Jesus : O pentecostalismo é uma heresia? Dons de línguas e curas não procedem de Deus?
Enviado por alexandre em 13/11/2013 00:56:55

Saliento que não tenho nada contra meus irmãos tradicionais, até porque boa parte deles são muito mais crentes e conscientes que muitos pentecostais e renovados. Mas como pentecostal convicto o que exponho nesta argumentação é minha posição (e creio que a de todo pentecostal) contra colocações sérias e inescrupulosas que alguns fazem sobre nossa fé e doutrinas.

Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus (Mt 22:29).

O motivo para a controvérsia da vez foi o recente debate teológico sobre as colocações do influente pastor John MacArthur Juniorque classificou também o movimento pentecostal de “heresia”.  Ele afirmou que as igrejas pentecostais e neopentecostais não são cristãs e classificou seus ensinamentos como desvios bíblicos. John ainda rejeitou a atualidade da manifestação dos dons de línguas e de cura como algo vindo de Deus. A questão mais polêmica é quando MacArthur considera que existe uma “adoração inaceitável a Deus” entre o movimento pentecostal e de renovação. Para ele esses movimentos abriram a porta para um erro teológico maior que qualquer outra aberração doutrinária nos dias de hoje.

E curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: É chegado a vós o reino de Deus (Lc 10:9).

Do lado pentecostal, quem se pronunciou em resposta as declarações de MacArthur foi o presidente da Associação Mundial da Assembleia de Deus, pastor George O. Wood. O líder assembleiano publicou uma carta aberta após a conferência “Fogo Estranho” (organizada pelo ministério do pastor MacArthur) dizendo entre outras coisas: “Reconheço que desde o século passado surgiram aberrações isoladas no comportamento e na doutrina dos que se identificam como pentecostais ou renovados. Mas o movimento como um todo provou ser uma força vital na evangelização mundial, o cumprimento da promessa que Jesus fez aos seus discípulos em Atos 1:8. Em nome dos 66 milhões de adeptos e mais de 360 mil igrejas da Assembleia de Deus em todo o mundo, agradeço a Deus que a fé e a vida da igreja de Atos 2 ainda estão sendo seguidas e vividas até hoje”.

E há de ser que, depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões. E também sobre os servos e sobre as servas naqueles dias derramarei o meu Espírito (Jl 2:28-29). Veja o cumprimento parcial desta profecia em Atos 2:4-39, tendo como evidência inicial o falar em línguas de vários povos presentes na festa de Pentecostes.

Discussões a parte, os pentecostais representam 70% de todos os protestantes do planeta (588 milhões). Mesmo sendo um movimento melhor desenvolvido e acompanhado a partir do início do século XX, o pentecostalismo foi o segmento protestante que mais cresceu na história da igreja desde a reforma. No Brasil a quantidade de membros de igrejas pentecostais também vem crescendo, o Censo 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) notou este aumento em todas as regiões do Brasil e mostrou que a Assembleia de Deus é a igreja que mais cresce no Brasil. Dos mais de 22,2% de evangélicos brasileiros, 13,3% são de igrejas pentecostais o que significa que temos mais de 25 milhões de membros de igrejas como as Assembleias de Deus, Deus é Amor, Brasil para Cristo, Congregação Cristã no Brasil, Igreja do Evangelho Quadrangular, Igreja de Nova Vida e outras.

E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas (Mc 16:17)

Dizer que o pentecostalismo é uma grande heresia ou que a representa é opor-se a vários argumentos bíblicos nos quais se baseia o movimento. Constrangê-lo ao tratamento de maior aberração doutrinária da atualidade é ser indelicado e bem menos prudente que Gamaliel (At 5:34-40). Formular que alguns dons do Espírito Santo (cura, revelação, maravilhas, dom de línguas, profecia) foram úteis apenas para os primórdios da igreja cristã é ser cessacionista ao extremo por meio de argumentos e atropelos inconsistentes (1 Ts 5:19; At 11:17). Tentar desestabilizar a ortodoxia bíblica do pentecostalismo por mensurá-lo através de porciúnculas grupais ou de ações pontuais ignorando a história, dimensão e equilíbrio maior da categoria é no mínimo uma incoerência ou expressão mal intencionada (o que parece ser o caso de MacArthur, que já anunciou o lançamento de um livro de sua autoria intitulado: Fogo Estranho, o perigo de se ofender o Espírito Santo com louvor falso).

Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar (At 2:39).

O pentecostalismo argumenta com as Escrituras através dos relatos bíblicos da experiência do batismo e da doutrina dos charismas (dons) do Espírito Santo presentes no início da igreja e continuados em sua história militante. Deste modo o movimento tem fundamentação bíblica, teológica e histórica.

Bíblica por que a experiência do batismo no Espírito Santo com a evidência inicial do falar em outras línguas, os dons espirituais e a cura divina estão registrados no N.T e na experiência da igreja primitiva (At 2:4, 8; 19:1-7; 1 Co 14:4, 26); A corrente que diz que as línguas e dons espirituais cessaram, têm dificuldades de provar biblicamente o encerramento (o cessar) dessas atividades, recorrem a argumentações extra-bíblicas.

Teológica porque a sistematização da própria doutrina da pessoa do Espírito (Pneumatologia) e de sua ação apurada nas Escrituras evidencia-O agindo de forma influente sobre os que creem no Evangelho, dotando-os de poder e dons sobrenaturais a fim de testemunharem do Cristo Salvador (Mc 16:17, 20; At 4:30; 6:8; Rm 15:19; 2 Co 12:12).

Histórica porque ao longo do desenvolvimento da igreja cristã e do próprio cristianismo, são vários os relatos de experiências sobrenaturais entre os crentes. Anderson Allan, historiador pentecostal interpreta como predecessores do pentecostalismo na era cristã: Inácio de Antioquia 67-110; Policarpo de Esmirna 70-160; Justino Mártir 110-165; Irineu de Lião 130-202; Tertuliano 160-220; Pacômio 292-348; Agostinho de Hipona 354-430; Simão o Novo Teólogo 949–1022; Jansenitas 1640-1801; Serafin de Sarov 1759-1833; George Whitefield 1714-1770; Jonathan Edwards 1703-1758; Charles Finney 1792-1875; Dwight L. Moody 1875. Embora não haja registros ou indícios de derramamento do Espírito Santo durante a Idade Média, alguns autores mencionam que o valdenses, albigenses, e os frades mendicantes, falaram em línguas na Europa Meridional.

Que fareis pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação (1 Co 14:26).

Desde os tempos apostólicos houveram exageros, meninices e incompreensões dos crentes quanto ao sentido da glossolalia – dom de falar línguas estrangeiras sem nunca as ter estudado – e do propósito dos dons de poder (At 8:13-24; 1 Co 14:23-26; 1 Co 12:9,28), mas nem por isso podemos generalizar na afirmação de que os dons eram operações da carne ou que não provinham do Espírito.  Faltou equilíbrio e distinção nas colocações de John MacArthur Jr!

Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra (At 1:8).

Concluindo, preciso fazer uma advertência dirigida aos pentecostais e neopentecostais. O pentecostalismo em suas crenças e manifestações foi de antemão mencionado por Jesus (Ele é onisciente) e também estava presente no pronunciamento escatológico de nosso Senhor (Mt 7:18-23). Posso dizer que os pré-pentecostais e os atuais pentecostais receberam uma chamada de atenção direta do Mestre, alertando aos mesmos a não se enganarem com o comportamento exclusivista de que a operação dos dons e das maravilhas são provas definitivas ou passaportes da salvação eterna. Por isso, todos aqueles que dentro do movimento não produzem frutos dignos da autêntica vida cristã e que fizeram ou fazem da graça negócio e dos dons comércio, que envergonham e comprometem os verdadeiros cristãos (2 Pe 2:2), que são indiferentes aos necessitados (órfãos, viúvas, presidiários e etc.), enganando-se de que porque receberam dons, Deus aprova o que fazem, serão lançados no lago de fogo e enxofre.

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Silvio se define como crente pela compaixão de Jesus, estudante de teologia por paixão e administrador de empresas por profissão. Mora na belíssima cidade de Guarapari no ES; estudou teologia no Seminário SEET e na Faculdade FAIFA. Textos de sua autoria frequentemente são publicados em portais cristãos do país por focarem questões do cotidiano da igreja evangélica brasileira. Ele ainda mantém o blog Cristão Capixaba, iniciou o portal Litoral Gospel e está engajado numa campanha para conscientização cristã para as eleições de 2014 conheça e participe!

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