Estudo sinaliza associação entre inclinação política dos adolescentes e depressão
Uma controversa pesquisa, publicada no fim do ano passado, produziu enorme debate nos Estados Unidos acerca do reflexo da política na saúde mental. Publicado na revista SSM Mental Health, o estudo sinaliza uma associação curiosa entre a inclinação política dos adolescentes e uma escala que mede a depressão.
Estudantes do último ano do ensino médio (17 e 18 anos) que se declararam “liberais”, ou seja, de esquerda, alcançaram pontuação média consideravelmente maior na escala que mede a depressão do que aqueles que se reconhecem como “conservadores”.
O assunto tomou os debates públicos nos EUA e abriu duas correntes de interpretação. A primeira acredita que o resultado se dê em razão da sensibilidade social dos jovens de esquerda, que acabam adoecendo pelo impacto da dor oriunda das injustiças e imperfeições do mundo e do sinuoso comportamento humano. Esta é, inclusive, a tese defendida pelos próprios autores do artigo.
– Adolescentes liberais (de esquerda) podem ter se sentido alienados num clima político conservador, de modo que sua saúde mental sofreu mais em comparação com a de seus pares conservadores, cujas visões hegemônicas floresciam – diz o texto publicado na revista norte-americana.
A colunista do jornal The New York Times, Michelle Goldberg, entendeu que a hipótese sustentada pelos autores não condizia com os dados apresentados. O maior índice de depressão entre adolescentes de esquerda não foi afetado pela alternância de governo e suas distintas ideologias, permanecendo mais elevado tanto na gestão do esquerdista Barack Obama (2013-2016), como no governo conservador de Donald Trump (a partir de 2017).
O argumento não se justifica porque os conservadores representam para os progressistas o mesmo que os progressistas representam para os conservadores. A visão de mundo antagônica geraria em ambos os grupos os mesmos danos, já que a concepção de mal está diretamente associada ao pensamento divergente.
A segunda hipótese, trazida pelo psicólogo social Jonathan Haidt, compreende o adoecimento dos jovens de esquerda pela hipersensibilidade a que são convencionados através da construção de um discurso progressista que maximiza fenômenos irrelevantes e estimula reações desproporcionais a pequenas agressões. Para ele, essa política é disseminada, principalmente, pelas mídias sociais.
Haidt acredita que as meninas adoecem ainda mais porque são mais propensas a doses maiores deste veneno social. O psicólogo faz uma analogia dessa imersão aos enfrentamentos sociais com a terapia reversa. Enquanto na terapia se busca criar o distanciamento do problema e aprender a lidar com os traumas, nessa política é justamente o contrário. Há um esforço quase que sobrenatural para enxergar ofensas e torná-las violências inadmissíveis que carecem de instantânea reação e perene articulação ideológica repressiva.