Mais Notícias : Não se sabe com quem está o poder
Enviado por alexandre em 16/02/2019 10:27:49

Não se sabe com quem está o poder

Na quitanda dos Bolsonaro, caso das candidaturas de laranjas virou um pandemônio em 72 horas











André Singer – Folha de S.Paulo

Em todo governo que começa há certo bate-cabeça. Até as peças encaixarem, leva tempo. O problema da presente gestão planaltina é que o líder da turma, em torno do qual precisa se construir a unidade “funcionante”, vem sendo esvaziado, tornando incerto o futuro.

A zoeira deflagrada pelas reportagens da Folha sobre o uso de laranjasno terreno do Partido Social Liberal (PSL) seria cozida em fogo lento por qualquer administração corriqueira de crises. Mas na quitanda dos Bolsonaro virou um pandemônio em 72 horas. 

Na quarta passada, o vereador Carlos Bolsonaro (RJ), filho esquentado, atracou-se com Gustavo Bebianno, presidente durante 2018 da sigla em questão e uma espécie de agregado da primeira família, chamando-o de mentiroso por ter dito que conversara com o pai.

A pauleira entre ambos ganhou foros de Estado na quinta, quando opresidente afirmou ao Jornal da Record que o atual chefe da Secretaria-Geral da Presidência realmente mentira. Ao avalizar as afirmações do parente contra o ministro, o progenitor entrou no bate-boca, praticamente demitindo o subordinado no ar.

O mais grave, porém, estava por vir. Na referida conversa com a emissora do bispo Edir Macedo, foi lhe perguntado sobre Hamilton Mourão. Ciente de que o mundo político não fala de outra coisa que da vontade de mando do vice, optou por expor a fratura existente entre ambos, fazendo questão de criticá-lo por seu contato com a imprensa.

Desde que tomou posse, a despeito dos fortes impulsos autoritários demonstrados no passado, o general fez esforços para dirigir-se aos meios de comunicação num tom que contrasta, pelo equilíbrio, com o do clã vitorioso. 

Enquanto amalucados habitantes das cozinhas dos palácios iam prodigalizando declarações absurdas pelas redes sociais, o quatro estrelas pavimentava a imagem da sensatez.

Exemplar o caso do deslocamento da embaixada brasileira em Israel, colocado por Mourão em banho-maria contra a vontade do clã ora no Alvorada.

Para completar o barraco, numa operação que envolveu o setor militar do Executivo e a presidência da Câmara, Bebianno foi mantido no cargo, ainda que supostamente avisado por Jair Bolsonaro na sexta-feira à noite de que seria demitido na segunda. 

Fica a impressão de que o presidente tem dificuldades para comandar até a própria cadeira, como diria Elio Gaspari, permanecendo sob a tutela de setores armados ainda pouco conhecidos pela opinião pública.

Diante do visível enfraquecimento da autoridade presidencial, será que a vasta unidade da burguesia ao redor da reforma da Previdência será suficiente para estabilizar o quadro? Apostas em aberto.



Os três filhotes

Rebentos já deram indícios de que vão criar problemas para o pai e o país









Hélio Schwartsmann – Folha de S.Paulo

Se tivesse senso de institucionalidade ou mesmo um pouco mais de juízo, Jair Bolsonaro deserdaria seus três filhos envolvidos com a política. O governo ainda não completou dois meses, mas seus rebentos, cada um à sua maneira, já deram indícios de que vão criar problemas para o pai e o país.

O primogênito, o senador Flávio Bolsonaro, embora seja o mais moderado dos três, converteu-se ele próprio no centro da primeira crise enfrentada pela nova administração. Seu envolvimento com Queiroz e as milícias tende a tornar-se uma assombração permanente a pairar sobre a Presidência.

Carlos, o vereador, a quem o próprio pai apelidou de “pit bull”, tem o hábito de jogar gasolina nas questões em que se mete, como acabamos de ver na fritura de Gustavo Bebianno. Além disso, Carlos anda armado ao lado do presidente e, aparentemente, tem acesso a suas senhas nas redes sociais. É incrível que um governo tão densamente povoado por militares admita tal nível de riscos de segurança.

Há, por fim, o deputado federal Eduardo, aquele que gosta de despachar cabos e soldados para fechar o Supremo. A crer nas notícias de bastidores, é o responsável pela indicação de alguns dos personagens teletransportados diretamente da “twilight zone” para a Esplanada dos Ministérios. Na realidade paralela em que esses espécimes habitam, o mundo é dominado por comunistas com o propósito de criar um governo global e destruir a família.

Apesar das dores de cabeça que os três filhotes já causaram e ainda causarão, é improvável que Bolsonaro venha a afastá-los. O problema de fundo é o descompasso entre a nossa programação biológica original (que nos faz proteger filhos e parentes) e o ambiente moderno em que vivemos (que exige do presidente uma impessoalidade institucional). Basicamente, estamos diante de uma armadilha evolutiva, o que significa que a natureza tende a prevalecer sobre o bom senso.



Um filho disputando o pai











Quem esteve com Bebianno antes da reunião dele com Bolsonaro, nesta sexta (15), disse que o ministro parecia “um filho disputando a atenção do pai com os demais integrantes da família“.

O presidente, segundo pessoas próximas, considerou inaceitável a divulgação dos diálogos que travou com Bebianno. No fim da tarde desta sexta, ele começou a informar seus aliados de que havia tomado uma decisão –e ressaltou que ela seria definitiva.

Apesar dos apelos de parte da equipe econômica pelo fim da crise, alguns dos arquitetos da reforma da Previdência já reconheciam, na tarde desta sexta, que manter o secretário-geral da Presidência no governo seria inviável. Se Bolsonaro cedesse, disseram, passaria a imagem de que havia se tornado refém do auxiliar.  (Painel)

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