Brasil : PORTO VELHO
Enviado por alexandre em 23/08/2016 17:41:24


Seca do Madeira traz prejuízos a empresários do ramo de embarcações

Rondônia Dinâmica percorreu a zona portuária de Porto Velho buscando a versão dos empreendedores em relação à diminuição dos níveis do Rio Madeira. Um deles foi enfático ao responsabilizar a operação das usinas


As margens secas do Rio Madeira / Foto: Gregory Rodriguez (Rondônia Dinâmica)

Texto.: Rondônia Dinâmica
Informações e fotos por.: Gregory Rodriguez, repórter itinerante

Porto Velho, RO – A Capital de Rondônia, apesar de relegada ao esquecimento pelo poder público, com todo seu patrimônio histórico-cultural negligenciado pelas mais diversas autoridades, ainda tem na natureza o maior presente que poderia ser concedido à sua população tão carente de atrativos: o Rio Madeira, com suas funções primordiais e a beleza rústica imponente.

Mas o Madeira, com ou sem influencias externas, costuma apresentar comportamento violento, desencadeando consequências devastadoras, a exemplo da cheia de 2014 que inundou Porto Velho e outras regiões deixando inúmeras pessoas sem moradia.


A solitária travessia em águas rasas / Foto: Gregory Rodriguez (Rondônia Dinâmica)

Agora, o problema é o inverso: a seca. E esse desequilíbrio afeta igualmente a sociedade. Turisticamente, com o aumento do tempo na travessia entre capitais, como da cidade das Três Caixas D’Água à Manaus; na recreação, com os perigos impostos à navegação com a baixíssima quantidade de água e até no escoamento e chegada de produtos pela via fluvial.

Tudo isso pesa no cotidiano do rondoniense.


Pescadores avaliam seu itinerário / Foto: Gregory Rodriguez (Rondônia Dinâmica)

Uma classe específica, a de empresários do ramo de embarcações, tem sido afetada no âmago da subsistência. Andrews Souza, proprietário de um barco de passeios turísticos e recreativos, que acumula a função de frete, informou ao Rondônia Dinâmica que seu sustento está prejudicado.

Souza foi enfático ao atribuir responsabilidade à operação das usinas instaladas no Rio Madeira, uma vez que, de acordo com ele, na mesma época em anos anteriores o nível estaria bem maior, propiciando a navegação adequada longe de prejuízos.


Andrews Souza culpa operação das usinas pela seca / Foto: Gregory Rodriguez (Rondônia Dinâmica)

“O período vazante do Rio Madeira começou mais cedo. Esse impacto veio por conta das barragens das usinas. Para a gente [a seca] é prejudicial. Os canais ficam restritos e aí as pessoas jogam na mídia que aqui [rio] é perigoso, principalmente para viajar à noite, que a visibilidade fica mais difícil”, disse.

Em seguida, o empresário enfatizou que, para quem trabalha no setor, há prejuízos incontáveis porque as pessoas ficam com medo de fretar o barco em decorrência dos riscos e perigos destacados na imprensa. Na visão do empreendedor, é impossível trabalhar nessa situação. Ele garantiu que nesta época do ano o Rio Madeira deveria estar mais cheio.

“Através do impacto das usinas a seca foi bem maior este ano”, acusou.


Embarcação turística e recreativa está parada / Foto: Gregory Rodriguez (Rondônia Dinâmica)

Redução de 50% na procura dos serviços; barco está encostado

Andrews Souza revelou que a diminuição na procura pelos seus serviços chega a 50%, comparando com os mesmos períodos nos últimos anos.

“Reduziu pela metade a procura pelos serviços. Nesta época a gente era bem mais procurado. O barco está parado praticamente há quase um mês. A seca influencia a [falta de] procura. Estou sendo bem prejudicado”, asseverou.

Já sobre os perigos na navegação, apontou:

“Na realidade, não estou mentindo. Está perigoso sim. A gente viaja quando aparece um frete. A gente viaja à noite, mas fica com medo. A gente vai devagar. A gente vai com atenção. Toda semana um colega fica encalhado. Semana passada mesmo me pediram ajuda para desencalhar um barco. Não tive como ajudar, infelizmente. São três pontos críticos nesta época: aqui no Tamanduá, próximo à região do Belmont, Curicatas e Papagaio, tudo dentro de Rondônia”, finalizou.


A culpa é do garimpo, diz dono de barco pesqueiro

Braz Queiroz, dono da embarcação ‘Rei da Vitória’, cargueiro que transporta peixe até Manaus, disse que o tempo de navegação passou de 84 para 120 horas. Ou seja, a travessia que levava em média três dias e meio agora chega a perdurar cinco dias completos.

Diferentemente de Andrews Souza, Queiroz responsabiliza a prática do garimpo indiscriminado no Rio Madeira, indicando erosão à margem do leito.




“O consumidor reclama bastante como se a responsabilidade fosse nossa. Estamos demorando a entregar a carga e corremos o risco de perder nossos contratos”, reclamou o proprietário do pesqueiro que tem o Carrefour como maior expoente entre os clientes no Amazonas.

Apontando para o barranco, Queiroz salientou:

“A terra cobre o barranco. Para onde vai essa terra? Pô..., será que essa gente não sabe fazer outra coisa [a não ser garimpar]? Meu transporte reduziu em quase 20%. O barco tem capacidade para carregar de quarenta e cinco a cinquenta toneladas por viagem, mas precisei diminuir a carga para trinta. Caso contrário a embarcação pesa muito e acaba encalhando. O comprador está nos esperando e o consumo lá é rápido. Chegamos na terça ao destino da entrega, quinta-feira já não há mais peixe”, alegou.


A visão panorâmica de um rio ressacado / Foto: Gregory Rodriguez (Rondônia Dinâmica)

Abaixo, a Sociedade de Portos e Hidrovias de Rondônia (SOPH), que pertence ao Governo do Estado, apresenta a versão administrativa para a questão respondendo às dúvidas mais corriqueiras acerca do tema.


1) O Rio Madeira apresenta este ano um dos menores níveis de água, com o aparecimento de bancos de areia, que prejudicam a navegação. Qual foi o menor nível registrado em 2016? E o menor desde o início do cômputo?

R: Os índices dos níveis do rio Madeira que são registrados diariamente pela SOPH há muitos anos. Em 2016 o menor índice registrado até o momento ocorreu no dia 16 de agosto com 2,24m. Hoje a medida é de 2,93m. Houve um repiquete. O menor registro da série ocorreu em 2005 com 1,63m (10/09/2005).

2) O baixo nível da água reduziu o tempo de viagem e o volume de cargas entre Porto Velho e Manaus e o porto de Itacoatiara?

R: Sim. Em condições navegáveis o trecho Porto Velho-Manaus é feito em três dias. O caminho inverso é de cinco dias. Na época da vazante o trecho Porto Velho- Manaus passa para cinco dias, enquanto que o inverso pode levar até sete dias.

O que acontece é que as empresas, sabendo das condições da região, já fazem o planejamento para escoamento de grãos e esse período coincide com o período da entressafra. Esse planejamento consiste em reduzir a quantidade de carga levada em cada viagem. Por exemplo, uma balsa tem condições de levar até 2 mil toneladas de grãos, na época da seca, essa capacidade é reduzida pela metade e cada balsa leva mil toneladas. As balsas menores, com capacidade para transportar 800 toneladas, são reduzidas pela metade e transportam apenas 400 toneladas.

Um rebocador leva de 16 a 20 balsas em comboio. Atualmente, esses barcos já dispõem de equipamentos com altíssima tecnologia (sonar e carta batimétrica on-line) e os navegadores conseguem identificar banco de areia ou pedral com antecedência, evitando acidentes. Para transpor a limitação natural de um banco de areia, por exemplo, eles desfazem o comboio antes, passam com uma balsa de cada vez e remontam o comboio posteriormente, permitindo prosseguir com a viagem.

É válido ressaltar que neste período de baixa do rio, a Capitania dos Portos é quem tem jurisdição para definir a permissibilidade da navegação, pois o rio Madeira é federal. Neste momento, está proibida a navegação noturna. Cabe à Marinha também a fiscalização.

3) Quais são os principais produtos (e respectivas quantidades) transportados pela hidrovia do Madeira? Houve redução na quantidade de carga transportadas? Em que percentual?

R: Principais produtos que são enviados: Soja e Milho, recentemente o Porto Público retomou a movimentação de madeira em container. Principal produto recebido: fertilizante.

Mas também saem/chegam as cargas denominadas cargas gerais: açúcar, café, óleo, arroz e etc.

A redução que acontece na movimentação portuária nesta época do ano já é esperada/planejada.

4) A cheia de 2014 provocou uma movimentação grande de sedimentos no rio Madeira. Este fenômeno afetou a navegabilidade do rio? A atuação de centenas de garimpeiros que atuam ilegalmente ao longo do rio também afefa a navegação?

R: O regime portuário de Porto Velho é composto por 16 portos, sendo um o porto público e outro o IP4 que é aquele do Cai n’água, sob a responsabilidade da prefeitura. Os demais são TUP’s – Terminais de Uso Privado. Na época da cheia de 2014, todos ficaram submersos, exceto o Porto Público que teve condições de atender toda a demanda, evitando assim o desabastecimento. A navegabilidade não é influenciada pela cheia, na verdade, facilita, evitando qualquer tipo de acidente com bancos de areia.

Contudo, neste período acontece a descida dos troncos, que podem causar acidentes. Um grupo de trabalho foi montado para encontrar uma solução para o problema. Compõem esse grupo: SOPH, Antaq, Sedam, Fenavega, Ibama e a Frente Parlamentar de Defesa dos Portos e hidrovias.

A atuação dos garimpeiros traz risco à navegação, pois além de assorear o rio Madeira e contaminar o leito com mercúrio, elas ficam estacionadas no meio do rio até mesmo no período noturno, ou passam muito perto de balsas que transportam derivados de petróleo.

5) Proprietários de transportadoras reclamam da demora nos trabalhos de dragagem no rio Madeira, uma dificuldade que já se tornou corriqueira nos últimos anos. A falta da dragagem prejudica a navegação? Quando foi feita a última dragagem? Quando será feita a próxima?

R: Em 2013 foi feita uma licitação para dragagem do rio, contudo, a empresa vencedora da licitação iniciou a operação em Setembro, quando o rio já tem calado suficiente para navegabilidade, além de retirar o sedimento do fundo do rio num local e despejar dentro do próprio leito em um local mais abaixo. Denúncias foram feitas naquela época e o processo foi suspenso. Em 2016 foi realizada nova licitação e a empresa está na fase de certificação da documentação. Este contrato é de cinco anos. A dragagem do rio é competência do Dnit. E a expectativa é que em 2017 a empresa já possa atuar e evitar tais transtornos com a seca do rio.

6) Serviços de meteorologia indicam que a estiagem ainda vai prevalecer pelos próximos dois meses. Uma redução maior do nível do rio poderá comprometer a navegação e o transporte de cargas no Madeira? A Soph tem registros de situações semelhantes a que está ocorrendo neste ano em anos anteriores? Existe o perigo de desabastecimento de produtos tanto para Porto Velho como para Manaus?

R: Sim, há registros. Com relação ao comprometimento da navegação e o desabastecimento de produtos pode acontecer se o rio ficar abaixo de 1,90m, uma vez que até 2,0m é possível navegar com cautela. O calado ideal é de pelo menos 4,50m.

Para evitar acidentes e encalhes nos bancos de areia, as empresas reduzem a capacidade das balsas, como informado anteriormente.

O desabastecimento pode ocorrer em Porto Velho com a falta do combustível que vem de Manaus, elevando o preço do produto, pois o frete também sobe. E Manaus poderia ficar sem abastecimento de frios, hortifrúti e carnes que são levados daqui para lá.


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