Regionais : Concursados da Prefeitura também recebem Bolsa
Enviado por alexandre em 26/11/2014 10:30:00

Santuários eleitorais do Bolsa Família - Estação VIII

NOVA REDENÇÃO (BA) – Maior votação proporcional da presidente Dilma na Bahia e oitava no País, a pequena Nova Redenção, a 435 km de Salvador, já na Chapada Diamantina, sofre de uma anomalia na gestão do Bolsa Família. De tão pobre, a quarta cidadela mais miserável do País perdeu a sua única casa lotérica, onde as 1.471 famílias sacavam os seus benefícios mês a mês.

Com isso, restou para os beneficiários, um terço da população, a alternativa de viajar 136 km até Itaberaba, para não ficar sem receber a ajuda da União, pagando R$ 34,00 correspondente aos custos de transportes. Para uma família que embolsa apenas R$ 72,00, vai embora na prática quase metade do benefício.

Isso abriu a janela para uma grave ilegalidade: moto boys passaram a “representar” um conjunto de famílias em agências bancárias não apenas de Itaberaba, mas de outras cidades próximas a Nova Redenção, como Andaraí, Itaitê e Saúde. Eliton Silva de Oliveira, o “Kinha”, um dos contemplados com um cartão de R$ 190, cobra entre R$ 6 e R$ 10 de cada bolsista para efetuar o saque em nome deles, de quem recebe as referidas senhas.


O motoqueiro Kinha virou agente representante dos bolsistas de Nova Redenção depois que o município perdeu sua casa lotérica.

Como são muitos que recorrem a esta prática, “Kinha” faz a cola da senha do usuário no próprio cartão. Procurado pela reportagem, o “agente” dos portadores de cartão do Bolsa Família em Nova Redenção confirmou que já vem atuando no ramo há mais de dois anos, desde que a casa lotérica fechou.

“Eu atendo muita gente, praticamente o mês inteiro, pois o benefício sai do dia 8 até o dia 30”, disse, adiantando que embolsa por mês em torno de R$ 1,5 mil, entre o que arrecada como motoqueiro e o serviço extra de “agente”, além dos R$ 190 como bolsista. Mas Kinha não está sozinho no ramo.

“A concorrência já foi aberta”, diz, referindo-se a Lôla, igualmente motoqueiro, que está agenciando o saque dos bolsistas. No momento em que a reportagem encontrou Kinha ele estava de posse da cópia de identidade e do cartão de um beneficiário. “Agora mesmo, peguei este cartão”, apontou, exibindo também a xerox da identidade.

Para ele, se há ilegalidade neste novo meio de sobrevivência em Nova Redenção a culpa é do Governo. “Enquanto não reabrirem a lotérica, ninguém vai gastar com passagem metade do que ganha para sacar a ajuda”, afirmou.

Dona Francisca Silva diz que recorre aos serviços de “Kinha” para economizar. “Se eu fosse até Itaberaba teria que gastar R$ 34 ao todo, R$ 17 de ida mais R$ 17 de volta. Recorrendo ao nosso representante, que é da nossa confiança e por isso dou a senha a ele, só gasto R$ 10”, afirmou.


Tácio Rodrigues, gestor do Bolsa Família, admite que existem 15 concursados recebendo a bolsa e diz que o Governo já foi informado dos problemas provocados pelo fechamento da lotérica.

Gestor municipal do Bolsa Família, Tácio Rodrigues disse que a prática configura crime e que Prefeitura já comunicou ao Ministério do Desenvolvimento Social o que vem ocorrendo em Nova Redenção, mas nenhuma providência até agora foi tomada. “Aqui, também tem outra prática ilegal, que é o recolhimento do cartão com a exigência da senha por parte dos comerciantes locais”, assinalou.

As 1.471 famílias beneficiárias do Bolsa Família em Nova redenção foram responsáveis pelo repasse de R$ 330.074.00 no mês passado, valor que se aproxima do FPM – o Fundo de Participação dos Municípios. Neste mesmo mês, o município recebeu pouco mais de R$ 400 mil, quantia que não dá sequer para cobrir as despesas com pessoal da ativa e os aposentados. A média transferida pelo Bolsa Família por beneficiário chega a R$ 224,39, dinheiro que praticamente alimenta o pequeno comércio da cidade.

Foi esta força do programa que fez a presidente Dilma ganhar a eleição na Bahia em 416 dos 417 municípios e que levou a prefeita de Nova Redenção, em agradecimento numa fala em um ato na campanha do segundo turno, a pronunciar esta fase antológica: “Obrigada, Dilma, pelo Bolsa Família, pelo mais Médicos e pelos programas sociais”.

O programa Mais Médicos, um dos cartões de apresentação do Governo, foi recebido com festa em Nova Redenção. Sem médicos e dependendo de assistência em Andaraí, que fica a 70 km, e em Itaberaba, mais distante ainda, a 136 km, sendo os casos mais graves removidos para Feira de Santana, que já fica a mais de 300 km, a cidade ganhou três médicos cubanos, que cativaram a população com simpatia e no modo de tratar os pacientes.

Fotos: Magno Martins e Otávio Souto

Edição: Ítala Alves


Concursados da Prefeitura também recebem Bolsa

Com uma população de apenas 8.034 habitantes, Nova Redenção aparece no Índice Firjan do Desenvolvimento Municipal como a quarta mais miserável do Brasil, abaixo apenas de Várzea do Poço, Cansanção e Oliveira dos Brejinhos. Mais de 90% dos que resistem em suas plagas estão debaixo do guarda-chuva dos programas sociais.

Além do Bolsa Família, que chega a 1.471 residentes na área urbana e principalmente na zona rural e assentamentos, mais de mil famílias recebem o Bolsa Estiagem e o Bolsa Verde, estes criados pelo Governo do Estado. O programa Garantia Safra, saída do Governo para cobrir os prejuízos com a seca, irriga a conta de mais dois mil agricultores, pagando seis parcelas de R$ 170.


Conselheiro tutelar Nailson Portela tem bolsa família em nome da esposa.

A gestão do Bolsa Família está recheada de irregularidades. Segundo dados do CRAS, órgão que administra o programa, 15 servidores concursados continuam sendo contemplados, entre os quais Nailson Portela, conselheiro tutelar, cujo benefício está no nome da esposa Maria Celia Silva. Existem outras situações inusitadas: Ronilda Rodrigues, 55 anos, tem um cartão de R$ 92 em nome da filha, que foi embora para São Paulo, mas fez “a transferência para o seu nome”, segundo ela.


O vigilante Jose Aurino, contratado pela Prefeitura, bate ponto no posto médico e também tem cartão da bolsa.

O vigilante José Aurino dos Santos, 46 anos, trabalha no posto de saúde do município. Como prestador de serviço, segundo ele, percebe R$ 400, mas não deixa de receber todo mês uma ajuda de R$ 310 do programa de transferência de renda da União. “Esse dinheiro da bolsa dá apenas para cobrir as despesas de material escolar para os filhos que estão na escola”, diz ele, confirmando que o cartão está no seu nome.


O mecânico Pedro Teixeira diz que Dilma, ainda na parede da sua casa, teve 40 votos na sua família, beneficiaria dos programas sociais.

Já o mecânico Pedro Teixeira Lima, que tem uma oficina de carro na periferia da cidade, vibra com o poder eleitoral da Bolsa Família. Afirma que só dentro da sua família foi capaz de influenciar 40 votos para Dilma, em forma de agradecimento pelo que ela faz aos mais necessitados. “Todos estão no Bolsa Família. “Você acha que o Governo vai um dia acabar com essa bolsa? Nunca, jamais”, afirmou.


Enfermeira Tamara Epitácio diz que quem não tem bolsa família ou emprego na Prefeitura morre de fome em Nova Redenção.

A enfermeira Tâmara Epitácio, chefe de um posto de saúde na localidade, tem a receita na ponta da língua. “Em Nova Redenção, quem não recebe Bolsa Família ou não tem emprego na Prefeitura morre de fome”. Para ela, também eleitora de Dilma, foram os programas sociais que deram a vitória da presidente no município.


Fernando, vendedor do Rio Grande do Norte, clientela assegurada pelo Bolsa Família.

Representante de uma empresa de confecções e doces do Rio Grande do Norte, o vendedor Fernando Barbosa, que mora em Paus Ferros (RN), visita Nova Redenção três vezes ao ano e confessa que 90% da sua freguesia vem do cartão Bolsa Família. “A bolsa é a nossa salvação”, diz ele, para acrescentar: “Aqui, eu pego cliente do bolsa que recebe até R$ 400”.


Donos do único restaurante da cidade, Sandra tem bolsa família e Osório Seguro Safra.

Fernando foi localizado no restaurante do casal Osório e Sandra, o “Ponto Oliveira”, clientes dele. Sandra, apesar de comerciante, recebe R$ 80 do Bolsa Família e Osório está embolsando a última parcela de R$ 170 do Segura Safra. “Aqui, ninguém consegue viver sem os programas sociais do governo”, avalia o comerciante.

Fotos: Magno Martins e Otávio Souto

Edição: Ítala Alves


Representante de oligarquia, mulher governa município

Prefeita de Nova Redenção, Anna Guadalupe (PSD), acompanhada do marido durante um evento na cidade.

Cidade de ruelas sem calçamento, sem saneamento e apenas um posto de saúde, Nova Redenção é administrado pela social democrata Anna Guadalupe Pinheiro Luquini Azevedo (PSD) e tem como vice o comunista Jean Carlos Machado da Silva, conhecido por Jean do Sindicato. Ela representa um grupo que está no poder há 18 anos, tendo substituído o marido Luciano Cesar, agora seu secretário de Finanças.

Com o apoio da prefeita e do PT, a quem derrotou na eleição passada, Dilma teve 3.570 votos, 90.61% dos votos válidos. Aécio Neves, com apenas 9,39% da votação, teve o aval de apenas 370 eleitores. Na prática de cada 10 dos 3.940 eleitores que foram às urnas no segundo turno presidencial, nove votaram em Dilma. “Aécio aqui só teve o apoio de quatro suplentes de vereador”, diz o presidente da Câmara de Vereadores, Arnold Pires (PSD).


Vista do centro da pequena Nova Redenção.

Após o primeiro turno, quando Dilma obteve no município 87,69% dos votos, Marina Silva, segunda colocada, 6,45%, e Aécio apenas 4,9%, a prefeita, que não foi achada ontem na cidade, porque se encontrava em Feira de Santana, foi convidada para falar em nome dos prefeitos baianos em evento com a presença da presidente Dilma.

Na ocasião, a prefeita disse que a votação expressiva de Dilma era o reconhecimento dos munícipes de Nova Redenção por tudo que a presidente tem feito pelos municípios pequenos a exemplo do que administra.

Em 2012, Guadalupe foi eleita com 2.626 votos (53,17%), derrotando o petista Ademar Martins de Oliveira Filho, que recebeu a preferência de 2.313 votos eleitores, correspondente a 46,83% do eleitorado que compareceram às urnas naquela eleição.

Fotos: Magno Martins e Otávio Souto

Edição: Ítala Alves


Poço azul, sem estrutura, espetáculo de rara beleza

O poço azul é o principal atrativo turístico da cidade.

O maior contraste em Nova Redenção está entre sua pobre população e o seu rico potencial turístico. Localizada na região da Chapada Diamantina, uma das mais belas paisagens naturais do mundo, a cidade é destaque pelo contato direto do homem com a natureza. Várias cachoeiras e córregos fazem parte do cenário do vilarejo.

O Poço Azul é um dos principais atrativos turísticos da Chapada Diamantina e o principal ponto turístico de Nova Redenção, mas seu acesso é muito precário, ao seu redor não existe infraestrutura para receber turistas e o município nunca apresentou um projeto para explorar o seu potencial. Em terras do município há ainda o Morro das Araras, o Olho D’Água da Urânia, a Praia da Peruca e as cavernas inexploradas.

Tudo começo por um garimpeiro, que descobriu o Poço Azul em 1920, quando procurava diamantes na região das lavras diamantinas, na Chapada Diamantina. Até 1991, a cidade pertencia a Andaraí, quando ganhou a emancipação e passou a ser um município.

O Poço começou a receber a visitação de turistas a partir de 1994, transformando-se num dos mais conhecidos atrativos da Chapada. A flutuação moderada é permitida nas águas cristalinas e azuis do Poço Azul. Pode ser feita também na parte interna da caverna, onde corre o rio subterrâneo do Poço Azul que desemboca no rio Paraguaçu.

Estudos paleontológicos foram feitos no Poço Azul, a partir de 2005, onde foram encontradas mais de 3.000 unidades de fósseis de animais pré-históricos, transformando o Poço Azul no maior sítio paleontológico submerso do Brasil.

O melhor momento de entrar no Poço Azul é entre 13h e 15h, quando os raios solares irradiam águas azuis, formando um espetáculo de rara beleza. É na Chapada Diamantina onde o ecoturismo mais se destaca.

A geografia da região, a abundância de rios, cachoeiras, corredeiras, serras, grutas e o clima místico que a cerca contribuem para torná-la uma das áreas mais apropriadas do país para a atividade.

Para conhecer os encantos da Chapada Diamantina é indispensável percorrer as trilhas, por onde se pode desfrutar de autênticos paraísos ecológicos, ricos em flora e fauna. O cenário montanhoso da região abriga uma extraordinária variedade de ecossistemas onde bromélias e orquídeas escondem-se à sombra de aroeiras e umburanas, enquanto as sempre-vivas florescem nos campos dos gerais, em ambiente privilegiado, adaptando-se às diferenças de clima, altitude e solo.

Nas áreas elevadas, de clima semiúmido, predomina o cerrado, mais conhecido como “gerais” e nas encostas e superfícies arrasadas, áreas mais baixas e de clima mais árido, a caatinga. Com mais de 50 tipos de orquídeas, bromélias e trepadeiras que, de abril a agosto, embelezam os cenários, enquanto os ipês florescem em setembro e as quaresmeiras no período da Semana Santa, a Chapada Diamantina fica florida durante o ano inteiro.

A região possui também muitas plantas usadas para fins medicinais. Da fauna, as aves são os animais que mais chamam atenção na Chapada Diamantina, pois, além de serem bastante coloridas e emitirem sons chamativos, estão, em sua maioria, ativas durante o dia e muitas delas são fáceis de serem visualizadas.

Foram registradas mais de 150 espécies de aves. Muitas destas ocorrem em várias outras regiões do Brasil, como as garças, anuns, bem-te-vis, beija-flores, papa-capins, enquanto outras espécies são típicas do Nordeste, como o cardeal e o bico-virado-da-caatinga.

A maria-preta e o bico-de-veludo são duas aves bastante comuns nos campos rupestres. Mas, os beija-flores chamam mais a atenção: o beija-flor-gravatinha-vermelha, que é endêmico da Chapada Diamantina e tem sido observado apenas em áreas com altitude superior a 1000 m; o beija-flor-vermelho, o beija-flor-de-rabo-branco, e outros. Outra presença marcante nos cerrados é a pernalta seriema. O carcará e o chima-chima são aves rapineiras fáceis de serem vistas.

Fotos: Magno Martins e Otávio Souto

Edição: Ítala Alves

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