Brasil : Manejo sustentável de pirarucu implementado nos rios amazônicos salvou a espécie da extinção
Enviado por alexandre em 26/05/2023 10:29:50

O pirarucu (Arapaima gigas) é um dos maiores peixes de água doce do mundo


Apreciado na culinária por seu sabor e versatilidade gastronômica, o pirarucu (Arapaima gigas) é um dos maiores peixes de água doce do mundo. Nativo da  Amazônia, o peixe que atualmente chega nas cozinhas das casas e restaurantes de todo Brasil é fruto de um minucioso trabalho coletivo que envolve organização comunitária, proteção territorial, conservação da biodiversidade e geração de renda para comunidades indígenas e ribeirinhas.

O modelo de manejo de pirarucu começou a ser elaborado após a década de 1970, quando o declínio de atividades econômicas importantes fizeram com que a pesca da espécie virasse um meio de retorno financeiro rápido, ameaçando sua sobrevivência em razão da captura desenfreada.  A quantidade de pirarucus foi drasticamente reduzida e entrou para a lista da CITES – Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção.

Após algumas medidas de proteção da espécie terem sido implementadas sem obtenção de resultados significativos, a pesca do pirarucu chegou a ser proibida. Foi então que em 1999 a primeira iniciativa de manejo de base comunitária foi implementada pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, inicialmente na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá, no Amazonas.
Lagos de manejo na Terra Indígena Paumari, no Amazonas, em 2019. Foto: Marizilda Cruppe/Gosto da Amazônia

Foi através do manejo sustentável, desenvolvido por povos indígenas e populações tradicionais, envolvendo também organizações de base comunitária e de assessoria técnica, além de organizações governamentais e de cooperação internacional, que o 'gigante da Amazônia' se tornou abundante nos rios e lagos da Amazônia. A proteção do território para o manejo do pirarucu fez com que outras espécies como tambaqui, jacaré-açu, tartaruga, tracajá, peixe-boi também voltassem a crescer na região.

Desde então, o modelo de manejo comunitário vem sendo aprimorado e aplicado com êxito em diversas Unidades de Conservação (UCs), Terras Indígenas (TIs) e áreas de Acordo de Pesca, beneficiando a biodiversidade de dezenas de áreas de floresta da região e gerando renda para milhares de pessoas que integram os diversos elos da cadeia de valor do manejo. 

Como funciona o manejo sustentável de pirarucu  

O manejo sustentável do pirarucu reúne um conjunto de diretrizes para a conservação da biodiversidade e a preservação dos estoques de peixe. É somente com a implementação dessas diretrizes, restrita a áreas pertencentes a UCs, TIS e Acordos de Pesca, que a pesca do pirarucu é permitida.

Uma das atividades fundamentais é a proteção territorial, que se dá através de equipes que fazem a vigilância de rios e lagos de pesca, para coibir invasões, desmatamento e demais atividades ilegais.

A segunda etapa é a contagem dos pirarucus. Para desenvolver a metodologia, uma pesquisa aliou o conhecimento tradicional dos pescadores ao conhecimento científico, realizando vários testes, a fim de comprovar a habilidade dos pescadores em estimar os estoques de pirarucu por meio das contagens. Esse método se utiliza de uma peculiaridade desse peixe: a de aliar respiração aérea e branquial. De tempos em tempos, ele vem à superfície para respirar, o que permite o levantamento de quantos animais adultos e jovens há naquele lago.

Com a contagem realizada, uma solicitação de pesca é feita ao Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Conforme a contagem e o histórico da população do peixe na área, o órgão determina a cota permitida de captura, que é de no máximo 30% dos indivíduos adultos registrados. Os 70% restantes permanecem no local para assegurar a reprodução e o crescimento dos jovens.

Com a autorização do Ibama em mãos, vem a etapa da preparação e da pesca, que envolve minucioso planejamento e envolvimento massivo da comunidade. "Ninguém faz isso de forma individual, é um movimento comunitário sempre. Em média, cada ação de manejo envolve 15 famílias", ressalta Adevaldo Dias, presidente do Memorial Chico Mendes e assessor da Associação dos Produtores Rurais de Carauari (Asproc).

Por fim, são realizadas as etapas de beneficiamento e escoamento da produção, que envolvem uma logística trabalhosa, já que os lagos de pesca geralmente são distantes das cidades. 

O manejo promove a redução das desigualdades sociais, melhorando a qualidade de vida de povos indígenas e populações tradicionais. Foto: Ana Catarina/Gosto da Amazônia

As lições e resultados do manejo 

O manejo do pirarucu tem a capacidade de promover a conservação da natureza ao mesmo tempo que garante a manutenção dos povos que estão trabalhando de maneira sustentável na floresta e gerando renda. 

"É reconhecido internacionalmente como um modelo econômico de conservação que consegue alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável de uma maneira ímpar", 

afirma Pedro Constantino, do Serviço Florestal dos Estados Unidos.

O manejo de pirarucu é um exemplo de como os conhecimentos tradicionais de práticas sustentáveis e convivência harmônica com a floresta podem gerar renda, fortalecendo a organização social e sustentabilidade das comunidades e, ainda, promovendo a conservação ambiental.

O pirarucu, que até pouco tempo estava em risco de extinção, não apenas voltou a habitar os rios amazônicos, como também aumentou sua população em 99% somente entre 2012 e 2016 e cresce em média 19% a cada ano, segundo diagnóstico feito coletivamente a partir do envolvimento de manejadores, pesquisadores, órgãos do governo, associações comunitárias e membros da sociedade civil, em 31 áreas protegidas e de acordos de pesca do Amazonas.

Junto com a preservação do pirarucu e a conservação da biodiversidade, o manejo traz outros diversos benefícios. Um deles é o aumento da renda e o fortalecimento da organização social das comunidades, o que promove a redução das desigualdades sociais, aumentando a segurança alimentar e promovendo uma significativa melhoria na qualidade de vida de povos indígenas e populações tradicionais, além de proporcionar maior participação feminina na atividade pesqueira.

Gracieme Feitosa, monitora de manejo da RDS Municipal Peixe-Boi, explica a importância da atividade para a sua comunidade. 

"A minha comunidade é muito carente, meu povo necessita muito. Todos lutamos muito para manter o manejo. No dia que o dinheiro da venda chegou nas minhas mãos para eu repartir com o povo da minha comunidade, eu me emocionei". 

diz.

Esses aspectos tornam as comunidades preparadas para fazer frente aos grandes desafios de gestão dos seus territórios, principalmente aqueles relacionados a atividades ilegais de exploração de recursos naturais, como a pesca ilegal, o garimpo e a exploração madeireira, além do recente aumento do narcotráfico na região.

O manejo comunitário do pirarucu é, sem dúvida, um importante instrumento de resolução de conflitos locais relacionados ao meio ambiente e território.

A promoção do manejo sustentável do pirarucu no Amazonas é articulada pelo Coletivo do Pirarucu, iniciativa criada em 2018, do qual fazem parte diversas associações de base comunitária, organizações governamentais e não governamentais, além de órgãos de cooperação internacional, envolvendo mais de 3 mil manejadores e manejadoras.

"O Coletivo surgiu de forma espontânea, como um importante espaço de conexão de iniciativas e discussão de estratégias de melhoria da cadeia produtiva como um todo"

conclui Leonardo Pereira Kurihara, coordenador de projetos do Programa Amazonas, da Operação Amazônia Nativa (OPAN).

Conteúdo publicado originalmente por Coletivo do PirarucuVeja o artigo completo AQUI*



Conheça curiosidades sobre nove peixes da Amazônia

A Amazônia é rica em recursos hídricos. Por esse motivo, o consumo de peixes é parte essencial da cultura alimentar e economica da região. Existem muitas espécies de peixes que servem de sustento para os amazônidas, algumas são exclusivas de cada Estado. O Portal Amazônia preparou uma lista com as principais espécies de peixes em cada Estado do Amazonas. Confira:

Jaú, o peixe 'maceta' do Acre

Maceta. Não existe outra palavra para definir o Jaú. No Acre, existem muitos peixes de água doce, porém, nenhum se destaca como o Jaú. O peixe pode alcançar até 1,5 metro de comprimento. Inclusive, um pescador conseguiu capturar um Jaú de 85 quilos e mais de 1,50 metro, no Rio Môa, em Mâncio Lima.

Confira mais informações sobre o Jaú

Jaú. Foto: Reprodução/CPT

Trairão, o peixe voraz do Amapá 

Você acha que um peixe pode ser violento? O trairão, por exemplo, é o terceiro peixe mais consumido do Amapá, porém, capturá-lo requer paciência. O peixe é conhecido por seu temperamento agressivo e voraz, além de ser uma espécie carnívora.

Outro fato curioso sobre a espécie é que no Amapá, a Dona Cira, uma cozinheira da comunidade do Calafate,  desenvolveu há muitos anos a técnica de tirar as espinhas do Trairão. O peixe se tornou um dos mais apreciado no Estado sendo utilizado em diversas receitas. 

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Trairão. Foto: Reprodução/CPT

Pirarucu, o gigante dos rios 

O pirarucu é um peixe muito consumido no Amazonas. Porém, o peixe chegou a ser ameaçado de extinção. Foi então que, em 1999, um projeto do Instituto Mamirauá propôs um conjunto de diretrizes para a conservação da espécie.

Desde que foi implementado, o pirarucu voltou a habitar grande parte das várzeas amazônicas. Os resultados impressionaram, pois só no médio Juruá, de 2011, ano da primeira experiência, até 2021, a população monitorada da espécie cresceu mais de 600%. A pesca do peixe chegou a superar 150 toneladas.

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Pirarucu. Foto: Reprodução/Arapaima

Dourada, o peixe viajante da Amazônia 

Você curte viajar? A dourada sim. O peixe é conhecido por ter um ciclo de vida migratório de 11.600 quilômetros, ou seja, um recorde mundial de migração em água doce. Já no Pará, que é conhecido como o segundo Estado que mais consume peixe no Brasil, a dourada é amplamente apreciada pelo seu sabor único.

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Dourada. Foto: Reprodução/Prefeitura de Belém

Tambacu, o peixe híbrido 

Você sabia que já existe cruzamento entre espécies? O Tambacu é um peixe híbrido, obtido a partir do cruzamento do Tambaqui com o Pacu e tem os mesmos hábitos do Tambaqui. Por ser um híbrido, o Tambacu não se reproduz e sua engorda é feita somente em cativeiro.

As características gerais como formato de corpo arredondado, porte e cor acinzentada são mais próximas às do Tambaqui (fêmea) que lhe deu origem. Peixe resistente ao inverno, que possui escamas finas e lisas, membrana das guelras pequenas e chega pesar mais de 40 kg.

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Tambacu. Foto: Reprodução/Embrapa

Cachara, o peixe usurpador 

Paulina e Paola? Que nada. Na Amazônia, a moda da vez é a briga entre o cachara e o pintado. O motivo? Muitas pessoas confundem os dois peixes, mas é muito simples diferenciá-los,. O corpo do cachara, por exemplo, possui listras. Ouro fator que pode diferenciar os peixes é o comportamento. Diferente dos pintados, os cacharas mais jovens costumam ser mais inquietos.

Confira mais informações sobre o cachara

Chacara. Foto: Reprodução/CPT

Tambaqui, o peixe que elevou a piscicultura de Rondônia 

O tambaqui é a segunda espécie mais produzida no Brasil. Entre as nativas, é a principal. O Anuário Brasileiro da Piscicultura, publicação editada pela Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR), traz as espécies nativas como um dado agrupado. Os números de 2022 indicam que, das 860 mil toneladas produzidas no País, 267 mil toneladas foram de peixes nativos, sendo a maioria tambaqui.

O tambaqui é criado majoritariamente em fazendas na região Norte do país. O estado de Rondônia é o maior produtor, com 57,2 mil toneladas em 2022, seguido de Maranhão, com 39,1 mil toneladas, Mato Grosso, com 38 mil toneladas, Pará (24 mil ton) e Amazonas (21,3 mil ton).

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Tambaqui. Foto: Reprodução/CPT

Matrinxã, o queridinho da pesca esportiva 

Pesca esportiva é a pescaria feita como atividade de lazer. Nessa modalidade, o objetivo não é comer ou vender o peixe fisgado, ou seja, o animal é devolvido à água. De acordo com o site Pesca Gerais, o peixe matrinxã é muito popular na pesca esportiva já que apresenta um comportamento agressivo e deixa a pescaria ainda mais emocionante.

A matrinxã ataca a sua presa com voracidade e grandes saltos. 

Confira mais informações sobre a matrinxã

Matrinxã. Foto: Reprodução/Instituto Brasil a Gosto

Tucunaré, o peixe colorido

Cerca de 15 espécies de tucunaré são conhecidas na Amazônia. A diversidade de cores e padrões de listras é grande: do vermelho ao esverdeado, do amarelo ao azulado, com faixas e pintas de variados padrões.

Um dos mais conhecidos é o tucunaré-azul de cinco a seis barras transversais de coloração cinza. As nadadeiras dessa espécie são azuladas (o que dá origem ao nome).

Confira mais informações sobre o tucunaré

Tucunaré. Foto: Reprodução/CPT

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