Justiça : AMARELOU?
Enviado por alexandre em 01/04/2018 12:09:32


Raquel Dodge amarelou? Tudo indica que não


Helena Chagas – Blog Os Divergentes

Tão surpreendente quanto a prisão dos melhores amigos de Michel Temer, na quinta-feira, foi o pedido da PGR Raquel Dodge para soltá-los, neste sábado à tarde. A depender do ministro Luís Roberto Barroso, é possível que o advogado José Yunes, o coronel João Batista Lima e o ex-ministro Wagner Rossi – ou ao menos dois desses três, entre outros – comam seus ovos de Páscoa em casa. Seguindo-se ao endurecimento do discurso do Planalto, que politizou a questão e apontou excessos e abusos, a pergunta que não quer calar em Brasília agora é: Raquel amarelou?

Tudo indica que não, e que o fato de pedir a soltura desses acusados não quer dizer que não se achou grande coisa contra eles e contra Temer na operação Skala. Pode ser até o contrário. A justificativa de Dodge é de que o objetivo das prisões já foi cumprido – ou seja, eles deram depoimentos para instruir o processo e foram encontrados documentos importantes em suas casas e escritórios.

O que significa todo esse material para as investigações só saberemos depois, mas, ao menos à primeira vista, o Ministério Público parece satisfeito. É bom lembrar que nem PF pediu a prisão dos amigos de Temer, solicitando, sim, sua condução coercitiva. Dodge transformou o pedido em prisão porque o instituto da condução está suspenso por liminar do ministro Gilmar Mendes. Barroso, que anda às turras tanto com Mendes quanto com Temer, aceitou.

Apesar das acusações que pesam sobre esses personagens presos, o principal investigado no inquérito dos Portos é o presidente Michel Temer. E o fato de seus amigos saírem da prisão neste momento, embora jogue certa água fria na fervura política, não indica que Raquel Dodge não apresentará uma terceira denúncia contra o presidente.

Entre tiros e togas

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que terá que decidir sobre apresentar denúncia contra Temer - Pedro Ladeira/Folhapress



Indagações frequentes são saber se há conspiração e quem a dirige

André Singer – Folha de S.Paulo

Houve época em que a palavra tiroteio era usada na crônica política como metáfora. Após o assassinato da vereadora Marielle Franco e dos três disparos que atingiram a caravana de Lula no Paraná a imagem converteu-se em realidade. Nem por isso, a dimensão figurativa deixou de ser usada: o ministro Carlos Marun afirmou, na quinta, que "os canhões da conspiração" outra vez se dirigiam ao Planalto.

Saber se há conspiração e quem a dirige é uma das indagações frequentes destes dias febris. O calibre do projétil que atingiu o presidente da República, no entanto, justifica a expressão ministerial no que se refere ao instrumento bélico que o detonou.

Ao aprisionar 13 pessoas envolvidas em suposto esquema no setor portuário, algumas muito próximas a Michel Temer, a PF (Polícia Federal) e o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso arrebentaram outra vez o já danificado casco da nave presidencial.

A autorização do magistrado para as prisões afirma existirem indícios de "concessão de benefícios públicos, em troca de recursos privados", na área, por mais de duas décadas. Segundo a Folha (30/3), desde 2004 investiga-se a suspeita de que Temer tenha recebido propina de empresas dos portos. Diante da potência do tiro, fica mais fácil entender o bate-boca entre Luís Roberto Barroso e o colega Gilmar Mendes uma semana antes dessa Operação Skala, pois o último é sabidamente próximo ao presidente.

Os desdobramentos da ofensiva contra os amigos do Palácio vão depender, agora, da procuradora-geral da República. Raquel Dodge terá que decidir sobre a apresentação de uma denúncia contra Temer. Tendo sido a segunda da lista votada pelos colegas para dirigir o Ministério Público (MP) e aceitado um encontro no Jaburu, fora da agenda e do horário regulamentar, antes da sua posse, com Temer, Dodge se encontra agora sob enorme pressão para demonstrar independência.

Qualquer que seja o alvitre da chefe do MP, o rugido dos canhões que alvejaram a Presidência da República conseguiu esmaecer o barulho em torno do habeas corpus de Lula, a ser votado quarta que vem, e da absurda violência contra a presença do ex-presidente no sul. O Partido da Justiça, no qual Barroso começa a galgar posto de liderança, aprendeu a usar com maestria a arma do escândalo.

O momento exato de colocar as tropas na rua, as acusações objetivamente graves, a ocupação dos espaços noticiosos nos dias politicamente parados da Páscoa, a repercussão em tom de campanha adotada por parcela da mídia. Nada disso ocorre sem extenso planejamento. O problema é descobrir qual a conclusão do roteiro que, entre tiros e despachos, pretendem nos impor.

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