Após a desastrada passagem de Roberto Alvim pela chefia da Secretaria Especial de Cultura, a ordem do Palácio do Planalto, é eliminar todos os rastros da gestão do dramaturgo no órgão. O objetivo é transmitir à sociedade a mensagem de que o governo como um todo não compactua com as ideias do ex-secretário, exonerado do cargo após divulgar um vídeo no qual parafraseou Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista.
A tendência é de que, antes mesmo de Regina Duarte responder formalmente ao convite para comandar a secretaria, os dirigentes nomeados por Alvim sejam os próximos na fila de exonerações.
São eles, no primeiro escalão do órgão, os presidentes da Biblioteca Nacional, Rafael Nogueira; da Fundação Nacional de Artes (Funarte), Dante Mantovani; e da Fundação Palmares, Sérgio Nascimento. Esse último esteve no centro de uma das maiores crises da gestão de Roberto Alvim na Secretaria Especial de Cultura.
Racismo
A nomeação do jornalista atraiu uma avalanche de críticas depois da revelação de que, nas redes sociais, ele negou a existência do racismo, defendeu o fim do feriado da Consciência Negra e, ao atacar diversas personalidades engajadas na causa, sugeriu que elas fossem “mandadas para a África”.
Ele também escreveu que a escravidão foi “terrível, mas benéfica para os descendentes”, porque negros, na sua opinião, vivem em condições melhores no Brasil do que na África. Em meio aos protestos, a nomeação de Nascimento foi suspensa pela Justiça, o que levou o governo a fazer o mesmo, posteriormente. A tendência é que ele seja exonerado em definitivo nos próximos dias.
Já o presidente da Funarte, o maestro Dante Mantovani, ficou conhecido por afirmar, no canal próprio no YouTube, que “O rock ativa a droga, que ativa o sexo, que ativa a indústria do aborto, que ativa o satanismo”.
Sob o comando de Mantovani, a Funarte divulgou, na quarta-feira (22), o edital do “Prêmio de Apoio a Bandas de Música 2020”, que proíbe a participação de bandas de rock. O concurso visa a premiar bandas de todo o país, com a distribuição gratuita de instrumentos de sopro e ampliação e/ou reposição instrumental. Apesar de direcionado a instrumentos de sopro, o edital não restringe outros tipos de ritmo, apenas o rock.
Apesar da estratégia do governo de tratar todos esses episódios como casos isolados, é de conhecimento público que essa turma do barulho, incluindo o ex-secretário Roberto Alvim, é adepta dos ensinamentos de Olavo de Carvalho, tido como o guru do bolsonarismo.
O líder da Comissão de Segurança Pública da Câmara, deputado Capitão Augusto (PL-SP), afirma que o presidente Jair Bolsonaro está dando “um tiro no pé” ao tomar decisões com base em conselhos que recebe de aliados. Ele se refere à a intenção manifestada pelo presidente de recriar o Ministério da Segurança Pública.
Atualmente, as políticas de combate ao crime e as ações de segurança estão sob responsabilidade do ministro Sergio Moro, que conduz o superministério da Justiça e Segurança Pública. No entanto, a divisão, formulada por Bolsonaro, enfraqueceria imediatamente Moro, como adiantou nesta quinta-feira (23).
Para Capitão Augusto, que está à frente da chamada Bancada da Bala, a decisão soa como retaliação a Sergio Moro. “Agora é totalmente inoportuno recriar o ministério, algo que soa como retaliação. Dividir o Ministério do Moro, que é um ícone no combate à corrupção, é totalmente inadequado no momento. O presidente está sendo mal aconselhado. Ouvindo alguém, ele está fazendo exatamente o contrário do que fazia quando era deputado”, declara.
Na saída do Palácio do Alvorada, na manhã de ontem (23), Bolsonaro chegou a dizer que sabe que Moro “ficaria chateado”, mas disse que vai conversar com o ministro. Outra informação que começou a ser ventilada em Brasília é a intenção do presidente de trocar o comando da Polícia Federal. A decisão deve ser tomada até fevereiro.
Fontes ligadas a PF, relatam que a cúpula da corporação recebeu a informação com surpresa, mas ainda se mantém cética sobre a chance de que a troca realmente ocorra. Bolsonaro já fez esse movimento, mas recuou por temer estragos no governo.
Caso Jair Bolsonaro realmente decida remover Maurício Valeixo do cargo, deve enfrentar resistência. Ele é bem visto pelos agentes e delegados, e a avaliação é de que a mudança no comando seria uma retaliação ao ministro Moro, que confia em Valeixo.
“O diretor-geral da PF está fazendo um bom trabalho, não tem motivo para trocar o comando da corporação. Seria mais uma decisão com base em conselhos errados”, completa Capitão Augusto.