dará. Do total, quase a metade não tem conta corrente. O Brasil, na crise da pandemia do coronavírus está redesenhando esse quadro, com um fosso social mais agudo do que muitos especialistas em economia e catástrofes estão prevendo com declarações estarrecedoras na mídia.

Como funciona – Em relação ao programa social emergencial do Governo na crise da pandemia do coronavírus, com o pagamento dos R$ 600, a mulher que for mãe e chefe de família, e estiver dentro dos demais critérios, poderá receber R$ 1,2 mil (duas cotas) por mês. Na renda familiar, serão considerados todos os rendimentos obtidos por todos os membros que moram na mesma residência, exceto o dinheiro do Bolsa Família. Quem já recebe outro benefício que não seja o Bolsa Família (como seguro desemprego, aposentadoria) não terá direito ao auxílio emergencial.

Mais uma ajuda – O Governo liberou novos saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço de até R$ 1.045 de contas ativas e inativas. Os saques começarão em 15 de junho e vão até 31 de dezembro. Qualquer pessoa que tiver conta, ativa ou inativa poderá fazer o saque. Quanto ao calendário do saque, ainda não foi divulgado. Caberá à Caixa Econômica Federal definir os critérios e o cronograma dos novos saques. Mas o banco adiantou que a dinâmica será a mesma das demais liberações do FGTS: os saques serão feitos de acordo com o mês de nascimento do trabalhador.

Perguntar não ofende: O Governo terá caixa suficiente para bancar os R$ 600 da ajuda aos trabalhadores da informalidade até quando?


O vírus está nos ensinando: existe uma agenda comum a todos nós

 

Por: Aldo Ribeiro – Economista e progressista.

Talvez nem seja a hora de se fazer esse tipo de reflexão. Não, não é. A travessia no combate ao covid-19 ainda é longa e imprevisível. Portanto, fiquemos em casa. Mas, já podemos vislumbrar algumas observações gerais, pra que lá na frente, nos sirva de base pra aprofundamentos futuros.

Li por esses dias, que Cristiano Ronaldo será em poucos dias o 1º jogador de futebol a alcançar a marca de 1 bilhão de dólares em faturamento ao longo de sua vitoriosa carreira. Algo em torno de 5,2 bilhões de reais. Messi e Neymar, logo logo também alcançarão essa marca. Números surreais. Vindo pra um mundinho mais pé no chão, também li que o São Paulo cortou 50% dos salários dos atletas face a pandemia que assola o planeta. Num chute mais ou menos certeiro, vamos considerar que na média cada jogador do clube receba 300 mil reais a cada trinta dias. Passarão a receber 150 mil reais. Os jogadores chiaram. Isso também é surreal.

Agora vejam: as quinhentas pessoas mais ricas do mundo ganharam no ano passado a quantia estratosférica de 1,2 trilhões de dólares. O que dá mais de 6,2 trilhões de reais. Repito: somente em 2019.

Em contrapartida, ainda antes dessa pandemia, cerca 822 milhões de pessoas passavam fome no planeta. Mais de 322 milhões sofrem de depressão. 800 mil pessoas cometem suicídio todos anos. Vivemos num inferno, meus caros. O sistema condiciona sucesso a dinheiro e poder. Mas afinal de contas o que é sucesso? Uma Ferrari na garagem ou a paz de espírito do ser? Contemplar um pôr do sol, ou residir numa mansão com a miséria ao seu redor?

O vírus está nos mostrando que o sistema ao qual fomos talhados à tê-lo como referência, e o mais apto a mediar e harmonizar as relações econômicas e sociais, entre pessoas e povos, é canalhamente falho. Mostra sua face mais cruel, ainda que isso já ocorra há muito tempo. O vírus acelerou o processo de colapso desse sistema.  Acabou. Nada será como antes. Qual a solução? Um capitalismo de estado? É uma pergunta.

E aí, atentem: neoliberais na sua versão mais sacana, buscam lucros. Seus objetivos são traçados com e para esse objetivo. Aqui no Brasil, a coisa chega a ser uma patologia esquizofrênica. Me perdoem os pobres de direita que se acham classe média, mas Paulo Guedes é um tirano. Não tem empatia com pobre. Nem que você que ainda o defende. Seu maior protegido é o sistema financeiro. Os bancos. 1,2 trilhão de reais liberados pelo Banco Central sem pestanejar. E insisto, olha que coincidência: ele é banqueiro. Sua equipe é uma maioria quase que absoluta de banqueiros. Por outro lado, percebam a dificuldade que está sendo a liberação de recursos pra trabalhadores informais e mães solteiras. A proposta inicial eram míseros 200 reais. Some-se à isso, o quase nada que se fez pela preservação de empregos, e de pequenas e médias empresas. Elas correspondem a 52% dos empregos formais no Brasil, e 27% do PIB. Reforço: ideologizar a política econômica por birra ou orgulhinho ferido, poderá nos levar à uma quebradeira muito pior do que imaginamos. E você, pobre de direita, sofrerá as consequências. Nós sofreremos as consequências. Vejam só. No Chile, berço da política neoliberal na América Latina, o presidente Sebastián Pinera liberou um pacote de medidas que visam proteger pequenas e médias empresas, e preservar empregos. 4,7% do seu PIB. Isso no já longínquo 18/3. E aqui no Brasil? O que foi feito nesse sentido? Quanto do PIB foi utilizado? São respostas que você que chegou até aqui, e acredita em tudo que esse governo te fala, precisa buscar.

Sei que é inútil pedir-lhes esse exercício de reflexão. Ser bolsonarista à essa altura, é uma anomalia. Tipo ler algum artigo do Rui Galdino até o fim. Ou escutar as defesas rebuscadas, porém indefensáveis, do outro Rui. O do rádio. Mas acredite, nenhum ódio à político ou à qualquer partido, pode ser maior do que sua capacidade de enxergar as coisas como elas são. O que nos une nesse momento, é muito maior do que o que nos afasta. Outro mundo é possível.

Abraço à todos.

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