Política : Fé e pudor
Enviado por alexandre em 17/10/2010 13:50:20



Religião sem pudor



Não sou adepto de nenhuma igreja – exerço minha credulidade sem precisar de intermediários -, mas se um cristão convencional eu fosse, estaria morto de vergonha.

É impressionante a banalização da fé praticada nessa campanha eleitoral.

Temerosos da possibilidade de serem demonizados por padres e pastores, os candidatos, quanto mais próximo o pleito, mais revelam seu “ardor religioso” e seu compromisso com os ensinamentos bíblicos. Nada mais ridículo. Nada mais cínico. Vá lá, no entanto, que aceitemos o despudor inerente à classe política e que este se tenha apenas tornado mais descarado numa campanha acirrada.

O que, no fundo, impressiona mesmo é a atitude satisfeita, refestelada, das diversas denominações em que se reparte o cristianismo. Não vi nem ouvi até agora uma única e mísera manifestação de um padre ou pastor denunciando o escândalo. Sim, é um escândalo o discurso oportunista desses convertidos por conveniência!

Já perguntei aqui e repito: alguém com, pelo menos, o segundo grau completo, acredita mesmo que Dilma Rousseff e José Serra são contra a legalização do aborto?

Será que lá no ambiente criterioso da academia, na convivência discreta com os seus semelhantes, estes dois intelectuais sustentam esse discurso? No final das contas, o que parece, meus amigos, é que convém que o povo seja enganado, desde que o processo de enganação atenda tanto o interesse dos políticos quanto dos religiosos.

Ou seja, não importa quem vença a eleição, mas que fique bem claro o poder de influência das igrejas e a submissão dos políticos a elas. Pelo menos até o encerramento das urnas.

O fato é que para os candidatos, tanto a questão do aborto como a do aumento do funcionalismo, por exemplo, pertencem ao mesmo propósito retórico-eleitoreiro: acomodar-se na segurança da sintonia com aquilo que, por necessidade, interesse, tradição ou ignorância, o povo pede ou crê. Sempre foi assim e reconheço que meu protesto é pura utopia.

Apesar de tudo, juro que me lavaria a alma testemunhar um único vigariozinho da mais provinciana das paróquias ou um único pastorzinho da mais distante das periferias colocar o dedo na ferida e dizer sem papas na língua: “todo esse discurso dos políticos, que se declara comprometido com os preceitos do cristianismo, é a mais deslavada mentira!".

Quero crer que aquele que expulsou os vendilhões do templo daria razão a essa voz solitária.

Autor: Stalimir Vieira

Fonte: ouropretoonline.com

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