Política : BRASIL 2018
Enviado por alexandre em 15/11/2017 13:34:33


“Não temos um De Gaulle”, lamenta FHC em Nova York

Ausência de um líder capaz de unir a sociedade

Em Nova York, ex-presidente evita se posicionar de maneira clara sobre sua preferência na corrida pelo Palácio do Planalto

O Estado de S.Paulo - Cláudia Trevisan, enviada especial

NOVA YORK - A menos de um ano da eleição presidencial brasileira, ainda não há na disputa um líder capaz de conquistar o apoio de vários partidos e da sociedade, afirmou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, nesta terça-feira, 14, em Nova York. Em duas horas de discussão com alunos da Universidade de Columbia, ele evitou se posicionar de maneira clara sobre sua preferência na corrida pelo Palácio do Planalto.

“Não temos um De Gaulle”, disse FHC, em referência ao general que presidiu a França de 1959 a 1969 e liderou o país europeu durante a Segunda Guerra Mundial. “Alguém capaz de dar um sentimento de que estamos juntos.” O tucano lembrou que Charles de Gaulle enfrentou uma situação ainda mais difícil que a vivida pelo Brasil e conseguiu reorganizar a sociedade e fundar a Quinta República, em vigor até hoje.

FHC disse que a eleição se dará em um cenário de descrédito dos partidos políticos, em uma disputa na qual a questão moral estará no centro da motivação dos eleitores. Perguntado como o PSDB poderá enfrentar essa questão tendo o senador Aécio Neves (MG), presidente licenciado da legenda, como um de seus líderes, o ex-presidente respondeu: “Como todos os outros partidos, como todos os outros partidos. Não há diferença nisso aí. Há uns piores que os outros. O meu é o melhorzinho até”.

A chegada de FHC nos Estados Unidos, nesta segunda-feira, 13, coincidiu com o agravamento da crise interna do PSDB, motivada pela disputa em torno da presidência da legenda e sua permanência no governo Michel Temer. O ex-presidente limitou seus contatos com a imprensa a declarações relâmpago, de no máximo 1 minuto.

Fonte ouvida pelo Estado afirmou que FHC está em contato com líderes do PSDB, na busca de um caminho consensual para definir o comando do partido. Havia a possibilidade de ele se reunir com o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que está em Boston, mas o encontro ainda não havia sido marcado nesta terça-feira.

Demagogo. Segundo FHC, o descrédito nas instituições políticas no Brasil se reflete na apatia da população. “Agora não há mais pessoas nas ruas, porque as pessoas não acreditam mais.” A emergência de candidatos vindos da extrema direita é um dos novos fatores da disputa presidencial no Brasil, afirmou FHC, que vê o risco de fortalecimento de um líder demagogo.

Para contrapor essa probabilidade, o tucano defendeu a necessidade de um candidato que seja capaz de se cercar de pessoas competentes, apresentar ideias e se comunicar com emoção. “Os partidos normalmente oferecem essas pessoas. Temos várias pessoas. Mas todos os partidos estão em um mau momento.”

Partidos perderam credibilidade, diz FHC em Nova York



Folha de S.Paulo – Silas Martí – De Nova York

"Os partidos políticos perderam a sua credibilidade. Eu pertenço a um partido e vou tentar fazer que ele avance, mas sei das dificuldades", afirmou Fernando Henrique Cardoso, diante de um auditório lotado na Universidade Columbia, em Nova York.

Mesmo evitando mencionar qualquer pré-candidato, sua fala sobre a atual situação política do Brasil serviu de comentário sobre a corrida ao Planalto do ano que vem, momento que ele acredita será marcado menos por discussões sobre o avanço do conservadorismo e mais pela discussão sobre violência.

"O crime está causando muitos estragos no Brasil. E qualquer candidato que fale em crime menos como questão social e mais como um assunto real acaba abrindo um espaço mais à direita", disse nesta terça-feira (14), esclarecendo que se identifica com um "centrismo à esquerda" no espectro político.

"Precisamos de um líder capaz de organizar a situação e nos dar a sensação de que estamos juntos, alguém capaz de expressar emoções, não ideias", disse FHC. "O próximo líder que surgir terá de ser alguém que nos faça mover adiante, alguém capaz de confrontar realidades."

Entre os possíveis novos líderes, o ex-presidente comentou "muitos prefeitos muito bons de partidos diferentes" que estão na disputa, sem dar nome a ninguém.

Também comentou a ascensão da direita evangélica. "Considerando a desorganização de outras instituições, essas instituições estão organizadas, já elegeram pessoas e terão uma voz" na eleição.

Em resposta a uma pergunta de um estudante sobre o pré-candidato à Presidência pelo PSC, Jair Bolsonaro, FHC disse que a "mídia dá mais espaço para os que são bizarros", mas que "precisamos de alguém que não seja bizarro, que fale com as pessoas".

Isso lembra um dos pontos de abertura de sua fala, quando comparou o populismo do Brasil ao dos Estados Unidos.

"Nosso populismo olhava para a frente e o populismo atual olha para trás, a ideia de pôr a América em primeiro lugar", disse o tucano, contrastando a tradição ibérica de corporativismo na América Latina com o individualismo americano resumido pelo slogan de Donald Trump.

"Um líder populista pode aparecer de novo", afirmou, sobre as próximas eleições no Brasil. "Mas o único capaz de entusiasmar dessa forma as pessoas perdeu enorme credibilidade. Temos de rever nossas ideias sobre o que é possível, o que as pessoas querem", acrescentou FHC, fazendo uma alusão a Lula.

"Todos terão a capacidade de dizer algo sensível e transparecer verdade. Isso é bom e perigoso porque nunca saberemos quem será capaz de entusiasmar as massas."

Na saída do encontro em Nova York, quando questionado por jornalistas sobre como o PSDB pode lidar com a crise moral no país, o tucano respondeu que a reação seria parecida com a de outros partidos. "Há uns partidos piores que os outros, mas o meu está melhorzinho", disse.

No rastro da demissão do tucano Bruno Araújo do Ministério das Cidades, consolidando o desembarque do PSDB do governo Temer, o ex-presidente também fez uma crítica indireta à reforma ministerial agora em curso.

"Hoje o presidente está lá discutindo o que fazer com alguns setores do governo, mas não por motivos ideológicos", disse. "É um retrato de como a coisa funciona. É um sistema que implica algumas formas de corrupção."

O tucano veio a Manhattan depois de ser homenageado pelo Inter-American Dialogue, um think tank de Washington, e participaria de mais um debate na Universidade Brown, em Rhode Island, até o fim desta semana.

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