Regionais : Juruna mostrou como se faz
Enviado por alexandre em 28/05/2017 18:45:35

Juruna mostrou como se faz



Folha de S. Paulo - Bernardo Mello Franco

Em outubro de 1984, o dublê de cacique e deputado Mario Juruna convocou a imprensa para fazer uma denúncia contra si mesmo. Ele havia recebido propina do empresário Calim Eid para votar em Paulo Maluf no Colégio Eleitoral.

O xavante se disse arrependido e foi ao banco devolver 30 milhões de cruzeiros. A imagem do índio engravatado atrás de uma pilha de dinheiro resumiu o vale-tudo que embalou a sucessão do general Figueiredo.

Como Tancredo Neves venceu a disputa, ninguém quis investigar as suspeitas de suborno e caixa dois. Eid seguiu carreira como operador do malufismo. Juruna ficou desacreditado e não conseguiu se reeleger.

Mais de três décadas depois, o Brasil discute a possível escolha de outro presidente sem o voto popular. O senador Tasso Jereissati e o deputado Rodrigo Maia despontam como favoritos numa eleição indireta.

Políticos da situação e empresários não aceitam falar em diretas. A aliança que apoiava Michel Temer quer ungir um candidato comprometido com as reformas liberais. A ordem é mudar o presidente sem mudar a alma do governo em decomposição.

Em meio às conversas, articula-se um grande acordo para salvar investigados da Lava Jato. Entre as ideias mais cotadas, estão a anistia ao caixa dois e a concessão de algum tipo de imunidade a Temer, que poderia se estender a outros ex-presidentes.

Pelo roteiro das indiretas, o próximo inquilino do Planalto será escolhido por 513 deputados e 81 senadores. Boa parte deles é investigada sob suspeita de vender projetos de lei, MPs e outras mercadorias menos valiosas que a cadeira presidencial.

Nas últimas vezes que a turma elegeu os chefes da Câmara e do Senado, venceram Eduardo Cunha, Renan Calheiros, Rodrigo Maia e Eunício Oliveira. Todos delatados na Lava Jato.

Além de mostrar o que acontece numa eleição indireta, Juruna ensinou a usar o gravador em conversas com políticos. O cacique era atrapalhado, mas sabia das coisas.

Delação da JBS atinge seis ministros de Temer


Delação da JBS atinge ao menos seis ministros de Temer

Folha de S. Paulo - Felipe Bachtold

Em meio à maior crise do governo Michel Temer, ministros de sua gestão podem ser alvos de novos pedidos de inquéritos, desta vez decorrentes da delação da JBS.

Os depoimentos dos delatores, revelados neste mês, envolvem de forma significativa ao menos quatro ministros e trazem acusações como uso de caixa dois em campanha e recebimento de propina.

Apesar de a delação já ter sido tornada pública, a Procuradoria-Geral da República ainda analisa as informações do acordo de colaboração que envolvem autoridades com foro. Se encontrar indícios de irregularidades, o procurador-geral, Rodrigo Janot, deve pedir ao STF (Supremo Tribunal Federal) a abertura de inquéritos.

É uma situação diferente da ocorrida na delação da Odebrecht, na qual o conteúdo dos acordos só foi revelado quando o ministro do STF Edson Fachin autorizou a abertura dos inquéritos, em abril.

Entre ministros, as acusações mais incisivas da delação da JBS miraram Gilberto Kassab (PSD), da Ciência, Tecnologia e Comunicações.

Um dos donos da JBS, Wesley Batista disse que pagou mensalmente R$ 350 mil desde 2010 a uma empresa ligada a Kassab por contratos superfaturados de aluguel de caminhões. O valor totalizaria quase R$ 30 milhões.

Segundo Wesley, o grupo herdou esse contrato ao adquirir o frigorífico Bertin, em 2009, e decidiu manter os pagamentos porque considerou que o hoje ministro teria "influência em algum momento".

Outro delator, Ricardo Saud, disse que, na campanha de 2014, Kassab embolsou R$ 7 milhões pagos pela JBS dentro de um acordo entre PT e PSD, partido do qual o ministro é fundador.

Esse montante, disse, foi pago por meio de notas fiscais frias de uma empresa de um irmão de Kassab, Renato.

Maiores bancadas rejeitam diretas


Maiores Maiores bancadas rejeitam proposta de eleições diretas

Folha de S. Paulo -

Por Ranier Bragon e Talita Fernandes


A maioria do Congresso é contra mudar a Constituição para convocar eleições diretas caso o presidente Michel Temer deixe o poder. Nessa eventualidade, deputados e senadores querem manter a exclusividade de escolher quem comandará o país até dezembro de 2018.

A Folha ouviu líderes dos dez maiores partidos da Câmara e do Senado, que reúnem 72 senadores (89% do total) e 397 deputados (77%).

Com exceção da esquerda, que é minoritária, todos se declararam abertamente contra as Diretas-Já.

Os oposicionistas PT, PSB e PDT não representam nem 30% das dez maiores bancadas. Para alterar a Constituição, é necessário o apoio de pelo menos 60% dos parlamentares em cada Casa.

"Neste momento acho casuísmo. [...] Não podemos ficar brincando de mudar a Constituição a cada crise, em função de um determinado caso, de um determinado momento", disse o senador Tasso Jereissati (CE), presidente interino do PSDB, partido que já definiu posição unificada contra às Diretas neste ano.

"Diretas-Já só em 2018", reforça Romero Jucá (RR), líder do governo no Senado e presidente do PMDB.

PSDB e PMDB são os maiores partidos da base de sustentação do governo.

Desde a eclosão da crise que ameaça o cargo de Michel Temer, tomou corpo no Congresso e em setores da sociedade movimento para aprovar uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que determine eleições diretas.

Pelas regras atuais, a escolha do sucessor de Temer, caso ele venha a deixar o cargo, será feita pelos 594 parlamentares em eleição indireta a ser realizada 30 dias após a vacância do posto.

Com vários integrantes sob a mira da Lava Jato, o Congresso tem hoje rejeição popular recorde –de acordo com o Datafolha, 58% da população avalia como ruim ou péssimo o desempenho do Legislativo.

TRAMITAÇÃO

Há em discussão duas PECs que tratam das diretas já, ambas em estágio inicial de tramitação.

Na Câmara, a oposição não conseguiu sequer iniciar a discussão da proposta de autoria do deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), que está na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça). No Senado, também na CCJ, a PEC de autoria de Reguffe (sem partido-DF) também não foi votada, apenas lida.

Além de precisar do voto de 60% dos parlamentares em plenário, uma emenda tem tramitação demorada no Congresso –não menos do que três meses, isso sem grandes divergências.

Mesmo em um cenário de aprovação a jato (três meses), seria necessário um prazo extra para a organização da eleição direta. Ou seja, ela se daria em dezembro deste ano ou janeiro do próximo, na melhor das hipóteses –isso para cumprir um mandato que se encerra em dezembro de 2018.

LULA

"O país está em uma crise política e econômica. Você acha que o Brasil aguenta uma eleição para cumprir um mandato de pouco mais de um ano? Não tem sentido, não tem cabimento. Por mais que tenha que exercer a democracia, não tem como, tem que ser eleição indireta", diz o líder da bancada do PR, o deputado José Rocha (BA).

"Nem o Lula quer Diretas agora. Tem que seguir a Constituição", afirma Arthur Lira (AL), líder da bancada do PP na Câmara.

Nos bastidores, governistas tem chamado a proposta de "PEC do Lula". O raciocínio é o de que, fora uma onda a favor de alguém que se apresente "de fora da política", o petista larga na frente. Apesar de ser réu em cinco ações penais, Lula lidera a corrida com 30% das intenções de voto segundo a última pesquisa do Datafolha.

"Nossa posição é de respeitar o mandato do presidente Michel Temer. Se ocorrer eleições, contudo, temos que recorrer à Constituição, que fala em eleições indiretas. Não tem viabilidade para eleição direta porque seria muito oneroso e demorado", afirma o senador Agripino Maia (RN), presidente do DEM.

Apesar de todos os percalços, os partidos de esquerda dizem que vão insistir na aprovação da proposta e contam com mobilização nas ruas para mudar o cenário no Congresso.

"Não é hora para uma elite se encontrar e, nos porões, resolver a solução para o Brasil. Queremos um presidente legítimo, eleito pelo povo brasileiro", disse o presidente do PDT, Carlos Lupi, em vídeo distribuído à sua militância.

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