Regionais : Encontro entre Bolsonaro e Trump: cheio de amor entre os presidentes
Enviado por alexandre em 20/03/2019 08:30:00










Estadão - Vera Magalhães

Donald Trump e Jair Bolsonaro foram só amor no encontro de ontem na Casa Branca. O presidente brasileiro fez uma inusitada, para um chefe de Estado, declaração de apoio à reeleição do republicano. Trump, por sua vez, saudou a presença do filho do colega brasileiro, Eduardo Bolsonaro, no encontro.

A sintonia entre os dois foi vista também no repúdio à imprensa e à ameaça de um certo “socialismo” que ameaçaria os dois países.

Para além da retórica, pode resultar em bom saldo para o Brasil caso se confirmem os acenos feitos por Trump: o de concessão de status de aliado preferencial extra-Otan ao Brasil e o apoio ao pleito brasileiro para ingresso na OCDE, o chamado “clube dos ricos”.

No primeiro caso, a simples conferência desse status não resultou em grandes ganhos para países como a Argentina. No segundo, autoridades do próprio governo norte-americano foram menos assertivas no apoio, ao condicioná-lo, por exemplo, a que o Brasil abra mão de benefícios dos quais goza por estar no grupo dos países em desenvolvimento na OMC, a Organização Mundial do Comércio.

Na questão mais importante do encontro para os EUA, a situação da Venezuela, Bolsonaro foi vago quanto ao apoio brasileiro a uma eventual pressão norte-americana por intervenção militar para depor Nicolas Maduro.



Complexo de vira-lata

Por Arthur Cunha – especial para o blog

O jornalista Kennedy Alencar chamou de “complexo de vira-lata” a postura de subserviência do presidente Jair Bolsonaro em relação ao equivalente norte-americano, Donald Trump – a expressão foi cunhada por Nelson Rodrigues para designar a posição de inferioridade que o próprio brasileiro se submete. Acertou na mosca! Mais uma vez Bolsonaro deu mostras de que não faz ideia do tamanho do cargo que exerce. Sua viagem aos Estados Unidos foi outra prova cabal disso.

A tour na terra do Tio Sam começou com Bolsonaro tecendo loas a Olavo de Carvalho, guru-mor da Direita brasileira e do próprio bolsonarismo (se é que podemos dizer que existe um), e a Steve Bannon, estrategista-chefe da Casa Branca demitido por Trump ainda em 2017. Nunca antes na história deste país um “pensador” e um “agente do caos” foram tão venerados por um presidente da República. Em seguida, tivemos Bolsonaro e sua comitiva fazendo uma visita escondida a uma agência de espionagem. Sim, é isso que a famosa CIA é no final das contas. Esqueça os filmes, eles foram responsáveis por golpes de estado e torturas.

Depois, o nosso nobre presidente assinou um decreto autorizando turistas norte-americanos e de outros países a entrarem sem visto no Brasil. Eu te pergunto: Trump fez o mesmo? Não preciso nem responder... Mas tem quem argumente que o presidente de lá foi bonzinho ao defender a entrada do Brasil na OCDE, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Só que para isso nós teremos de abrir mão de participar da lista de países com tratamento diferenciado na Organização Mundial de Comércio.

Por fim, “coroando” a visita, tivemos o encontro entre os dois chefes de Estado das maiores democracias das Américas. A cara do nosso presidente na foto acima diz tudo. Bolsonaro se comportou como um deslumbrado, um borra-botas. Deixou claro que será um capacho de Trump na política externa do Brasil. E voltou para casa envaidecido como muito pouca coisa na bagagem em troca. Oh, boy!

“Carne e unha...” – Essa idolatria toda de Bolsonaro por Trump tem uma explicação até psicológica. Os dois se parecem muito. São frutos de uma guinada à direita no cenário político mundial, sem, necessariamente, terem sido ícones desse pensamento. São rasos, seus governos estão perdidos e eles nutrem uma necessidade quase patológica pela polêmica. Na verdade, se alimentam de brigas - foi assim que construíram as suas respectivas eleições, e dessa forma conduzem as suas presidências.

“... almas gêmeas” – Ambos vivem às turras com a Imprensa, a quem tratam como “inimigos da nação”. Sua comunicação tem como base as redes sociais, notadamente o Twitter. Aliás, quanta besteira os dois presidentes falam no microblog! Transpondo para o “pernambuquês”, Bolsonaro e Trump são dois papangus que deram certo. Best Friends Forever, a dupla BolsoTrump segue à frente das duas maiores potências das Américas; mais unidos do que nunca. “Carne e unha, almas gêmeas”, como diria Fábio Júnior.

Venezuela – Entre as baboseiras proferidas por Jair Bolsonaro nas vezes em que usou o microfone durante sua viagem aos Estados Unidos, estiveram presentes temas como o não à ideologia de gênero e a luta contra o avanço do socialismo. Se fosse só isso... O problema é que Bolsonaro sinalizou que pode apoiar os Estados Unidos, inclusive com homens, em uma eventual intervenção na Venezuela. Em janeiro, o próprio Bolsonaro havia descartado essa possibilidade.

Filho do rei – Merece um capítulo especial nesta primeira visita oficial de Jair Bolsonaro aos Estados Unidos a postura do seu filho Eduardo. A exemplo de Carluxo, vereador que despacha em Brasília, o “03” comportou-se como “filho do rei” – até da reunião reservada com Donald Trump ele participou. Isso sem falar que, com tal postura avalizada pelo pai, Eduardo acabou diminuindo o papel do Itamaraty. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, foi um mero figurante.

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