Regionais : Fuzileiro naval morre de enfarte no DF. Colegas culpam jornada extenuante
Enviado por alexandre em 19/01/2019 22:27:00

O corpo do soldado Miquéias Gabriel Ferreira, de 22 anos, será velado, neste domingo (20/1), na cidade de Januária, interior de Minas Gerais. Segundo familiares, o corpo foi liberado no início da tarde deste sábado (19), após a conclusão da necrópsia no Instituto Médico Legal do Distrito Federal. A cerimônia será na igreja onde o pai do militar é pastor. Ainda não há informações sobre o sepultamento.

Como mostrou o Metrópoles, o soldado morreu na noite da última quinta-feira (17/1). Colegas de farda afirmam que o rapaz se queixava de problemas de saúde e não resistiu à pesada jornada de trabalho no Grupamento de Fuzileiros Navais de Brasília, que aumentou desde o fim do ano passado.

Praças que servem na mesma guarnição de Miquéias relataram estar submetidos, há mais de um mês, a uma rotina extenuante, com jornadas de trabalho de mais de 30 horas seguidas, alimentação escassa e pouco tempo de descanso.

Há cerca de um mês, as escalas foram alteradas para o modelo “um por um” na linguagem militar. O que significa, na prática, 30 horas consecutivas de trabalho – sendo 24 horas de “serviço” e seis do expediente regular. O intervalo entre elas é de 18 horas. A mudança foi necessária por conta das diversas cerimônias militares na capital do país, de acordo com a Marinha.

No início da tarde deste sábado (19/1), o comando do Grupamento De Fuzileiros Navais de Brasília disponibilizou um ônibus para levar os militares que desejassem acompanhar o sepultamento de Miquéias em Minas Gerais.

O texto, divulgado em grupos de WhatsApp, no entanto, destaca que ninguém será liberado para acompanhar as homenagens. “Os interessados não podem estar de serviço no domingo, uma vez que o ônibus partirá hoje [sábado] e retornará no domingo ou na segunda”, diz a mensagem..

Causa da morte
O corpo do soldado foi liberado por volta das 18h deste sábado, após passar por necrópsia. A Marinha do Brasil divulgou nota afirmando que “a certidão de óbito e o relatório da necrópsia serão entregues à família” e destacou que “não foi encontrada relação entre a causa da morte e as atividades realizadas pelo militar em serviço”.

Colegas de farda e familiares receberam, no entanto, um áudio de um amigo de Miquéias que relata que o soldado teria morrido em decorrência de uma apendicite.
A autópsia acabou de ser finalizada. A médica dele disse que o coração estava bom. O que aconteceu é que ele tinha uma variação anatômica e o apêndice dele não era no lugar normal. Então, o apêndice inflamou e como não era no lugar normal, ele não sentia dor localizada. Aí os médicos administrando remédio para dor, sem fazer uma bateria de exames nem nada. O apêndice inflamou, estourou. E só descobriu, infelizmente, com a autópsia"
Trecho da gravação de amigo de Miquéias

O amigo completa: “Desde o Natal, ele já estava se queixando dessas dores. E simplesmente aplicavam remédio para dor e febre e liberavam ele. Então, é isso. Nós perdemos nosso amigo de graça”.

Ouça:

Procurada pelo Metrópoles, a família de Miquéias não quis comentar o assunto. A Marinha informou que não estava autorizada a divulgar informações sobre o resultado da necrópsia.


Circunstâncias do óbito
Também não há consenso sobre as circunstâncias da morte de Miquéias. Segundo os praças, o fuzileiro estava em trabalho, fazendo serviço de guarda, quando passou mal na última quinta-feira (17/1). “Ele foi na enfermaria do grupamento, mas não havia médico. Então, foi para casa. Piorou e foi para o Hospital Naval de Brasília, onde faleceu”, contou um colega.

Já a assessoria de imprensa do Comando do 7º Distrito Naval diz que Miquéias estava de licença médica. Em nota, a Marinha informou que, na última quarta-feira (16), “o militar procurou a enfermaria do Grupamento, no período matutino, relatando que no dia anterior havia ingerido uma ‘coxinha de frango’ e estava sentindo dores abdominais, solicitando um antiácido”.

Segundo o texto, “no mesmo dia, após ele ter sido licenciado, o militar, por meios próprios, buscou atendimento no Hospital Naval de Brasília, por volta das 18h40, onde foi atendido, medicado e liberado com as devidas orientações e prescrições médicas, recebendo, na oportunidade, uma dispensa domiciliar para repouso de dois dias corridos”.

A nota informa ainda que, na quinta-feira (17), por volta das 17h, “o militar regressou ao Hospital Naval de Brasília, ainda queixando-se de dores abdominais, sendo atendido no serviço de pronto-atendimento, onde foi novamente avaliado e medicado”. Foi quando, segundo a Marinha, o quadro de Miquéias piorou.
Durante o período em que estava recebendo a medicação, o militar sofreu uma parada cardiorrespiratória, por volta das 18h40. Imediatamente, a equipe médica do hospital iniciou os procedimentos de reanimação, utilizando todos os recursos possíveis na tentativa de reversão do quadro"
Trecho da nota da Marinha sobre a morte de Miquéias

Ainda de acordo com a assessoria de imprensa do Comando do 7º Distrito Naval, “às 21h30, o militar teve seu óbito confirmado. Às 23h, o corpo do militar foi encaminhado para o Serviço de Verificação de Óbito do Distrito Federal para necrópsia e apuração da causa da morte”.

A Marinha também informou que “está prestando todas as informações e apoio social, religioso e psicológico à família do militar”.


Lotado no Grupamento de Fuzileiros Navais de Brasília, o soldado Miquéias Gabriel Ferreira (foto em destaque), 22 anos, morreu na noite da última quinta-feira (17/1). O militar sofreu uma parada cardiorrespiratória e faleceu no Hospital Naval de Brasília. Colegas de farda afirmam que o rapaz se queixava de problemas de saúde e não resistiu à pesada jornada de trabalho, que aumentou desde o fim do ano passado.

Como mostrou o Metrópoles, praças que servem na mesma guarnição de Miquéias relataram estar submetidos, há mais um mês, a uma rotina extenuante, com jornadas de trabalho de mais de 30 horas seguidas, alimentação escassa e pouco tempo de descanso.

A morte do soldado comoveu os outros militares do grupamento. Segundo um deles, Miquéias já havia se queixado, em diversos momentos, de dores. “Nós, amigos dele, falamos para fazer exames, ir ao hospital. Mas ele tinha medo. Se alguém aqui reclama de dor ou da rotina, é taxado de militar ‘nutella’, de vagabundo. Vira chacota e é perseguido”, contou o homem, que, assim como outros praças ouvidos pela reportagem, pediu anonimato por temer represálias.

“Estamos revoltados e assustados com a morte do Miquéias. Estamos sendo esculachados e não temos para quem pedir socorro, pois sofremos sanções. O comando está acabando com a nossa saúde, nos levando à exaustão. E não podemos reclamar”, relatou outro fuzileiro entrevistado pelo Metrópoles.

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Há cerca de um mês, as escalas foram alteradas para o modelo “um por um” na linguagem militar. O que significa, na prática, 30 horas consecutivas de trabalho – sendo 24 horas de “serviço” e seis do expediente regular. O intervalo entre elas é de 18 horas.

Antes da alteração nas escalas, os militares só faziam o plantão de 24 horas a cada três dias, o chamado “três para um”. Nos intervalos, trabalhavam apenas as seis horas do “expediente”, na linguagem da caserna.

Segundo relatos ouvidos pela reportagem, diante do cansaço dos praças, os comandantes do grupamento adotaram posturas ainda mais rígidas. “Quando assumimos o último serviço, perguntaram quem não tinha condições de trabalhar. Sete em um grupo de 20 levantaram a mão. Foram xingados na frente de todos, acusados de formação de motim e ameaçados de prisão”, contou um militar.

“Não tem saúde que aguente. Isso é escravidão. O excesso de trabalho está acabando com a gente. Não temos tempo de ir ao médico, fazer exames de rotina, de nos cuidar”, afirmou outro praça. Ele teme que outra fatalidade, como a de Miquéias, volte a se repetir.

Nascido em Januária, Minas Gerais, Miquéias não é o único fuzileiro da Marinha na família. O irmão mais velho, Bruno Ferreira Belém, também serviu no grupamento em Brasília. Acompanhado dos pais, ele veio à capital federal quando soube do óbito. A família ainda não definiu se o velório será aqui ou na cidade mineira. Nenhum parente de Miquéias quis falar sobre a morte do soldado ou as condições de trabalho às quais ele estava submetido.

Diferentes versões
Segundo os praças, Miquéias estava trabalhando, fazendo serviço de guarda, quando passou mal na última quinta-feira (17/1). “Ele foi na enfermaria do grupamento, mas não havia médico. Então, foi para casa. Piorou e foi para o Hospital Naval de Brasília, onde faleceu”, contou um colega.

Já a assessoria de imprensa do Comando do 7º Distrito Naval diz que Miquéias estava de licença médica. Em nota, a Marinha informou que, na última quarta-feira (16), “o militar procurou a enfermaria do Grupamento, no período matutino, relatando que no dia anterior havia ingerido uma ‘coxinha de frango’ e estava sentindo dores abdominais, solicitando um antiácido”.

Segundo o texto, “no mesmo dia, após ele ter sido licenciado, o militar, por meios próprios, buscou atendimento no Hospital Naval de Brasília, por volta das 18h40, onde foi atendido, medicado e liberado com as devidas orientações e prescrições médicas, recebendo, na oportunidade, uma dispensa domiciliar para repouso de dois dias corridos”.

A nota informa ainda que, na quinta-feira (17), por volta das 17h, “o militar regressou ao Hospital Naval de Brasília, ainda queixando-se de dores abdominais, sendo atendido no serviço de pronto-atendimento, onde foi novamente avaliado e medicado”. Foi quando, segundo a Marinha, o quadro de Miquéias piorou.

“Durante o período em que estava recebendo a medicação, o militar sofreu uma parada cardiorrespiratória, por volta das 18h40. Imediatamente, a equipe médica do hospital iniciou os procedimentos de reanimação, utilizando todos os recursos possíveis na tentativa de reversão do quadro”, completa o documento.

Ainda de acordo com a assessoria de imprensa do Comando do 7º Distrito Naval, “às 21h30, o militar teve seu óbito confirmado. Às 23h, o corpo do militar foi encaminhado para o Serviço de Verificação de Óbito do Distrito Federal para necrópsia e apuração da causa da morte”.

A Marinha também informou que “está prestando todas as informações e apoio social, religioso e psicológico à família do militar”.

metropoles

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