Regionais : Prefeito exige presença de servidores comissionados em show da noiva em prévia de carnaval
Enviado por alexandre em 18/02/2019 08:40:00

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Prefeito Demóstenes Meira e a noiva Taty Dantas chegaram ao desfile de bloco, em Camaragibe, no Grande Recife — Foto: Reprodução/TV Globo

Servidores comissionados da prefeitura de Camaragibe, no Grande Recife, tiveram a participação exigida pelo prefeito Demóstenes Meira (PTB) em uma prévia carnavalesca neste domingo (17). Em um áudio divulgado nas redes sociais, o chefe do Executivo diz que os funcionários teriam a presença fiscalizada durante o show da noiva dele, a cantora Taty Dantas, que também é secretária municipal de Assistência Social.

A atitude do prefeito de Camaragibe provocou a reação da Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco (OAB-PE).

Questionado pela TV Globo, o presidente da entidade, Bruno Baptista, disse que, em tese, há um ato de improbidade administrativa e, por isso, a Ordem vai enviar um ofício ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE) para apurar o caso.

O bloco carnavalesco Canário Elétrico, que teve a participação da cantora e secretária da prefeitura, é organizado pelo secretário de Educação de Camaragibe, Denivaldo Freire. A contratação de Taty Dantas, segundo o secretário, foi feita a partir de um pedido do prefeito Demóstenes Meira.


Prefeito de Camaragibe exige presença de comissionados em show da noiva durante prévia

No áudio enviado para convocar os servidores, Meira afirma que “quer ver todos os comissionados para dar força ao evento”.

“Vou fazer um cordão de isolamento ao redor do trio só para ficarem os cargos comissionados. Então, por favor, divulguem e multipliquem. A gente vai filmar e eu vou contar quantos cargos comissionados foram”, afirmou, na gravação.

O prefeito também explicou como os servidores deveriam proceder. “Eu sei que tem gente que não gosta de carnaval, mas minha noiva vai cantar, a minha futura esposa. Depois que ela cantar as músicas dela, está todo mundo liberado, mas eu quero todo mundo a partir de meio-dia”, declarou no áudio.

Meira também diz, no áudio, que mandou reforçar a segurança. “Já chamei 30 guardas municipais para fazer o cordão de isolamento por fora e o resto da equipe dos guardas municipais. São mais 200 homens espalhados no meio da multidão para evitar confusão, arma de fogo e droga”, disse.

Em entrevista à TV Globo neste domingo (17), pouco antes do desfile do bloco, o prefeito confirmou que fez a convocação dos servidores e justificou que “era preciso apoiar a noiva”.

“Cargo comissionado é de confiança. Agora, se eu botei no cargo comissionado é porque eu confio. E na hora que eu preciso do apoio deles, eu coloco. Isso é normal. A lei diz que eu posso nomear e exonerar a qualquer momento”, afirmou.
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Bloco Canário Elétrico desfilou em Camaragibe, neste domingo (17) — Foto: Reprodução/TV Globo

O chefe do Executivo também disse que não tem medo da repercussão provocada pelo envio dos áudios. “É verdade, realmente. Assumo e eu sou homem público, e eu não me escondo do povo, e vou para o povo na comunidade, e não tenho medo”, declarou.

A cantora e secretária de Assistência Social de Camaragibe, Taty Dantas, afirmou que tem uma carreira de 18 anos na música e que o trabalho na assistência social da cidade é muito importante. “Estou de coração aberto para me dedicar a essa secretaria. Tenho certeza de que vai ser um sucesso”, diz.

O secretário de Educação de Camaragibe e organizador do bloco, Denivaldo Freire, disse que agremiação recebe apoio logístico da prefeitura, como serviços de segurança e de saúde.

“Taty Dantas é uma grande artista e importante para Camaragibe. A participação dela foi franqueada e ela está se apresentando sem receber nada do bloco”, afirmou.  O líder comunitário Josias de Lima, que trabalha na Secretaria de Saúde, disse que recebeu o áudio enviado pelo prefeito — Foto: Reprodução/TV Globo

O líder comunitário Josias de Lima, que trabalha na Secretaria de Saúde, disse que recebeu o áudio enviado pelo prefeito — Foto: Reprodução/TV Globo

Reações

O líder comunitário Josias de Lima, que trabalha na Secretaria de Saúde, afirmou que recebeu o áudio com a convocação para ir para o desfile. “Acho que quem não for para o bloco será demitido”, afirmou.

O ambulante João Lucas Souza também criticou a atitude do prefeito. “Ele quer fazer fama para a noiva dele. Ele não pode obrigar funcionário público a ir para o show dela. É errado, ridículo”, afirma.

OAB

Questionado pela TV Globo sobre a atitude do prefeito Demóstenes Meira, o presidente da OAB em Pernambuco, Bruno Baptista, declarou que o conteúdo dos áudios é muito grave.

Segundo ele, os comissionados não foram chamados para um ato vinculado às funções municipais. “Os funcionários não seriam nunca, em hipótese alguma, obrigados a frequentar uma festa fora do horário de serviço”, disse.

Para ele, é preciso analisar o caso e saber se houve assédio moral. "O Superior Tribunal de Justiça (STJ) possui o entendimento de que o assédio moral caracteriza ato de improbidade administrativa”, disse o presidente da OAB-PE.

Segundo Baptista, o prefeito tem direito ao contraditório e a uma ampla defesa, como todo cidadão. Sobre a nomeação da noiva, o presidente da Ordem aponta que não há, a princípio, nenhum problema.

“É preciso verificar a devida competência para o exercício do cargo e se existem qualificações dos atributos para a ocupação de um cargo tão importante, numa prefeitura”, observou.  Presidente da OAB-PE, Bruno Baptista, disse que vai enviar um ofício ao Ministério Púbçico de Pernambuco  — Foto: Reprodução/TV Globo

Presidente da OAB-PE, Bruno Baptista, disse que vai enviar um ofício ao Ministério Púbçico de Pernambuco — Foto: Reprodução/TV Globo



Sem crise de consciência

Por Arthur Cunha – especial para o blog

Chegou a causar estranheza a normalidade com que o prefeito de Camaragibe, Demostenes Meira, mandou áudios de WhatsApp ordenando os “cargos comissionados” da gestão a irem para o bloco de Carnaval onde sua noiva fez um show, ontem – a agremiação do secretário de Educação, por sinal, foi patrocinada pela Prefeitura com dinheiro do povo. Parecendo tratar de uma questão comum da administração, Meira usou um tom de ameaça ao revelar que havia mandado gravar o evento para ver, posteriormente, quem foi. Desde que este colunista divulgou com exclusividade o conteúdo dos áudios, o caso correu todo o Estado gerando muita discussão sobre os limites éticos da relação entre prefeitos e comissionados. E confusão também.

Quem conhece o prefeito de Camaragibe, sabe que ele – digamos – não tem muitos filtros na hora de defender os seus pontos de vista. “Eu sei que tem gente que não gosta de Carnaval; eu também não vivo Carnaval. Mas minha noiva vai cantar, a minha futura esposa, Taty Dantas. E eu quero a presença de todos os cargos comissionados. Vai lá para dar presença. Depois que ela cantar as músicas dela está todo mundo liberado”, disse o gestor, curto e grosso, na primeira mensagem, horas antes de o bloco Canário Baleado, do secretário Denivaldo Freire, começar. Vale salientar que a noiva do prefeito só começou a cantar perto das 18h; e a convocação foi para todos estarem lá às 12h.

No segundo áudio, Meira aumentou o tom da ameaça. “Pessoal, aqui é o prefeito Meira! Quem clicou e ainda não viu a mensagem trate de ouvir a mensagem. Trate de ouvir a mensagem porque eu estou acompanhando de perto quem está clicando, quem está abrindo. Quem está dormindo, quando acordar, clica e escuta a minha mensagem. Quero todos os cargos comissionados no bloco, independente de ser crente, espírita, católico; de não gostar de Carnaval. Vou fazer uma filmagem, vou gravar todos os cargos comissionados que estiverem presentes”, cravou.

A única diferença de Meira para a maioria dos gestores municipais é que ele não faz questão de escancarar esse tipo de prática, tão corriqueira no cotidiano das prefeituras. Com o posicionamento, ele acabou mostrando como pensa uma grande parcela dos que nos governam, misturando o público com o privado sem nenhuma crise de consciência. Utilizando, na realização dos seus caprichos, funcionários que recebem do Município para executar serviços que beneficiem (apenas) a população. Se o Ministério Público não agir de imediato, será conivente e estará autorizando, tacitamente, a continuidade desses desmandos em Camaragibe.

Periquita – Para quem não conhece, a noiva e futura esposa do prefeito de Camaragibe é a cantora Taty Dantas, que aparece em vídeos na Internet cantando músicas a exemplo daquela cujo refrão é: “Quem vai querer a minha periquita, a minha periquita, a minha periquita?”. A canção, da banda Forró de Aço, tem, claro, duplo sentido – Taty a cantou no bloco, ontem. Diz a letra: “Uma águia passou pelo meu quintal/ Num vento forte querendo namorar/ Acho que tá querendo a minha periquita/ Que há muito tempo estou doida para dar”.  

Secretária – A futura primeira-dama, inclusive, foi nomeada secretária de Assistência Social de Camaragibe pelo noivo prefeito. Em sua fala na posse, Taty Dantas demonstrou não conhecer muito sobre as atribuições da pasta. Disse que vai dar o melhor de si para, junto aos vereadores, “regulamentar as novas leis e fazer um Camaragibe melhor”. Oi?! Ela entrou na vaga de Júnior Borralho, filho de Val do Borralho, liderança ligada a Meira, que saiu do grupo atirando depois de o rebento ser preterido.

Cadê os guardas? – Para “fiscalizar” os comissionados no show da noiva, o prefeito de Camaragibe disse que montaria um cordão de isolamento com 30 guardas municipais. E que o restante do efetivo estaria fazendo a segurança do bloco. Dito e feito! Como resultado, começaram a chover denúncias da ausência desses servidores em outros equipamentos públicos da cidade, como o hospital Doutor Aristeu Chaves, que ficou desprotegido. Meira acabou deixando outras áreas da cidade descobertas para prestigiar a amada.

Até o cemitério fechou! – Se financiar com dinheiro público o bloco Canário Baleado, do seu secretário de Educação, já pode trazer muita dor de cabeça para o prefeito Meira, o que dizer do fechamento do cemitério de Camaragibe para que os comissionados que lá trabalham fossem prestigiar a noiva do gestor na agremiação? Pois, parece cena da novela “O Bem Amado”. Mas aconteceu! E quem denunciou esse absurdo foi a internauta Ana Paula Dias Melo, que não conseguiu enterrar a avó, falecida no sábado. É de causar perplexidade mesmo.

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