Brasil : MUSICAL
Enviado por alexandre em 22/05/2018 08:37:07

Sertanejos repensam carreiras e pagam multas milionárias

G1

Essas notícias parecem não interferir tanto na vida daqueles que estão curtindo o som desses e outros artistas. Mas o mercado musical se agita quando acontecem esse vai e vem, geralmente acompanhada de multas milionárias.

E esse troca-troca de escritórios influencia no lançamento de músicas, nas parcerias entre artistas e até na estrutura (maior ou menor) do show que você vê.

Como funciona um contrato entre artista e escritório?

Segundo apuração do G1, a maior parte dos contratos entre escritórios e artistas é válida para um período de 5 a 10 anos.

A parceria mais comum é a que prevê que 50% dos cachês dos shows fiquem para o escritório, enquanto os outros 50% ficam para o artista. Se houver uma terceira pessoa ligada ao evento, a porcentagem sai da parte do ganho do artista.

Antes, a maioria trabalhava no esquema 30% (empresário/escritório) e 70% (artista).

Gusttavo Lima já contou que desembolsou R$ 12 milhões quando encerrou seu contrato com a AudioMix. Por isso, o primeiro volume do “Buteco do Gusttavo Lima”, gravado antes da quebra de contrato, demorou a sair.

Hoje lançando a segunda edição do projeto, ele comemora a fase com controle quase total da carreira.

“Estou feliz. Estou produzindo como nunca, crio minhas metas e sigo. Eu sempre quero mais, sou elétrico e isso me faz bem”.

Gusttavo diz estar no comando, mas hoje tem sua agenda nas mãos da WorkShow, um dos maiores escritórios do sertanejo. Dele, fazem parte as duplas Zé Neto e Cristiano, Henrique e Juliano, Marília Mendonça e Maiara e Maraísa.

Segundo apuração do G1, os quatro são os únicos que são realmente agenciados pelo escritório.

Os outros oito artistas (entre duplas e solo), deixaram apenas a agenda de shows e eventos no controle do grupo comandado pelo empresário Wander Oliveira.

São do mesmo escritório? Então bora gravar juntos

Até 2012, ele tinha sob sua batuta apenas a dupla João Neto e Frederico. Naquele ano, Wander assinou com Henrique e Juliano.

Juntas, as duplas gravaram “Não tô valendo nada”, mostrando como as parcerias não são tão naturais assim: escolhas de duetos são feitos não só por afinidade, mas levando em conta se os artistas são ou não colegas de escritório.

Mas o casamento logo se desfez após desentendimentos entre Wander, João Neto e Frederico. Atualmente, a dupla está com a Mega Produções Artísticas.

A outra artista mais conhecida da Mega era Naiara Azevedo: até março, quando ela passou a ser agenciada apenas pelo marido Rafael Cabral.

Outros troca-trocas do mercado sertanejo

Esse troca-troca de escritórios tem sido cada vez mais comum. Já aconteceu com Maria Cecília e Rodolfo, Paula Fernandes, Marcos e Belutti, Breno e Caio César. O caso mais recente foi o da dupla Henrique e Diego, que encerrou contrato com a Dut’s.

"Não estava bom para a gente. Nós que começamos sozinhos lá atrás, mais uma vez estamos sozinhos e buscando cada vez mais fortalecer nossas músicas junto com a gravadora que nos incentiva muito”, afirma Diego ao G1.

No início da carreira, bem antes de “Suíte 14”, a dupla já teve passagem pela FS Produções Artísticas, escritório comandado por Sorocaba, cantor que faz dupla com Fernando.

Além de Fernando e Sorocaba, fazem parte da FS Lucas Lucco, Felipe Duran e Lauana Prado e as duplas Thaeme e Thiago e Milionário e Marciano. Marcos e Belutti saíram após cinco anos de parceria.

Como funciona um escritório de sertanejos?

Em entrevista ao G1, Sorocaba diz que a saída dos artistas de seu escritório sempre é "tranquila". Ele explica qual o trabalho de um escritório na carreira de um artista.

"Ajuda a gerir, cuida da gestão da vida toda do artista, desde a parte musical, a escolha do repertório, da composição, até a comercialização dos shows".

“A parte pessoal a gente não entra. Mas lógico, o que ele vai vestir dentro de um DVD, que tem um conceito X, a gente se mete. A gente ajuda a formular”.

Os escritórios assumiram o papel das gravadoras?

Em 2014, Fernando e Sorocaba abandonaram a gravadora Som Livre da qual faziam parte. Na época, eles se disseram mais livres e sem pressão para lançar músicas. Quatro anos depois, Sorocaba fala sobre a mudança no peso da gravadora na carreira de um artista.

“Hoje a coisa é muito democrática. Antigamente você precisava estar em uma gravadora, porque a gravadora colocaria você em contato com as rádios, só ela fazia acontecer. Hoje, o que é bom acaba acontecendo”.

Cristiano, dupla de Zé Neto, analisa a importância dos dois na carreira: “Escritório e gravadora andam juntos, mas escritório é fundamental. Eles sabem percorrer o caminho”.

Nosso contrato é vitalício, cê tá amarrado aqui comigo?

Para Nichollas de Miranda Alem, advogado especialista em direito do entretenimento, e presidente do Instituto de Direito, Economia Criativa e Artes, “existem fatores que dificultam a constituição de relações claras e sólidas”. São elas:

baixa formalização de artistas, grupos e agentes;

prática de acordos verbais ao invés de contratos escritos;

pouca cultura de consulta a advogados na fase negocial;

replicação de modelos de contratos sem observar a realidade do caso concreto;

ausência de previsões legais sobre o assunto.

Nichollas diz que não há regra legal sobre definições ou proibições de como um agente musical deve ser remunerado. Ele cita pontos importantes que devem ser inseridos nas cláusulas dos contratos entre empresários e artistas.

“Ele deve definir com clareza os serviços que serão prestados, se há e quais são os poderes de representação do artista, como será feita a remuneração, as licenças de direitos e quais os mecanismos de solução de conflito”.

Mesmo com todos esses cuidados, há riscos. Segundo uma fonte do G1, “um artista no começo de carreira assina qualquer coisa que prometer sucesso para ele". "Qualquer pessoa que disser que vai investir R$ 10 mil, ele assina. Esse vende a alma mesmo. Porque ele não enxerga nenhuma outra opção, e é o sonho da vida”.

“Os artistas vão para o escritório com o intuito de expandir, mas chegam lá e ficam na gaveta. Saem porque não têm espaço. E os caras ficam bravos porque ganhavam salário e, quando explodem, têm que manter o esquema, mesmo sabendo que o escritório ganha muito mais. Eles sabem que se abrirem escritório próprio, ganham muito mais”, cita outra fonte.

Mas as quebras de contrato vão além da falta de expectativa, explica Sorocaba: "Tem artista que eu conheço que tem 10% da carreira, e o outro percentual é de Deus e o mundo".

"O que ele pensa na cabecinha dele: ‘Deixa o pau torar. Estou com 10%, então quando chegar lá na frente, sou artista, me revolto, papel é papel, quero ver quem vai me barrar’. Porque a justiça brasileira é demorada, onerosa, e daí deixa o pau quebrar”, cita Sorocaba.

“Pra estourar, ele vende a alma. Não só para grandes escritórios. A regra tem que ser clara. Nada melhor do que um bom acordo, uma boa conversa. Por que os escritórios querem cada vez mais fazer só o agenciamento e, não, gerir a carreira, como deve ser feito? Porque eles não querer mais essa bucha".

"A cabeça do artista começa de um jeito e amanhã ele não quer mais andar num ônibus, ele quer andar num jato. Amanhã ele não quer mais andar no avião de hélice, quer andar no jato supersônico, e o dinheiro vai ficando”.



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